Temer quer reduzir entrada de venezuelanos em Roraima

Emedebista diz que Brasil respeita soberania de outros Estados, mas que considera “soberano um país que respeita e cuida de seu povo”
Colagem de fotos de Antônio Cruz e José Cruz/Agência Brasil
Jornal GGN – Diariamente, cerca de 700 homens, mulheres e crianças da Venezuela atravessam a fronteira com o Brasil, no estado de Roraima, fugindo da crise econômica decorrente da forte pressão financeira internacional sobre aquele país, como explicou o economista espanhol, Alfredo Serrano, em entrevista ao Brasil de Fato. Segundo ele, que também é diretor do Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica (Celag), a economia venezuelana sofre uma crise estrutural, ligada à manipulação cambial e aos bloqueios internacionais.
O quadro se tornou tão grave que 1kg de carne está custando o mesmo que um salário mínimo no país. Para tentar reverter esse cenário, o governo Maduro anunciou, há cerca de uma semana, um plano de recuperação que inclui aumento do salário, taxação de grandes fortunas e do setor bancário, internacionalização do preço do combustível e reconversão monetária com o corte de cinco zeros do bolívar, moeda local.
Enquanto o mundo, e os próprios venezuelanos, aguardam se as medidas irão surtir efeitos positivos na economia, o presidente Michel Temer, responsável hoje pelo país mais rico da América Latina e que, por fazer parte de tratados internacionais de direitos humanos, deveria acolher refugiados, declarou em entrevista à Rádio Jornal, de Pernambuco, na manhã desta quarta-feira (29) que estuda reduzir o número de entrada de pessoas na fronteira com o Brasil.
“[Hoje] Entram 700 pessoas por dia. Pensamos em colocar senha para entrar 100, 200 pessoas por dia e organizar essas entradas”, destacou. Atualmente, a população de venezuelanos corresponde a 7,5% da população de Boa Vista, capital de Roraima. Ontem, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann anunciou que o governo irá acionar a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no estado. Isso significa autorizar o uso das Força Armadas na região. Também nesta terça-feira, Temer publicou um decreto onde destacou que “fica autorizado o emprego de Forças Armadas no período de 29 de agosto a 12 de setembro de 2018”, na fronteira norte e leste e rodovias federais.
Ainda, na entrevista à Rádio Jornal, o emedebista disse que o Brasil respeita a soberania dos demais países mas, em seguida, quis alfinetar o governo vizinho afirmando que considera “soberano um país que respeita e cuida de seu povo”.
O fato é que o governo brasileiro precisa realizar medidas que vão além da segurança ostensiva e sua presença na região demorou muito para acontecer. A tensão entre brasileiros e venezuelanos vêm aumentando em Roraima, em parte pela profusão de sentimentos xenófobos alastrados com a ajuda das redes sociais, indicando que a crise de serviços públicos em hospitais, por exemplo, é culpa da massa de imigrantes.
Recentemente, acampamentos onde viviam famílias de venezuelanos na cidade de Pacaraima (RR) foram queimados por brasileiros. Ninguém ficou ferido. O caso de um comerciante brasileiro chamado Raimundo Nonato de Oliveira, teria motivado os ataques. Ele relatou à Polícia Militar que foi assaltado e agredido por venezuelanos. Ainda ferido, precisou receber atendimento médico, mas por falta de ambulância foi levado ao hospital por um carro de passeio.
A história se alastrou feito pólvora pela cidade, motivando uma onda de ataques organizados de moradores de Pacaraima contra acampamentos de venezuelanos. A BR-174, que liga Boa Vista à cidade, ficou bloqueada por cinco horas com pneus queimados. Segundo a polícia, ninguém se feriu gravemente e nenhuma pessoa foi detida, mas o Exército afuirma que o levante fez 1,2 mil venezuelanos cruzarem de volta a fronteira do país. Há também relatos de pessoas que fugiram para mata e montanhas nos arredores do município.
Redação

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