Sobre as políticas monetárias e fiscais dos países centrais, por Diogo Costa

INCERTO PANORAMA – Quantitative easing é uma política que os bancos centrais dos EUA, da Inglaterra, do Japão e da Europa tem utilizado a partir de 2008, como resposta ao Crash de setembro daquele ano.

É um afrouxamento quantitativo, que nada mais é do que os bancos centrais comprando dívidas públicas e privadas. O Estado assume as mesmas liberando o setor privado para emprestar mais dinheiro e fazendo, em tese, a economia girar.

A utilização dessa fórmula é feita quando as políticas monetárias e fiscais chegam ao limite, e também para evitar que a deflação destrua de vez as economias dos países e regiões já citados.

Em matéria de política monetária não há muito mais o que os EUA, o Japão, a Inglaterra e a Europa possam fazer, pois as taxas de juros estão próximas de zero faz muito tempo. Vejamos:

-Taxa de juros EUA: 0,25%;
-Taxa de juros Inglaterra: 0,5%;
-Taxa de juros Japão: 0,1%;
-Taxa de juros Europa: 0,05%.

Ou seja, não há mais como a política monetária, baseada apenas nas taxas de juros, auxiliar na recuperação econômica quando essas taxas estão no piso desde o estouro do Crash de setembro de 2008.

Principalmente quando a inflação, irrisória, ameaça se tornar uma deflação. Fenômeno que aconteceu no ano passado na União Europeia.

Sobra então a política fiscal, com medidas anticíclicas que favoreçam o emprego e a renda das pessoas. Mas para fazer política anticíclica é preciso ter dinheiro em caixa e o que se vê nos países centrais são homéricos déficits públicos.

O limite para medidas anticíclicas, com déficits públicos tão grandes, é evidente. Uma hora o orçamento estoura, a dívida pública cresce e não há como manter ad eternum essas políticas.

Justamente quando as políticas monetárias e fiscais não conseguem dar conta de reanimar a economia é que aparece o quantitative easing entrando em cena.

Na verdade o quantitative easing está em cena pelo menos desde 2008. Isso só ratifica a tese de que o Crash daquele ano é a maior e pior crise econômica da história, desde o famoso Crash de outubro de 1929.

Nos EUA o quantitative easing teve 03 fases. Começou ainda no governo de George W. Bush, em novembro de 2008 (em dezembro a taxa de juros caiu para 0,25% ao ano, patamar que não mudou mais até agora).

A fase número 03 acabou em outubro do ano passado.

Os EUA gastaram mais de US$ 4 trilhões com o quantitative easing nos últimos 06 anos.

O Banco Central Europeu, por sua vez, começou o programa de quantitative easing neste mês de março de 2015. O montante do programa é colossal, de aproximadamente 1,1 trilhão de euros – mais de R$ 3,3 trilhões – até setembro do ano que vem (o programa poderá ser renovado, se necessário for).

O Japão vai continuar com o seu quantitative easing, que consumirá anualmente a ”bagatela” de US$ 750 bilhões.

Este é o cenário do mundo no pós Crash de 2008.

E é dentro deste turbilhão de quantitatives easings, de políticas monetária e fiscal no limite, de déficits públicos estrondosos e de guerra cambial, promovida em conjunto pelos países centrais, que Dilma Rousseff está tendo que se equilibrar.

Não é fácil e a superação dessa crise econômica mundial está ainda muito longe. Sorte que no caso brasileiro, diferente dos exemplos aqui verificados, a política monetária tem um imenso espaço para atuar.

O Banco Central norte-americano (FED) tem sinalizado com uma possível subida da taxa de juros neste ano. Taxa essa que está em 0,25% ao ano desde o fim do governo republicano de Bush (dezembro de 2008).

Uma alta nessa taxa de juros, mesmo que pequena, teria como impacto uma desvalorização mais forte do real. Isso traria pressões inflacionárias de curto prazo mas seria muito bom para a indústria brasileira, no médio e no longo prazo.

Redação

Redação

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  • ... E os cínicos e seus

    ... E os cínicos e seus teleguiados ignorando a guerra cambial que está em curso... Uns por pura cara de pau; outros por ideologia rasteira; e a maioria por pura desinformação.

  • Tá vendo

    setá que é tão difícil assim um a pessoa do Governo Federal ou até melhor , do Ministério da Fazenda  , ir para a tv ou jornal e explicar de uma maneira tão didática esse problema?

    É por isso que o pessoal tem razão em criticar a política de informação do Governo , e tenho quase certeza que muito dessa crise se deve por esse défict de informação. 

  • A estratégia é estabilidade do preço de ativos...

    Os QEs do mundo desenvolvido tem como principal objetivo dar sustentação a preços de ativos financeiros. Havia muito papel podre na mão de bancos com filiais fora da jurisdição dos países que foram absorvidos pelos matrizes dos bancos em seus países. Essa era a base neoliberal: a garantia do balanço de gigantes financeiros para operações fora da jurisdição dos países de origem das matrizes. Com isso se evitava com que muitos bilionários pagassem impostos altos, houvesse o 'perigo' de congelamento de assets financeiros de muitos ditadores e corruptos, e houvesse liquides permanente para que novos ativos financeiros fossem criados.

