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Obama e o modelo sueco

Por Joel

Nassif,

Dá uma olhada nesta notícia do jornal sueco “Dagens Nyheter”, de hoje, 16 de fevereiro.

Segundo o principal jornal sueco, “Dagens Nyheter”, o governo Obama não está considerando resgatar o seu sistema bancário segundo o modelo “escandinavo”, que foi implementado na Suécia em 1992, quando o país passou por uma aguda crise financeira.

Na época, o Estado Sueco comprou o equivalente a 8 bilhões de dólares em ações do sistema bancário, tornando-se na prática o seu principal acionista. Após o saneamento e a retomada da confiança no sistema, os bancos foram vendidos ao setor privado gerando dividendos para o Estado.

O próprio presidente Obama declarou à Rede ABC que “À primeira vista, o modelo sueco parece bom. Mas o problema é que a Suécia tinha 5 bancos, nós temos milhares. E a Suécia tem uma outra cultura quanto a relação do Estado e o Mercado. Nós (nos EUA) queremos manter a noção de que os investimentos fundamentais do país devem vir do setor privado”.

Mesmo assim, dois economistas de peso, Matthew Richardson e o agora famoso Nouriel Roubini, publicaram um artigo na edição deste domingo do Washington Post com o título “Nacionalizem os Bancos – Agora Todos Somos Suecos” .

Nele, os economistas dizem “Como economistas a favor do livre mercado (… ) sentimo-nos heréticos ao propor uma estatização ampla do sistema bancário, mas o sistema financeiro americano chegou a um tal ponto de perigo que poucas alternativas nos restam”.

O ex-ministro das finanças sueco, Bo Lundgren, que liderou o processo em 1992, afirma que a experiência sueca poderia, sim, ser aplicada nos EUA. “Os princípios de nosso resgate do sistema financeiro não criaram um poder burocrático estatal sem controle. Na época nós garantimos a liquidez dos bancos e restabelecemos a confiança no sistema”.

Segundo o ex-ministro sueco, ele não achou que o discurso do novo Secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, na semana passada, tenha infundido a confiança necessária para o sistema financeiro norte-americano.

o Lundgren diz também não entender o porquê de tamanho medo, nos EUA, em relação a uma garantia estatal para o sistema financeiro via a participação acionária nos bancos. “O Estado não dever ser o dono dos bancos a longo prazo, mas estamos passando por uma crise e nessas horas há que se tomar medidas corajosas. Nos EUA dá-se uma imagem totalmente errada quando se fala em nacionalização dos bancos”.

A deputada democrata Maxine Waters declarou, também à ABC, que “o Citibank na verdade já deveria ser considerado nacionalizado, com tanto dinheiro que colocamos nele. Mas eu não acho que nós estamos prontos para um programa formal de nacionalização dos bancos”.

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Perdas dos bancos suecos, em
    Perdas dos bancos suecos, em 1992: 12% do PIB; quanto o governo sueco despendeu para saneá-los: 4% do PIB; garantias do Estado aos credores dos bancos em maus lençóis: todas; garantias aos acionistas de tais bancos: nenhuma; quando os bancos suecos voltaram a dar lucro: 2004 - ao que, incontinenti, o governo sueco pulou fora.

    Roosevelt chamou Keynes. Que Obama chame Arne Berggren.

  • Obama precisa aplicar o
    Obama precisa aplicar o modelo sueco.

    Se aplicar logo, de forma correta e eficiente - bingo! a crise a acaba rapidinho.

  • Mas eh tao facil entender, eh
    Mas eh tao facil entender, eh uma questao de ideologia : Pra eles isso eh socialismo. Admitindo isso, temem admitir tambem que sairam feridos de morte da guerra fria. Simples.

  • Aqui do Alto Xingu, os índios
    Aqui do Alto Xingu, os índios assistem de camarote ao seguinte drama:

    Primeiro Ato

    Obama segue dando continuidade ao mais do mesmo da era Clinton-Bush que ocorre agora por meio de Tim Geithner, o protegido de Robert Rubin. São mais de US$ 2,5 trilhões para reinflar a Economia de Bolhas e premiar os insiders em Wall Street e o cartel de um punhado de instituições financeiras que já coletaram US$ 9 trilhões do Tesouro até agora. Isso é que é programa de inclusão social!

    Os banqueiros estão vencendo com folga o jogo de esconde-esconde, mas continuam ameaçando: "Dêem-nos o que queremos ou jogaremos a economia no abismo!" As asas dos banqueiros deveriam ser cortadas com a anulação das mudanças feitas por Robert Rubin e Clinton, que permitiram a bancos comerciais atuarem por meio de conglomerados, fundindo-se com bancos de investimentos, edge funds, empresas gestoras de títulos lixo, escritórios de advocacia especializados em evasão fiscal, empresas de fachada em paraísos fiscais, etc. etc., dentro do modelo testado na ditadura de Pinochet, nos anos 1970, conhecido como os "Grupos Piranhas", que levaram o Chile a experimentar a maior depressão da história.

    O cataclisma financeiro que ocorre foi planejado pelos aficcionados da Escola de Chicago, testado em todo o mundo nos últimos 25 anos, e agora aplicado sem a menor cerimônia e pudor no próprio centro do sistema gêmeo Americano-Europeu. O poder do punhado de bancos comerciais foi usado não para financiar o setor produtivo, mas para inflar bolhas sucessivas em diferentes mercados, tudo com o beneplácito dos legisladores e dos órgãos supervisores, os quais, desde os anos 1980, prepararam a arquitetura legal para isso.

