A prova de fogo do Banco Central

Coluna Econômica

Hoje será a prova de fogo para o novo Banco Central. A reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) decidirá a nova taxa Selic.

Internamente, no BC e na Fazenda, há a convicção de que as medidas prudenciais adotadas no final do ano, mais a entrada da nova safra e o fator calendário (expurgando os meses do ano passado em que a inflação foi mais aguda) serão suficientes para reverter a alta anual do IPCA impedindo que estoure o teto da meta e, a partir do próximo ano trazendo a inflação novamente para o centro da meta.

Sabem mais que isso. No ano passado houve um choque de oferta nas cotações internacionais de commodities. Manter a inflação no patamar atual é um feito. E o mercado sabe disso.

Mais. Durante muitos anos, após a implementação do regime de metas inflacionárias, o IPCA fugiu dos limites previstos sem que o mundo tenha acabado.

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TudoTudo isso tem a ver com o maior desafio enfrentado pelo BC, desde que resolveu abrir mão da taxa Selic como único instrumento de política monetária.

O que se viu foi essa figura indefinida, de nome mercado, que tratava o impossível Henrique Meirelles como gênio das finanças, de repente investir pesadamente contra Alexandre Tombini, o mais brilhante funcionário de carreira da atual geração do BC.

Trata-se de um jogo de braços que terminará hoje à noite, com a decisão do Copom.

Tombini tem a seu favor o respeito do setor bancário como um todo. A resistência vem de segmentos específicos, economistas de mercado que preferiam o prato feito anterior das taxas Selic e sua ligação com certo tipo de jornalismo financeiro.

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Há uma lógica nas declarações de Tombini: a constatação de que a economia está se desaquecendo e que qualquer impulso adicional poderá lançá-la na recessão. Há a constatação, também, de que quando ocorrem grandes choques de preços – como o que aconteceu com as commodities – tem que se da um tempo para a economia acomodar os preços. Tentativas de trazer imediatamente os preços para o centro da meta resultam em grandes sacrifícios para a população.

Por tudo isso, a leitura sobre a decisão do Copom é simples. Têm-se todos os motivos para manter inalterada a taxa Selic.

Se a Selic for mantida inalterada será uma demonstração de firmeza que ajudará a demover as resistências finais contra a nova política do BC.

Se der 0,25 de aumento, será um sinal de contemporização.

Se aumentar meio ponto, será rendição.

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De qualquer modo, será um divisor de águas. Nos últimos dias, as pressões dos “juristas” (os que defendem juros altos em qualquer hipótese) tornaram-se insuportáveis. A ponto de partirem para o “patrulhamento” em cima de colegas que aceitaram as novas práticas de política monetária – aliás, novas é modo de dizer, já que são práticas consagradas para contenção da demanda.

Será um capítulo relevante para começar a sair de uma armadilha que consumiu 16 anos de crescimento, desviou recursos fundamentais para o atendimento de demandas sociais, forçou um aumento extraordinário da carga tributária.

Luis Nassif

Luis Nassif

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