    A necessidade de criação de engenharia financeira que espalhou papéis podres para o mundo tinha sua operação majoritária no mercado de Euro-dólar, onde muitas instituições e filiais fora dos EUA prometiam como garantia papéis do tesouro em posse de suas matrizes dentro da jurisdição de seus soberanos. O maior exemplo da falência dessa estrutura fora a AIG, que teve de reconhecer perdar bilionárias que a quebraram nos EUA por causa da engenharia financiera realizada em Londres. Essa estrutura institucional ocorreu por dois motivos econômicos: a falta de balanço no comércio mundial, com os EUA e países dos sul da europa + Inglaterra absorvendo toda a produção do mundo em desenvolvimento + Alemanha + Japão. O segundo motivo é o crescimento da desigualdade nesse mesmo perído, onde então o capital em excesso dos países exportadores voltavam a estes países consumidores em forma de crédito aumentando a dívida e o preço do setor privado. O resultado fora a produção da maioir e mais dispersa bolha financeira do mundo. Assim, o maior problema para os países fora depender da renda da do consumo baseado numa bolha e ser guiado pelo setor financeiro de forma desenfreada. O começo da crise dera em Paris, pelo BNParibas, que não aceitou redimir o déposito de clientes atrelados a valor de papéis imobiliarios americanos. Ou seja, ali começava a crise de instituições que não tinham acesso ao dólar do FED mas deram garantias ligadas a este.

    Para substituir esses papéis podres do setor financeiro e financiar o déficit do estado, o FED, BofE and o BCJ passaram a criar reserva para bancos expostos e comprar estes papéis podres e ao mesmo tempo, financiar o déficit dos governos e baixar taxas de juros de crédito de curto a longo prazo. O maior problema se deus na Eurozona, pois muitos países não possuiam um BC que pudesse alimentar o seu déficit, o que fora substituido por bancos comerciais privados já carregados com ativos podres. Para piorar fora a paralisia do setor do target 2 (com toda a reversão de ativos se voltando para a Alemanha), e a recusa dos países desenvolvidos ao norte em financiar o déficit comercial e de capital dos países do sul. Enquanto isso, os outros países que fizeram QE se recuperavam da crise de crédito, mas com esta estrutura causando outors problemas:

    1. O crescimento da desiguldade, pois o preço de ativos se recuperou, mas não o salário das pessoas. Para piorar, houve um desenvolvimento tecnológico que afetou o nível de empregabilidade de muitas pessoas que ficaram desenpregadas por um gande tempo. 

    2. O mundo ainda continua com problemas em sua balança comercail, agora tendo de segurar uma Europa em crise e que será dividida com todos devido ao QE europeu que começara somente este ano. Também ficou escancarada a desvantagem e o controle monetária das economias com uma moeda conversivel, pois quanto mais o mundo de endivida, mais os acumuladores de capital querem estocar suas riquezas nestas moedas. Por isso, os grande capitalistas querem mesmo é que se faça QE para recuperar o preço dos seus ativos.

    3. A falta de reformas e o cresciemento da desigualdade aumentou as deturpações do sistema de poder, mas desta vez com a população muito mais desgastada pois ela ficou com o preço e a dívida da crise nas contas do estado. Assim, com uma demografia inversa e contas a mais para pagar, estados deixaram de poder ajudar o desenvolvimento de muitos de seu cidadãos (maior exemplo: no Reino Unido em 2003 se custava £1300 por ano para estudar; com Blair se passou para £3000; e depois da crise £9000). 

    4. O crescimento econômico da financeirização da época neoliberal desde os anos 80 se esgotou, pois the marginal utility por cada dólar de crédito se tornara negativo. Ou seja: o fim de uma era já chegou, mas o instabilidade do poder político ainda não reestruturou a nova realidade econômica (por isso acho que muitos apostam todas as suas fichas no novo ciclo de desenvolvimento economico chinês e desenvolvimento da Índia). 

    5. Muitas empresas privadas na Asia de na América Latina se empaturram em empréstimos em dólar. Mas creio que de novo o preço de ativos crescera ainda mais em descontinuidade com o desenvolvimento economico das populações por estes países sustentarem um nível de desigualdade maior e mais corrupto do que o mundo desenvolvido. Sobre isso, ver: 

    http://www.telegraph.co.uk/finance/comment/ambroseevans_pritchard/11465481/Global-finance-faces-9-trillion-stress-test-as-dollar-soars.html

    Aqui se fala que a dívida de empresas de países em desenvolvimento saiu de U$2 trilhões para mais de U$9 trilhões. 

    6. Eu tenho de rir muito do povo que fala que o Brasil vive numa ditadura comunista. O governo do PT (desde Lula) permitiu que dólar caísse de uma forma acentua, destruísse nossa indústria, permitisse que nossas grandes empresas e nossos sonegadores fizessem engenharia financeira em paraísos fiscais (usando a mesma estrutura do Euro-dólar), alimentasse o déficit em balança de capitais com muitos gastos de consumo no exterior (daí a crise existencial da classe média e a gritaria da desvalorização do dólar), segurasse tudo isso numa economia com suas atividades cada vez mais dependentes dos gastos e endividamentos do estado e detruição do balanço financeiro da Petrobras (apoio integramente a partilha do pré-sal, endividamento para investimento, mas não a falta de reajuste dos preços). Também há o problema inflacionário causado por duas vias: aumento de swaps em reais atralados ao dólar; e crescimento da Selic para dar suporte a nossa moeda para não nos jogar no inferno, mas piorando consideravelmente as condições de vida da população. 

    Por tudo isso que ocorrera desde o inico do QE andgloa maricano, as únicas coisas que pediria para o governo na qual eu votei: (1) quais as empresas brasileira que pegaram mais de U$400 bilhões em empréstimo; e (2) qual o efeito inflacionario dos swaps. (3) qual o caminho a seguir neste mundo cheio de QE? 

  • Programa de estímulo ao aumento da produtividade...

    Nem sei se existe isto no país.

    Só um exemplo, os doutores em economia que façam as devidas correções nos valores...

    80% da capacidade instalada - desconto de 10% nos tributos.

    90% da capacidade instalada - desconto de 20% nos tributos.

    99% da capacidade instalada - desconto de 30% nos tributos.

     

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