Defesa

Os heróis que a Marinha do Brasil esqueceu

No que se transformou a Marinha do Brasil? Em um comandante, chefe da Força, que cometeu a indignidade de não passar o cargo para um presidente eleito. Em outro que, mesmo participando do programa nuclear da Marinha, tornou-se Ministro das Minas e Energia, permitiu a venda tenebrosa da Eletrobras e foi flagrado transportando joias ilegalmente na alfândega.

Aqui, três almirantes que fizeram a glória do Brasil e da Marinha, mas que são praticamente ignorados pelos burocratas que comandam a força.

O texto abaixo é do Almirante Othon.. As partes em azul são complementos incluídos para identificar melhor os personagens.

Pelo Almirante Othon, especial para o GGN

Pressionado politicamente naqueles últimos anos como Presidente Eleito foi muito difícil realmente a Getúlio Vargas implantar o que interessava ao Brasil no acordo nuclear – negociada pelo Almirante Álvaro Alberto e pelo embaixador Walther Moreira Salles no início dos anos 50. Mas a semente estava plantada e coube ao seu sucessor Juscelino Kubitschek dar um grande arranco inicial para implantar a Energia Nuclear do Brasil.

Álvaro Alberto da Motta e Silva nasceu no Rio de Janeiro em 1889. Ele ingressou na Marinha do Brasil em 1906, dando início a uma importante trajetória que mudaria os rumos do desenvolvimento em nosso país.

Nos anos 20, como Tenente e recém-formado engenheiro geógrafo, Álvaro começa sua carreira de professor. Nesse período, logo após integrar a comitiva que recepcionou Albert Einstein no Brasil, Álvaro Alberto apresentou suas primeiras invenções: dois tipos de explosivos, visando à independência financeira do Brasil, e uma tinta anti-incrustante, que impedia a fixação de organismos no casco dos navios.

Nos anos 30 e 40, já como professor titular de Química no posto de Capitão de Fragata e presidente da Academia Brasileira de Ciências, Álvaro Alberto aprofunda ainda mais seus conhecimentos em pólvoras e explosivos. Cauteloso com a soberania científica do país, propõe ao Governo o que seria um dos maiores avanços do Brasil: a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, aprovado em 1951, por Getúlio Vargas.

À frente do CNPq, percebendo nossa potência em áreas estratégicas, Álvaro Alberto agora Almirante, escreve o primeiro programa de Política Nuclear do Brasil, além de criar a Comissão Nacional de Energia Nuclear; o Instituto de Matemática Pura e Aplicada; o Instituto de Pesquisas da Amazônia e o Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação.

JK criou a CNEN – Comissão Nacional de Energia Nuclear e convidou para ser o Presidente da CNEN o Almirante Otacílio Cunha que trabalhou com o Almirante Álvaro Alberto na Sociedade Brasileira de Física.

Otacílio Cunha (Rio de Janeiro, 1900 – Rio de Janeiro, 6 de outubro de 1974), engenheiro naval, cientista e almirante brasileiro, fundador em 1956 da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que presidiu até 1961. Ao morrer era diretor-executivo e membro da comissão deliberativa do CNEN e presidente do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. Foi responsável pela prospecção de 100 000 km² do território nacional para constatação de urânio e tório, e pelo aparelhamento de reatores e laboratórios de pesquisas atômicas. Nomeado pelo então Presidente da República, Jânio Quadros, foi presidente do CNPq (1961-1962), então Conselho Nacional de Pesquisas.

O Almirante Otacílio Cunha aproveitou ” as brechas ” que o memorando do Getúlio Vargas havia proporcionado e importou três reatores de Pesquisas Nucleares um para São Paulo, outro para Belo Horizonte e outro para o Rio de Janeiro e criou três Instituto vinculados as Universidades Federais de Minas Gerais e Rio de Janeiro e Universidade de São Paulo mas a energia nuclear no Brasil evoluiu de ser uma atividade cerebral universitária para ter também base experimental .

O Almirante Otacílio Cunha (discípulo de Álvaro Alberto) realizou um formidável trabalho para o Brasil. Infelizmente as atuais autoridades navais talvez nem saibam quem foi o Almirante Otacílio Cunha.

Vale observar que até o Almirante Maximiano da Fonseca a Marinha Brasileira não participou das atividades na área da tecnologia nuclear (era apenas um espectador à distância) e os Almirantes Álvaro Alberto e Otacílio sempre fizeram seus belos trabalhos em organizações que não tinha qualquer ligação com a Marinha e sempre se preocuparam em estimular a participação dos cientistas brasileiros .!!

Juscelino Kubitschek ainda como Governador de Minas Gerais havia cedeu terrenos em Poços de Caldas que eram considerados promissores para exploração de Urânio e Minérios de interesse nuclear como o Zircônio!!

Do Clube de Engenharia

Considerado o pai do programa nuclear brasileiro, o conselheiro do Clube de Engenharia reviveu sua biografia em depoimento concedido ao projeto

“Na vida, nada mais fui do que um dedicado cumpridor de missão”. Assim se autodefiniu o Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva em seu depoimento para o projeto Memória Oral, do Clube de Engenharia. Considerado o pai do programa nuclear brasileiro, o engenheiro militar, que é conselheiro da entidade, frisou em diversos momentos de sua fala o quanto o trabalho em equipe foi fundamental para seus feitos. Apesar de todos os feitos que alcançou na carreira, pontuou sua fala com agradecimentos aos que o ajudaram na sua jornada.

“Tudo é feito em equipe, nada se faz sozinho. Os grandes projetos dependem de como a equipe se dedica e se integra”, reforçou o almirante. Mas não há equipe que obtenha resultado sem um comandante competente. Por isso, é inegável sua contribuição decisiva para o êxito do projeto iniciado em 1979 que levou ao domínio por parte do Brasil de uma tecnologia única e própria para o enriquecimento do urânio.

O método por ultracentrifugação é invejado no mundo inteiro e também nunca deixou de gerar desconfianças, conforme o depoimento mostra também. Foi fruto de fato do trabalho integrado de mais de 600 engenheiros e de diversas instituições de pesquisa que desenvolveram processo altamente eficiente voltado para o uso pacífico. Mas a capacidade do militar de lidar com as divergências, agregar pesquisadores de diferentes tendências políticas, sem perder um norte para a missão foi fundamental.

“A minha proposta era o seguinte: não era um programa de Marinha, era um programa do Brasil. Pegar os melhores orientadores das universidades e fazer um núcleo de engenheiros novos escolhidos não por indicação política”, contou ele. “Não interessava time de futebol, religião ou o viés político”, acrescentou.

Luis Nassif

Luis Nassif

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