Coluna Econômica: as discussões sobre o monopólios das bigtechs

Tempos atrás, o controlador do Facebook, Mark Zuckerberg teve que enfrentar o Congresso norte-americano. Foi pressionado, intimidou-se. Tempos depois contratou a consultoria da Atlantic Council, think tank americano com relações umbilicais com o chamado “estado profundo” – o segmento da burocracia norte-americano com enorme controle sobre a máquina pública. Seus pensadores tinham desenvolvido uma nova doutrina de segurança nacional colocando como principais adversários não mais países, mas grupos minoritários incrustados também nas redes sociais.

A partir dali, aumentaram as suspeitas de que o Facebook teria se tornado um parceiro recorrentes do “estado profundo”.

Ontem foi a vez do Congresso convocar os principais executivos das 4 bigtechs – Amazon, Apple, Google e Facebook – para prestar contas sobre concentração de poder econômico.

É mais um capítulo na nova geopolítica contemporânea, não apenas as disputas entre países, mas entre o poder das grandes corporações e o poder nacional – no caso, o poder do maior país do mundo.

Toda a doutrina tem como foco central o interesse do consumidor. O grande processo de concentração econômica pós-anos 80 foi construído, ideologicamente, através da escola de Chicago, defendendo as vantagens para o consumidor advindas dos ganhos de escala das grandes corporações. Depois, levantou-se a hipótese de que a rápida capacidade de mobilização de capitais e de inovações tecnológicas impediriam o acomodamento das empresas líderes de mercado.

A realidade mostrou-se diferente, com as chamadas 4 bigtechs dominando amplamente os mercados ocidentais.

Dois pontos abordados foram, de um lado, o tratamento dado pela Amazon a vendedores de terceiros em suas plataformas; e do lado do Facebook, a aquisição da plataforma Instagram, eliminando um concorrente potencial.

David Cicilline, democrata, do subcomitê antitruste do comitê judiciário da Câmara, foi objetivo: “Muitas das práticas utilizadas por essas empresas têm efeitos econômicos prejudiciais. Eles desencorajam o empreendedorismo, destroem empregos, aumentam os custos e degradam a qualidade. Simplificando: eles têm muito poder ”.

Nos interrogatórios que se seguiram, Jeff Bozz, da Amazon, admitiu que a empresa pode ter usado dados sobre vendedores terceirizados para definir estratégias para seus próprios serviços e produtos.

No ano passado, a Amazon foi investigada pela Câmara e por outros departamentos como o Departamento de Justiça, a Comissão Federal do Comércio e a Comissão Europeia. Os trabalhos servirão de subsídios para uma nova lei antitruste.

Empresa mais focada em consolidar valores, tempos atrás o Google deixou uma licitação em 2018 para fornecimento de serviços em nuvem ao Pentágono, por discordar do uso de inteligência artificial para o desenvolvimento de armas. Essa decisão foi lembrada por Ken Buck, congressista republicano, para insinuar a ajuda do Google para a China.

As maiores críticas foram contra o Facebook. Foram divulgados vários emails internos onde se discutia a compra de empresa visando eliminar concorrentes.

Esses movimentos precisam ser acompanhados de perto pelo Brasil, porque impactam diretamente o mercado de varejo – dominado pela Amazon -, de mídia – atacado pelo Google e pelo Facebook -, de serviços em nuvem – dominado pela Amazon, Google e Microsoft.

De qualquer modo, levará algum tempo até que Congresso e Supremo se debrucem sobre o tema.

Luis Nassif

Luis Nassif

View Comments

  • A solução é tecnicamente simples Nassif. Basta um grupo de países exigir que, para ser conectado à sua internet, todo hardware utilize apenas software de código aberto. As 4 gigantes teriam de abrir seus códigos ou não estariam na internet, assim como Windows, Android e OS teriam que ser totalmente código aberto. Aconteceria como no mundo Linux, onde é impossível o monopólio porque todo mundo pode usar e melhorar o código de todos.

