O festival do cinema ativista, em Haia

Por Paulo F.

Da Radio Nederland Wereldomroep

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Para que serve um filme?

Por Maike Winters (Foto: IF Productions

De 22 a 28 de março acontece em Haia o festival anual Movies That Matter (Filmes que importam). São mais de 70 filmes de todo o mundo sobre situações nas quais os direitos humanos estão em jogo. O conteúdo também está sendo debatido. “Se quer mudar algo, é preciso mostrar ao mundo ocidental”.

Taco Ruighaver, diretor do festival, está convencido de que os filmes exibidos durante o Movies that Matter fazem a diferença. “Do contrário não estaria aqui”, diz sorrindo. “Há suficientes exemplos que levaram a ações internacionais ou debates no governo. Com frequência, são as organizações sociais quem detalham os incidentes em seus informes. Mas quando se filma, o impacto é muito maior. E é essa a força do cinema”.

Mas as pessoas retratadas nesses filmes tiram algum proveito dos debates no ocidente? Ruighaver considera que sim. “No entanto”, reconhece, “não me atrevo a assegurar que haja um efeito direto para alguém filmado na África, Bangladesh ou Peru”.

É que os filmes e documentários são geralmente feitos para o público ocidental. É essa a intenção, opina a cineasta holandesa Ilse Van Velzen. Junto com sua irmã Femke, realizou documentários no Congo sobre as violações massivas aos direitos humanos e a impunidade que reina no país. “Também fazemos filmes tendo o mundo ocidental como público alvo. Para mudar algo, é preciso mostrar no ocidente”.

Sem cinemas
Também houve outro público que se aproximou das irmãs Van Velzen. Durante as filmagens no Congo, um grupo de mulheres perguntou se poderiam utilizar o documentário como material didático. “Queriam mostrar nos seus vilarejos quais são as consequências da violência; até agora elas só dispunham de alguns desenhos. Gostamos da ideia, mas não há infra-estrutura no Congo e não há sequer eletricidade em muitos lugares, o que dirá cinemas”.

Por causa disso, Ilse e Femke van Velzen criaram um projeto de Cinema Móvel. Um jipe equipado com uma tela de projeção viaja pelo Congo e mostra o documentário Combatendo o silêncio em praças e quadras de futebol. Cada exibição tem recebido uma média de 2500 pessoas; estima-se que até agora, um milhão de congoleses já viram o documentário.

Credibilidade
Também há críticas sobre a produção e o estilo de trabalho das irmãs Van Velzen. Há credibilidade no trabalho de documentaristas que dão um tom ativista ao trabalho? O documentarista Michael Moore manifestou-se desiludido pelo pouco impacto do seu trabalho. Ele defende uma posição clara em seus documentários Sicko (sobre o sistema de saúde nos Estados Unidos) e Bowling for Columbine (sobre o direito do porte de armas), .

Ilse van Velzen acredita no efeito dos documentários: “com tantos espectadores, sempre há alguns que vão ver a violência (no Congo) de outra maneira”. Quantos? “Não sei, mas sem dúvida causará algum efeito”.

Público alvo
Ao entregar o documentário à população e utilizá-lo como meio didático, faz-se algo por essas pessoas, opinam as irmãs Van Velzen.

Um exemplo negativo é o hype Kony 2012, explica Van Velzen. “O filme sobre o senhor da guerra Joseph Kony foi feito para um público no ocidente com internet. Mas os ugandeses não gostaram. Jamais filmaríamos um europeu que reside no Uganda dizendo como as coisas têm que ser feitas no país. Isso não é possível”.

Ruighaver considera as críticas a esse êxito da internet um tanto simplistas. “É possível chegar a nuances com o debate social que o filme provocou”. No festival Movie that Matters, há um outro documentário sobre o senhor da guerra Joseph Kony. Em Paz x Justiça os ugandeses afirmam não necessitar nenhuma intervenção de juristas internacionais, mas sim, querer dialogar com Kony sob seus próprios termos.

Luis Nassif

Luis Nassif

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