Crônica

Na pressão, se pediu aguente – Final, por Rui Daher

Na pressão, se pediu aguente – Final

por Rui Daher

Direto e reto, mas em círculos, como é a loucura deste colunista menor, centímetros perdidos com o avançar da idade e, recentemente, em regressão aritmética ou geométrica, que não meço (vê aí, amigo Dr. Rogério Tuma e adorada equipe de fisioterapeutas), por acidente medular ocorrido há dois anos.

Rola no Brasil, assim como em outros países capitalistas, uma eterna e pouco equilibrada peleja entre taxas de juros e inflação. Nas demais economias o equilíbrio é determinado de forma técnica, aqui, como pontuou Luís Nassif, de forma pavloviana. Nenhuma novidade aí. Tem sido assim, há pelo menos duas décadas. O país vem num crescente processo de desindustrialização, com efeitos negativos nos demais setores produtivos, comerciais e de serviços, exceção aos apliques financistas.

Inexistente alguma exacerbação de consumo, pelo contrário, controlar a inflação através da elevação dos juros nada tem a ver com perspectivas, muito menos com o desempenho da economia no momento. Sendo assim, não há qualquer fundamento técnico para estarmos vivendo a maior taxa de juros do mundo, ainda com sublinhas perversas e ameaçadoras de futuras altas.

Se esse olhar safado já persistia há bom tempo, parando o país e a possibilidade de investimento nas necessidades sociais, simplesmente, por influência do tripé sistema financeiro (bancos, principalmente), mídia corporativa e economistas do “mercado”.

Como, então, se protegem os poucos setores ainda líquidos, capitalizados, e com marcas fortes, capazes de lucros operacionais, ainda que decrescentes? Simples, compensam a perda de escala recompondo as margens através de aumentos de preços em toda a cadeia (inflação), ou fazendo a Tesouraria aplicar os saldos de caixa, como corretora de valores fosse.

E o que ouço em minha pequena empresa de insumos agrícolas? “O mercado está parado … os nossos concorrentes também não estão vendendo … é o novo governo … já cortamos todos os possíveis custos fixos … será que teremos que cortar pessoal da produção”?

Nada a estranhar. São poucas as empresas que não sofreram com os anos de pandemia e a desaceleração das economias hegemônicas e não precisaram recorrer ao financiamento do PRONAMPE (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte).

Uma empresa que entrou no programa em 2020, com a Selic a 2,25% ao ano mais juros de 1,25% ao ano, teria um custo total de 3,5% ao ano. Hoje, levando em conta somente a Selic (13,75%), por certo, corre grave risco de se tornar inadimplente.      

Poderiam ponderar aqueles ingênuos eleitores de Lula: “uai, ele não prometeu baixar as taxas de juros para melhorar nossa renda e os empregos”?

Sim, caro Geraldino, os Arquibaldos já tinham preparado a cama para continuarem fazendo parte do 1% da população e mantendo um terço de nós na extrema pobreza.

Sabem como? Deixando o Banco Central independente, vale dizer, nas mãos dos vampiros monetários, sendo Drácula, o doutor (?) Roberto Campos Neto.

De que lado estarão os agropecuaristas do Brasil, facilitador de suas vidas com condições climáticas, que eles tanto fazem para destruí-las.       

Hoje em dia, na Federação de Corporações, três meses de gestão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, uma pústula pavloviana (obrigado, Nassif), terra arrasada por seu antecessor, o Regente Insano Primeiro, Jair Bolsonaro, de forma recorrente discute-se economia, exclusivamente, olhando para o topo da pirâmide.

Desistam. Sempre seremos um país rico para poucos.

Aproveita quem puder.

Rui Daher – administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para dicasdepauta@jornalggn.com.br. A publicação do artigo dependerá de aprovação da redação GGN.

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

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  • Tenho para mim que a escravidão no Brasil não foi abolida - veja-se o custo de um escravo e o salário mínimo, a descarada perseguição a pretos em várias situações, etc - e, por consequência, os sinhozinhos ainda mandam no país.Escroques - brancos e ricos - usam e abusam dos golpes e nada lhes acontece. O vendedor de xarope milagroso - o que serve para todos os males - do BC está "nem aí" para o país. Para os "comentaristas econômicos" da mídia, rede globo à frente, gastos proibidos só os sociais, as transferências criminosas via SELIC para o 0,1 %, em que pese majoritárias no orçamento federal, não é gastança.

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