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Os altos e baixos na carreira do septuagenario De Niro

Sugestão de anarquista sério

O Globo

Robert De Niro comemora 70 anos com carreira de altos e baixos

Ator coleciona personagens memoráveis, mas nas duas últimas décadas trabalhou em filmes considerados medíocres

EL PAÍS

MADRI — Durante muitos anos, ver o nome de Robert De Niro no elenco de um filme significava um ímã irresistível e amortizável para comprar o ingresso. Não só pelo magnetismo, o poder expressivo, a complexidade e o talento que exalavam desse ator incomum, mas também pela sua perspicácia ou sorte para encarnar personagens memoráveis no cinema americano da década de 1960, uma época cinematográfica em estado de graça, povoada por diretores que ofereciam o melhor de si.

De Niro – que completa 70 anos neste sábado – formou, em dez anos, uma galeria de personagens destinados a durar na retina e no ouvido do espectador. Em “O poderoso chefão 2”, entrou na estilizada pele e no temido cérebro do jovem Vito Corleone, esse homem sensato e implacável, ousado e pragmático, vingativo e negociador, marido e pai exemplar.

Dois anos mais tarde, em “Taxi driver”, se tornou Travis Bickle, um cidadão enlouquecido pela solidão e rejeição sentimental que finge se purificar montando um inferno de sangue em torno de uma prostituta adolescente.

Depois, viajou à Itália para interpretar um hesitante suserano durante a era Mussolini no poético e grandioso “1900”. Foi o produtor genial e homem devastado que Fitzgerald criou no romance “O último magnata”. Tentou salvar seu amigo autodestrutivo e se manter são depois de viver o horror da guerra no belo “O franco atirador”. Converteu-se por dentro e por fora no compulsivo, ciumento, paranoico e trágico boxeador Jake LaMotta em “Touro indomável”. Também conquistou autenticidade e sentimento com a admirável sobriedade gestual do homem ordinário que acredita ter estabilizado sua existência familiar até se apaixonar por uma mulher que também parece ter uma vida comprometida e feliz no emocionante “Amor à primeira vista”. E foi um bandido velho e comovente que descobre que aqueles que mais amava o traíram e o enganaram em um violento e triste “Era uma vez na América”.

Em outras palavras, um ator extraordinário à serviço das melhores histórias e de uma memorável galeria de personagens.

Mas esse lendário ator também enfrentou o inverno. Por muito tempo o histrionismo repetitivo e a sua crença vã de que tinha uma veia cômica irresistível se multiplicaram em uma filmografia medíocre ou esquecível. Em alguns casos, quem pagava para assistir ao De Niro agora tenta evitá-lo.

As últimas interpretações grandiosas de De Niro são as de “Cassino” e do antológico duelo de “Fogo contra fogo”, ao lado de Al Pacino, outro peso pesado de sua geração (mas cuja carreira, nas últimas décadas, também flerta com o pateticismo). Torçamos para que esse ator volte a demonstrar a sua arte. Como diretor, também leva jeito. O obscuro e profundo “O bom pastor” foi uma obra-prima. Mas ele ainda nos deve um trabalho excepcional. Diante ou por trás das câmeras.

Luis Nassif

Luis Nassif

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