Memorial da Anistia: não há de ser inutilmente, por Luis Nassif

As violências cometidas contra a Universidade Federal de Santa Catarina, a Universidade Federal de Minas Gerais e o Memorial da Anistia, podem ter uma resposta à altura: a campanha para ampliar o escopo do memorial, incluindo no prédio anexo um Memorial das Músicas em Favor das Liberdades Civis, uma maneira de juntar as lembranças da ditadura com o papel inestimável da música popular, em uma cidade fundamentalmente musical, como Belo Horizonte.

Seria a maneira retumbante, musical, de responder aos desaforos da Polícia Federal, de batizar a operação com pedaço da letra de uma das músicas símbolos da anistia.

Todo país que passou por ditadura militar tratou de celebrar os mortos, montar memoriais, museus, como maneira de registrar a violência, impedindo sua repetição.

Faltava um memorial no Brasil.

O Memorial da Anistia, em Belo Horizonte, foi pensado dessa maneira. No início, o espaço a ser ocupado era o Coleginho, construção antiga que simbolizava a resistência dos estudantes contra a ditadura. Constatou-se que as fundações não suportariam as obras. Decidiu-se por um prédio maior, bancado pelo Ministério da Justiça, mas que ficaria sob a responsabilidade da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A nova concepção obviamente encareceu o projeto. E as sucessivas interrupções no envio de verbas federais, com o posterior desinteresse do MJ, gerou despesas adicionais, como a manutenção de equipes de segurança, guardando o local antes das obras serem completadas.

É possível que haja desvios. E, constatados, que os responsáveis sejam punidos.

Mas a operação deflagrada pela Polícia Federal, Advocacia Geral da União, Controladoria Geral da União, com a cumplicidade de uma juíza irresponsável, tem alvo maior: a desmoralização da ideia de Memorial da Anistia.

Na audiência pública realizada em 6 de setembro, em Belo Horizonte, representantes da AGU já manifestavam interesse em ocupar o prédio, alegando que a AGU estava mal instalada na cidade. A extinta Comissão da Anistia também se candidatou ao local.

Da parte da PF de Minas Gerais – a mais partidarizada, depois de Curitiba – o empenho em conspurcar a obra em si, e não em apurar desvios.

As violência cometidas, da violência com que acadêmicos foram conduzidos, até o batismo da operação, somado ao fato precedente, do suicídio do reitor Luiz Carlos Cancellier, exigem uma posição imediata contra o arbítrio. E a melhor maneira, seria a música, a mesma música que foi sequestrada pelos milicianos para batizar a operação.

É por isso que a sugestão da presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos (CEMD), Eugênia Gonzaga, tem um sentido especial. Sugere ela que a UFMG assuma de vez o Memorial, defina o Coleginho como o local para a exposição das memórias da ditadura, e transforme o prédio ao lado em um enorme memorial em defesa das liberdades, dos direitos humanos, incluindo um Memorial das Músicas em Defesa das Liberdades.

Se a UFMG sair à frente, não haverá dificuldades em convocar os maiores artistas brasileiros para eventos em BH, visando arrecadar recursos para completar a obram, honrar os mortos e os artistas da resistência.

O novo edifício permitirá festivais anuais de canções que celebrem os direitos sociais e esse enorme país.

Que a resistência em torno do Memorial seja um marco da luta contra a nova ditadura.

[video:https://www.youtube.com/watch?v=P6C5bZOr3xQ

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Em relação a PF de BH, estive
    Em relação a PF de BH, estive nessa cidade em setembro desse ano e fui conhecer a feira hippie que acontece aos domingos no centro da cidade.fiquei surpreso com o tamanho da campanha que a PF estava fazendo para colher assinatura para empurrar essa PEC da autonomia. Mas do que nunca precisamos de uma PF com comando e não com autonomia.
    Em relação aos ataques contra as universidades públicas e não só a essas, já passou da hora de montarmos grandes protestos pela implantação do Estado de Direito nesse país. Vejo várias pessoas indignadas, mas falta alguém que catalise essa indignação e coloque o povo na Rua.

  • Predio novo

    Nassif, volto a fazer um questionamento anterior: a UFMG possui alguns prédios que estão à deriva, num limbo que eu gostaria de entender. Dentre esses cito especificamente o prédio da antiga Faculdade de Odontologia. Uma vez que foi constatado que o coleginho não possuia estrutura necessária para abrigar o memorial, por que não utilizar o que já havia, optando-se pela construção de um novo prédio.

  • O povo não tem noção de
    Link para imagem invasão a UFMG na ditadura militar, hoje togada, nova modalidade do fascismo em: Honduras, Argentina, Paraguai, Honduras, tudo sob a batuta dos EUA, Globo e Goebbels, mercado e CIA: de novo...o mesmo fim embora sob nova configuração.

    https://www.flickr.com/photos/portalpbh/13902642173

    O povo não tem noção de pertencimento em relação as bens publicos e esse desapego contribui para a rapinagem por parte de gestores publicos irresponsáveis. Trazer o povo a ocupar tais espaços publicos seria uma forma de fazer a população sentir-se proprietária do que é seu, afinal de contas, somos povo quem bancou tudo isso, que seja nosso.
    Um centro como este sugerido por Nassif, de espaço de eventos musicais, teria esse sentido de nos apossar do que nos pertence. Temos também no cenário internacional, em todas as linguas, inclusive nos paises de lingua portuguesa, um rico repertório de sons em prol da liberdade e da democracia.

  • Temos todos os dias provas de

    Temos todos os dias provas de que a Policia Federal, Ministério Público e Justiça estão "aparelhados", em pensar que o PT foi, durante todo o tempo que governou, acusado dessa prática.

  • Para além da nota da ADINFES

    Para além da nota da ADINFES é preciso que a universidade publica brasileira como todo reaja ao não estado de Direito. A proposta da procurdora Eugênia Gonzaga é importantissima em vista do momento de sombra e confunsão que instalam no Pais. Não deixem o fascismo passar.

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