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A guerra cambial, por Krugman

Nassif,

Queria dar uma contribuição aí sobre a guerra cambial, que nada mais é que trazer aqui pro blog a opinião do Krugman, que você sabe eu estou acompanhando de perto o que ele tem dito há algum tempo, e pra mim tem sido muito bom acompanhar o que ele diz, principalmente a respeito de economia, já que ele é um economista de muito respeito aí internacionalmente e auto-afirmado neokeynesianista.

É lógico que o ponto de vista dele é sempre mais focado na economia norte-americana, mas como todos sabem interessa muito pra gente entender o que acontece por lá pra gente se prevenir por aqui.

Bom, eu to colocando o link da coluna dele desta segunda, que fala justamente um pouco deste tema, taí no final do texto.

Mas antes queria dizer que ele é o principal crítico aí das políticas monetária e fiscal que tem sido utilizadas nos EUA já há muito tempo, na verdade desde a era Greenspan no FED, mas principalmente crítico das medidas que vieram depois da crise de 2008 que até agora não foram suficientes para combater a recessão e principalmente o desemprego.

Mas ele também vem criticando o comportamente de outros países, em especial a China, por sua desvalorização da moeda e esta semana também da Alemanha. Krugman saliente que as medidas tomadas nos EUA são diferentes das medidas da China, visto que os EUA desvalorizam a sua moeda e aumentam a demanda global, com juros já em 0% a.a. enquanto a China desvaloriza a sua e diminui a demanda global, visto que a desvalorização da China é acompanhada de aumento da taxa de juros interna para reduzir a demanda aquecida de sua economia – poderia simplesmente deixar o câmbio flutuar e combater a demanda aquecida com importações.

Eu vou fazer um esforço aqui para tentar resumir o ponto de vista do Krugman sobre a situação econômica americana e sobre as principais medidas que vem sendo tomadas:

1- Primeiro, ele tem uma crítica muito forte com relação ao primeiro pacote de estímulos fiscal do Obama, que ele vinha dizendo desde o começo que seria um pacote muito pequeno face ao tamanho da crise, o que no final mostrou-se verdadeiro;

2- Depois ele criticou muito a posição do Obama, não apenas a de não defender  a passagem de um pacote maior, que Obama teve medo de que não passasse, mas também a posição do Obama, mesmo depois que tinha ficado claro que o pacote tinha sido insuficiente para diminuir o desemprego, de tentar defender que todas as medidas corretas já tinham sido tomadas para combater a crise e que tudo o resto viria naturalmente, o que acabou por resultar nesta grande derrota do Obama e dos democratas nas eleições de 02/nov p.p.;

3- Paralelamente, ele vinha sempre criticando o atual presidente do FED, Bernanke, por não fazer mais pela economia dos EUA do que tem sido feito até agora. Krugman nunca deixou de dizer que era necessária a adoção de uma política fiscal muito forte, mas também nunca deixou de dizer que o FED também tinha que fazer a parte dele, seja com esse Quantitative Easing que está vindo por aí, seja ainda com outras medidas não-convencionais de política monetária que o FED poderia fazer para tentar ajudar ainda mais a economia americana;

4- Mesmo com esta adoção desta política de afrouxamento quantitativo (quantitative easing) que o FED vem pondo em prática aí agora, Krugman, como pode ser lido no artigo de hoje, especialmente, ainda diz que não vai ser suficiente o presente afrouxamento, visto que na sua opinião esta medida deveria mirar numa meta de inflação bem mais alta, mesmo que esta meta de inflação nunca seja alcançada, mas o FED vem caprichando no discurso que não quer uma meta tão alta, apenas quer uma meta de inflação normal;

Então, é importante a gente notar, que com tantos acertos que Krugman tem feito ultimamente a respeito da crise, das medidas que não funcionaram e etc. é muito provável também que ele esteja certo a respeito deste afrouxamento também.

Na verdade, no seu blog é possível ver que o ponto de vista de Krugman a respeito da inflação é muito simples: o comportamento da taxa de inflanção varia praticamente linearmente com relação à taxa de desemprego (menos desemprego, mais inflação), mas com mudanças muito pequenas à altas taxas de desemprego, até que se alcançe a chamada NAIRU, ou seja, a taxa de desemprego mínima que não causa a hiperinflação. Desta taxa de desemprego para baixo, a inflação explode exponencialmente.

Então, diz Krugman, seria importante que se mirasse numa taxa de inflação correspondente a um desemprego um pouco inferior a NAIRU, mesmo que tenha que se intervir na taxa de juros para  cima  para impedir que se chegue a NAIRU no futuro, o que é muito melhor do que fazer um pacote mais tímido e depois não ter mais nada a fazer, por que as taxas de juros já estão próximas de zero.

Agora lembremos que tudo isto porque Obama não conseguiu um pacote fiscal suficiente e pelo que tudo indica, depois da derrota dele nas eleições para o congresso, nem vai conseguir mais, porque os republicanos só conseguem pensar em austeridade nos gastos públicos e corte de impostos. E Krugman já fala em década perdida para os americanos, com a premente niponização dos EUA.

Então pessoal, espero ter contribuído para esclarecer a situação dos EUA e quanto ao Brasil  é bom mesmo a gente se preparar por aqui, que já que nem com esta enxurrada de dólares que eles estão jogando no mercado parece que vai ser suficiente, e sem a opção de política fiscal, o que podemos esperar é que vem mais daqui pra frente. E salve-se quem puder.

Krugman, Opinião, 08/11/2010:

http://www.nytimes.com/2010/11/08/opinion/08krugman.html?_r=1&ref=paulkrugman

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Redação

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