Do Valor
Crise é diferente da vivida em 2008, diz especialista
Assis Moreira | De Genebra
10/08/2011
O pânico atual não é uma repetição da turbulência financeira de 2008. Há paralelos, mas a situação é diferente. É o que diz William Allen, da Cass Business School, em Londres, e autor com Richhild Moessner de pesquisa publicada pelo Banco Internacional de Compensações (BIS), o banco dos bancos centrais, sobre a propagação internacional da crise financeira de 2008 e a comparação com 1931. Para ele, o principal fator da propagação da crise há três anos foi a fuga de investidores para ativos líquidos e seguros. Agora, ele vê um setor financeiro mais sólido.
Valor: O senhor vê paralelo entre a situação atual nos mercados globais e as turbulências financeira do fim de 2008?
Allen: Há paralelos, mas não muito próximos O evento central de 2008 foi o colapso do Lehman Brothers, que criou dúvidas sobre a estabilidade de muitas outras instituições financeiras que estavam expostas a ele. Os mercados estão agora preocupados com a segurança de títulos governamentais, mas pelo menos na zona euro os problemas foram identificados. Seguramente, uma preocupação é que algumas notícias ruins podem emergir de qualquer lugar, quando os mecanismos de defesa global têm sido fragilizados.
ValoValor: Quais as diferenças fundamentais entre a crise financeira de três anos atrás e a atual?
Allen: Os acontecimentos de hoje são consequência dos eventos de 2007/08. Lá, o problema começou com os bancos e foi absorvido pelos governos. Agora o problema migrou para os governos. Haverá a aceleração da consolidação fiscal e atraso na recuperação econômica É por isso que os mercados estão liquidando suas posições.
Valor: O que poderá causar mais propagação desse pânico?
Allen: A principal questão é o débito da zona euro. Os bancos comerciais em algumas partes da Europa têm papéis desses países mais afetados. É uma óbvia cadeia de contágio.
Valor: A corrida por ativos seguros e líquidos é idêntica?
Allen: Bom, foi uma grande benção em 2008 que as dívidas da maioria dos governos eram consideradas seguras e líquidas. A S&P rebaixou o risco de crédito dos EUA, num julgamento fundamentalmente político. Mas outra diferença hoje é que a maioria das companhias financeiras está agora melhor capitalizada do que em 2008, e ai a situação é menos perigosa.
Valor: E sobre os “shadow banks” (hedge funds, etc)?
Allen: A maioria sobreviveu em 2008 com a ajuda de suas próprias reservas de liquidez e o apoio do Federal Reserve. Acho que eles vão fazer a mesma coisa agora, se for necessário.
Valor: Um fantasma de 2008 que está presente é menos funding de curto prazo. O risco é grande?
Allen: É bem menos do que em 2008, porque todo mundo está muito consciente do risco que enfrentou na época.
Valor: O senhor escreveu que no inicio da crise financeira a atração por ‘carry trade’ diminuiu e as moedas com maior rendimento desvalorizaram. Isso vai acontecer agora?
Allen: Até a crise de 2008, o iene japonês e o franco suíço tinham taxa de juro mais baixa do que qualquer outra moeda. Agora, há muitas moedas com taxas de juros extremamente baixas.
Valor: Que lições foram aprendidas de 2008 e também o que continua sendo ignorado?
Allen: Houve muitos erros na crise de 1930, por exemplo, como o fiasco na cooperação e coordenação internacional, fiasco em reconhecer que o padrão ouro era parte do problema e não da solução. Agora, lamento que o acordo de Basileia 3 esteja traga riscos de repetir o erro, ao forçar os bancos a acumular ativos líquidos às custas dos empréstimos comerciais, num momento em que há uma corrida por ativos líquidos.
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