Poços de Caldas está uma festa

Quando deixei Poços, no final dos anos 60, a cidade mal tinha 40 mil habitantes. Até 1964 teve vida cultural intensa. Até início dos anos 70 uma boa agitação musical, especialmente nas temporadas, quando vinham turistas de São Paulo e Rio bons de música – e tínhamos nosso ponto de encontro do Bachianinha.

Depois, a cidade foi crescendo e se tornou sem-graça como uma adolescente desengonçada.

Nos últimos anos, a cidade explodiu. Está linda. Por influência de um shopping aberto na entrada, o comércio do centro se modernizou de forma admirável. Poços virou um shopping a céu aberto.

Hoje em dia é possível encontrar restaurantes de primeira – tem uma pizzaria que é melhor que a Camelo, de São Paulo -, botecos dos melhores.

Mas o que me alegrou, mesmo, foi a explosão da nova vida cultural na cidade. Por aqui explodiram Pontos de Cultura, com uma rapaziada boa em música e outras artes. Agora estão falando na vinda de uma Cefet com cursos de gestão em cultura.

Aos sábados e domingos, um passeio pelos jardins do Pálace mostra coisas surpreendentes. No coreto a Banda do Maestro Azevedo – que foi incorporada ao patrimônio artístico imaterial da cidade – com uma qualidade que não conhecia. Tocavam “Tico Tico no Fubá” como se fossem gente grande.

Nos jardins, atrás do Pálace, um palco com um coral infantil excelente, entoando músicas de Milton Nascimento. Logo abaixo, ao lado do Pálace Cassino, um conjunto de blues aguardando a sua vez. Na Boca do Leão, o conjunto que toca serestas para os turistas dançarem.

Durante a semana fui assistir o ensaio da Sinfônica de Poços, comandada por meu velho colega de Tiro de Guerra e de festivais, o Agenor. Hoje à noite, o Agenor apresentará um arranjo para uma música minha. Como sempre fez em São José do Rio Pardo – onde comandava os festivais – fará os arranjos, ensaiará os músicos e planejará algum happening maluco – como colocar cavalos no palco.

O Agenor é uma força da natureza. A convite do prefeito Nelsinho, montou também uma sinfônica em São João da Boa Vista. Teve participação importante em Tatuí, mas acabou demitido, assim como o “pai” do conservatório de Tatuí – maestro Neves – pela política de terra arrasada na cultura paulista, iniciada por João Sayad e continuada por Andrea Matarzzo.

Durante os ensaios, apareceram alguns ex-alunos que estão fazendo carreira em outras localidades. Ele me apresenta, orgulhoso, o cellista que foi primeiro colocado no vestibular de Ouro Preto, a mocinha que passou na USP. Mostra um violinista que, segundo ele, em poucos anos será dos maiores do Brasil.

Mostra um outro cuja mãe era catadora de latas. A moça economizou o que pode para comprar um violoncelo para o filho. Hoje, ele trabalha em várias orquestras e consegue tirar até R$ 5 mil por mês.

Apesar do prefeito atual, o simpaticíssimo Paulinho Couro Minas ser uma unanimidade – não consegui encontrar uma pessoa sequer que falasse bem dele – a cidade está uma beleza.

Anos atrás trocava ideias com Ademerval Pereira – que foi da Abecitrus. Morava em Ribeirão mas pretendia se mudar. Tudo por falta de ambiente cultural – embora Ribeirão não seja um deserto.

Muitos dos meus contemporâneos nunca pensaram em voltar para a cidade, justamente pela falta desse ambiente. Agora, com a PUC Minas, a Unialfenas e outras faculdades, com os pontos de cultura e grupos de teatro , de música, o jogo é outro.

Em breve as cidades médias estarão atraindo de volta seus melhores quadros. 

Aqui, dois vídeos, do coral infantil e o ensaio da Sinfônica, acompanhando um violonista físico de São Carlos em “Bachianinha”, de Paulinho Nogueira.

No caso da minha música, o ensaio se resumiu à primeira leitura. E nada mais.