– Eu sou para o inferno, poderia fazer sexo com esse Deus? Ah! Trocou-me pelo falo atraente do Verlaine. Sujos! Posso com os dois? Ela tenta atrair demais fieis por essa trilha, por esse resvalado barranco… Mas estão perdidos, buscam ajuda humanitária, são tão humildes, confessam seus prazeres e vomitam as verdades pelas gretinhas da caixa sufocante. – Oh, padre, existem milhões de soropositivos espalhados pelo mundo e o Senhor prega o amor desprotegido? O diabo anda soprando aos seus ouvidos à madrugada? O Senhor vive da masturbação imaginável? Deus lhe dá uma mãozinha para viver assim? Será que também teria compaixão de mim? Era esse o cenário perfeito para o escândalo matrimonial e a perversão, ela aproxima-se com passos quentes. – Vamos desfazer a falsidade dessa cama conjugal cheia de nãos, nãos, nãos e mais cortes de desejos e mais mentiras para sustentar esse corpo ao lado, parado, imóvel para a eterna devoção a um único corpo? E eis que ela surge com voz suave, endiabrada, acaricia doce a pele enclausurada e, por fim, a traição e a divina perversão. Traidores! Ela grita e reza… – Ofensiva, sim, a ofensa é gratuita? Quem sabe, apenas tive o útero arrancado após uma dita cirurgia. Obrigada, lhes digo e bendigo pelo amor de Deus, deixem livres as mulheres de Deus. Deus, Deus, Deus, Senhor, Senhor, Senhor, me escuta? Escuta-me? Respira afobada… – Arrancaram meu útero, Senhor, Deus! Apenas evitei um mal maior, sou pobre, não de espírito, mas pobre por não ter conseguido uma vida digna para esse outro ser. Vivo em um barraco, o Senhor vai me dar um dia de flores? Quando? Amanhã? Eu rezo, rezo, rezo, rezo e imploro de pé junto, Senhor, sou uma boa alma, mas não escolhi nascer nesse buraco. Tira-me daqui, Senhor, Deus, Senhor todo poderoso, criador do céu e da terra… Afasta-se dos santos… – Vou para bem longe, prometo rezar, seguirei o terço, mas o terço de Deus não me segue, o terço me deixa só, isolada, triste, nesse barraco de teto caído, quase caído, despencará amanhã? Não em minha cabeça, vou embora e vou levar essa alma pesada, sem útero, vale dizer, de uma mulher improdutiva. Volta a estar de joelhos… – Oh! Senhor, Deus, ainda me quer assim? Sem útero, sem filho, ele passou sangrando pelas minhas pernas e caiu no abismo do nunca, desse nunca que jamais terá um teto que cairá sobre seu corpo. Agora, de pé, altiva… – E o teto desabará, alguém estará por debaixo dessa falsa proteção? Sim, sempre terá aí um corpo para sofrer por essas intempéries de nós, de todos nós que não cumprimos o que diz nosso Senhor, nosso Deus. Ele é tão exigente, por não escutá-lo perdi meu útero, pecadora, abominável ser que mata a si e a outro. Vai cair, vai desabar. Já! Adeus.