O que será que será?
por Homero Fonseca
Reproduzi no Facebook, do blogue Mateus Brasileiro Notícias, a postagem dessa foto aí de cima, incluindo o comentário: “Seria até pecado passar sem curtir” (sem dúvida referência à cena comovente de uma mãe extremosa protegendo do sol seu filhote goleiro).
Examinando melhor a imagem, me veio a dúvida: e se não for exatamente isso? Os signos visuais apontam noutra direção. Ela é uma mulher pobre: a pele escura, obesa, vestida muito modestamente, sem dúvida moradora da periferia. O garotinho, assim como o outro de camisa azul, mais ao fundo, está com uniforme completo de futebolista: camisa, calção, calçado. Com certeza, menino de classe média (guris de favela jogam descalços, um time sem camisa e outro com camisas velhas desbotadas).
Então, não parecem ser mãe e filho. As mães pobres, pretas, periféricas não se dão ao luxo de acompanhar as peladas dos filhos, em plena luz do dia (horário de expediente). Estão, lavando roupa, fazendo faxina, cozinhando ou arrumando a casa dos outros. Talvez a da foto seja uma empregada doméstica que tem a obrigação de proteger do sol… o filho da patroa. Um caso de superproteção terceirizada.
Se essa interpretação estiver correta, ao invés de comover, a foto deveria causar indignação, no mínimo desconforto. Puro resquício da escravidão (perceba o que há de comum com a imagem aí de baixo).
Homero Fonseca é pernambucano, escritor e jornalista, formado pela Universidade Católica de Pernambuco. Foi editor da revista Continente Multicultural, diretor de redação da Folha de Pernambuco, editor chefe do Diario de Pernambuco e repórter do Jornal do Commercio. Foi também professor de Teoria da Comunicação e recebeu menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Atualmente, dedica-se à literatura e mantém um blog em que aborda assuntos culturais.
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