    Quanto aos dados, basta criar uma legislação que separe dados privados e de interesse público. Para os dados privados seriam criadas regras que dariam total controle do interessado sobre eles e regras de armazenamento passíveis de fiscalização por comitês independentes de especialistas que verificariam se a privacidade estaria mesmo sendo respeitada. Quanto aos dados de interesse público devem obedecer ao conceito de dados abertos, semelhantes aos do governo federal.

    Em relação ao conteúdo, a internet já funciona como uma imensa biblioteca digital, com audiovisual, dados e escrita, só que são bibliotecas privadas que geralmente vendem o acesso. A solução seria obrigar que os dados fossem armazenados num imenso banco de dados público, sob guarda de organizações públicas (ex, universidades) e acessível a todos. A acesso a essas bibliotecas poderia ser feito por plataformas privadas, por exemplo. A remuneração dos interessados (donos dos contteúdos, guardadores e plataformas de acesso) seria através do numero de acessos e downloads e viria de uma taxa embutida na compra do pacote de internet.

    Se isso acontecesse, boa parte do que é lucrativo deixaria de sê-lo na internet e ela se tornaria de fato pública e aberta e apenas secundariamente, um mercado digital. Ora isso é simplesmente impossível de acontecer no capitalismo, cuja tendência é transformar tudo em mercado.

  • Você pode :
    Comprar na Saraiva , pesquisar no Bing , usar smart da Samsung , usar email do Yahoo , não ter Facebook , e não saber que marcianos estão falsificando a vacina da covid.
    A praga que não dá para fugir e o WhatsApp ....
    :)

  • Não lhes dizem nada um magnata da internet anunciar esta pandemia desde 2015?E o q vemos agora?Quebradeira e a "internetização"das coisas,desemprego e uma concentração de mercados/riqueza violentíssima/selvagem,vamos ficar na mão dos algoritmos?NÃO LHES SERVEM EM NADA A EXPERIÊNCIA DE CANAIS DE ESQUERDA,ESCONDIDOS NAS PLATAFORMAS COM POUCAS VISUALIZAÇÕES,ENQUANTO OS DE DIREITA E EXTREMA DIREITA EXPLODEM DE VISUALIZAÇÕES?
    Obs:Para informação da galera,quem disse q o mundo não seria mais o mesmo,foi o GRANDE E MAIOR INTERESSADO nisso tudo,o grande magnata da internet(kkk,eu mereço,kkk)

  • O q explica uma hamburgueria no primeiro dia de funcionamento vender 1.200 lanches?O q explica do nada,clientes da pizzaria de uma conhecida começarem a comprar por uma plataforma de comida,um após o outro e obtendo um descontão?Q tal um processo de ocultamento ou exposição descarado aí ?Vcs tão indo pro abatedouro(kkk, não queria dar risada mas não aguento mais esta historiada toda)
    Obs:#FIQUE EM CASA !!(em respeito ao ggn)

Recent Posts

1º de Maio, Itaquerão vazio, episódio ridículo, a ficha caiu?, por Percival Maricato

Se cada sindicato do estado enviasse um representante, haveria mais pessoas no Itaquerão que o…

21 minutos ago

Sanções contra Rússia por guerra na Ucrânia fracassaram, diz Itália em apelo pela paz

Ministro da Defesa da Itália diz que a única solução agora é substituir sanções por…

44 minutos ago

Como o comportamento das polícias espelha projetos de governos, por Jacqueline Muniz

Socióloga conta por que casos de racismo policial, noticiados quase que diariamente, nunca devem ser…

1 hora ago

Hospital de Campanha começa a atender população afetada pelas enchentes no Rio Grande do Sul

Estrutura montada em Estrela entrou em funcionamento no domingo. Outra unidade foi transportada para a…

2 horas ago

Extrema-direita usa tragédia no Sul para disseminar novas fake news contra o governo

Para especialista prática da desinformação “zomba da vida alheia, tripudia sobre os mortos”. Entenda

3 horas ago

Operação Greenfield: a outra Lava Jato, por Luiz Philippe Torelly

A falácia de que houve rombos gerados por falcatruas continua e alimenta comentários de jornalistas…

3 horas ago