Onde estão os novos Dom e Ravel para exaltar o Brasil Novo?, por Carlos Motta

Onde estão os novos Dom e Ravel para exaltar o Brasil Novo?

por Carlos Motta

Da mesma maneira que muitos artistas lutaram com as armas que tinham contra a ditadura militar, outros fizeram de conta que tudo estava normal no Brasil, e alguns poucos se colocaram ostensivamente ao lado do regime.

O caso mais emblemático é o da dupla Dom e Ravel, que compôs e cantou a ufanista marchinha “Eu Te Amo, Meu Brasil”, que tocava sem parar em todas as emissoras de rádio e televisão nos anos 70 do século passado.

Alguns de seus versos são o suprassumo da patriotada mais canalha: “Mulher que nasce aqui/Tem muito mais amor…/O céu do meu Brasil tem mais estrelas/O sol do meu país mais esplendor…/Eu vou ficar aqui/Porque existe amor…/Ninguém segura a juventude do Brasil…”

A música, que se tornou o hino da ditadura, foi também gravada pelo conjunto de iê-iê-iê Os Incríveis, que oportunisticamente embarcou na onda de exaltação do Brasil governado pelos militares e incorporou ao seu repertório outras canções do gênero, como “Pra Frente Brasil” (“De repente é aquela corrente pra frente/ parece que todo o Brasil deu a mão/todos ligados na mesma emoção/tudo é um só coração”), de Miguel Gustavo, marchinha feita para a seleção brasileira de futebol que se consagrou tricampeão mundial no México, em 1970. Miguel Gustavo, porém, merece ser perdoado, pois é autor de deliciosos sambas de breque imortalizados por Moreira da Silva. 

A febre nacionalista de Os Incríveis foi tão forte que eles chegaram a gravar o Hino da Independência e o Hino Nacional!

A dupla Dom e Ravel, porém, era imbatível quando se tratava de defender as “conquistas” do regime militar. Estão aí, para quem quiser ouvir – é só procurar na internet – pérolas como “Você Também é Responsável”, o hino do Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização), “Obrigado ao Homem do Campo”, “Êxodo Rural”, “Só o Amor Constrói”…

É estranho que hoje, neste Brasil Novo que em muito se assemelha ao do “ame-o ou deixe-o”, ainda não tenha surgido sequer um Dom e Ravel, alguém que cante as maravilhas da nova legislação trabalhista, ou da reforma da previdência, ou da entrega do pré-sal às petroleiras estrangeiras.

Uma pena que Eustáquio Gomes de Farias, o Dom, tenha falecido no ano 2000, e seu irmão Eduardo Gomes de Faria, o Ravel, tenha deixado esta vida em 2011 – eles teriam muito a exaltar neste país que se lava a jato.

Redação

Redação

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  • O Temer e sua gangue
    O Temer e sua gangue golpistas são tão safados, que nem o mais empolgado e manipulado coxinha consegue dizer:
    Eu te amo, meu Brasil , eu te amo.
    Meu coração é verde, amarelo, branco azul anil ...

  • a cada geração o seu prêmio 

    a cada geração o seu prêmio  ..depois de sobrevivermos a tantos ritmos exclusivistas, que sufocavam alternativas, como com os pagodes, sertanejos, achés,raps e funks  ..agora parece que pra competir com o mal gosto das "motinha" e do "tapinha não dói", surge uma nova estrela

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  • O homem do báu era o mais

    O homem do báu era o mais puxa-saco, lembram catavento e da semana do presidente? A rede golpe não ficava atrás, com o amoral nato, ou seja, puxa-sacos do regime sempre houve, como agora, revistas premiando o golpisto, outra emissora ressuscitou a malfadada semana do presidente, mas é tudo $$$$incero.......

  • Carlos!

    Em entrevistas do Ravel esta pergunta sobre as músicas serem incorporadas como "hinos da Ditadura Militar" ele diz que não se precisou autorização do autor/autores das músicas para o Governo Militar utilizá-las como hinos da Ditadura em exaltação ao Brasil. 

    Na Ditadura não teve sequer direitos autorais pagos, só imposição e se você questionar já sabe o que acontece.

    Acredito ser justo ponderar este fato.

    Dom e Ravel não tiveram como se desvencilhar da imagem de "aliados da Ditadura", utilizaram suas canções sem pedir licença e ficaram marcados por isto. 

    Abraço,

    Alexandre!

     

  • A geração nascida na ditadura

    Comanda a nação; educados e treinados por seus pais, ocupam lugares importantes no tôpo da hierarquia das instituições que governam a grande colônia tupiniquim. Triste realidade, ainda vivemos a maldita ditadura.

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