    Foi assim que laborou a "mão invisível" do dogma do "livre mercado", atraindo para poucos bancos a centralização do planejamento, da criação de dívida e a extração de renda em nível nacional e internacional, tudo com o apoio das agências de classificação de risco e o olhar complacente e solícito dos bancos centrais e das comissões de valores mobiliários de cada país.

    No processo, os executivos (executaram mesmo!) auferiram dezenas de bilhões de dólares em compensações. Agora, o último pacote de Obama reduziu-as, embora deixando aberta a porta para pagamentos de altíssimos salários. Mas, continua vigente a filosofia e a prática dos banqueiros: "Somos melhores administradores do que os governos."

    O cartel do pugilo de grandes bancos, cheios de títulos podres, vem usando os recursos recebidos do Tesouro para comprar bancos menores, saudáveis. O fato concreto é que a dívida pendente do setor público é maior do que a economia pode pagar: a "criação de riqueza" de Greenspan transfigurou-se em "criação de dívida", novo objetivo da atual doação bancária, que irá se alastrar e aprofundar a crise em escala mundial. Esse é o colapso que está sendo planejado em minúcias.

    Primeiro vamos afundar até mais além do fundo do poço as cotações de qualquer coisa que tenha ou não preço. É onde estamos. Depois, é só questão de, com recursos infinitos do Tesouro (contribuinte), inflar as bolhas sucessivas novamente. O rescaldo será uma dívida pública absolutamente impagável e moedas nacionais em evaporação. Restarão relíquias bárbaras como moeda, como o ouro e metais preciosos.

    A recuperação que ora se intenta é para quem? Evidentemente, é para o lobby bancário que elaborou os pacotes de auxílio. O negócio agora é endividar a economia para ressuscitar a Economia de Bolhas, ou os "Anos Dourados" dos banqueiros. Mas, é impossível inflar outra bolha agora pois os abutres financeiros cuidam de represar recursos, aguardando o momento em que as garantias governamentais começarem a injetar um sopro de vida nas dezenas de trilhões de dólares em títulos podres. Então, disputarão acirradamente essa carniça. Esse será mais outro lucro sem risco que essas aves de rapina auferirão com recursos dos contribuintes em todo o mundo.

  • Segundo Ato

    A população
    Segundo Ato

    A população mundial se verá às voltas com medidas férreas de grande austeridade enquando a banca estará nadando novamente em mares aventurosos. Os 1% mais ricos da população nos EUA poderão aumentar ainda mais a fatia na renda nacional, que cresceu de 37% dez anos atrás, para cerca de 70% atualmente, nível invejável até para a cleptrocracia russa.

    Mas, como inflar as cotações de títulos podres? Uma alternativa seria o Tesouro comprar dos bancos esses títulos, a fim de evitar que registrem prejuízos. O prejuízo seria lançado às costas dos contribuintes, cujos impostos vem sendo aumentados nos últimos trinta anos. Um "banco crocodilo" – e não um “banco ruim”, como dizem -- será usado para comer (comprar) essas aquisições, as quais serão repassadas a uma instituição pública. Vão comer tudo que virou lixo, embora ninguém se pergunte por que o Tesouro pretende dar um valor mais alto a algo que todos no setor privado se recusam a comprar pelos preços que os bancos estão pedindo.

    Os fundos de rapina estão cotando esses títulos podres ou tóxicos a 22 centavos cada dólar de título, enquanto os bancos pretendem 75 centavos!!! Quanto o Tesouro ofertará? Os bancos e os fundos abutres querem que o Tesouro dê garantia ao preço que os investidores privados quiserem comprar: 75 centavos por dólar de ativo podre! Ah Tupã, quanta complacência dos contribuintes! Mas, até agora o Sr. Geithner ainda não chegou a uma conclusão.

    Mas, enquanto isso está em gestação um projeto de bolha imobiliária. Vamos supor que uma casa tenha sido comprada por US$ 500 mil (com taxa de juros ajustável e hoje de 8%) e tenha, em fins de 2009, preço de mercado de 50%. Aí entra em ação a Parceria Público-Privada (PPP), instituição privada financiada com injelção de recursos do Tesouro, feita para recapitalizar os bancos, mediante a entrega de títulos podres próximo ao valor par.

    Com esse dinheiro, os bancos adquirirão ações das PPP, as quais adquirirão e renegociarão as hipotecas em mãos de outras instituições ou do governo. Irão comprá-las ao preço de mercado, de US$ 250 mil, como no exemplo citado. O devedor da hipoteca ficará satisfeito, pois sua dívida cai para US$ 250 mil e a taxa de juros pode recuar para 5,5%, permitindo que a prestação caia em quase 2/3. Continuará com a casa e não terá mais patrimônio negativo. A família vai vobrar: "Obama é o maior!"

    Esqueceu-se que o contribuinte -- ele mesmo -- assumiu o prejuízo, que será cobrado via impostos mais altos logo à frente. E haverá um compromisso adicional: se, no futuro, o proprietário da hipoteca quiser vender o imóvel, digamos por US$ 400 mil, os US$ 150 mil de lucro (ganho de capital) irão para a PPP privada. Apenas se o imóvel for algum dia vendido por mais de US$ 500 mil, o valor excedente será repartido em partes iguais entre a PPP e o antigo proprietário.

    Os banqueiros se aproveitam do fato de que os proprietários sonham, hoje, em apenas continuarem com sua casa. E o governo não se importa em ceder todo o eventual ganho de capital à PPPs privadas e nem em imporem uma férrea tributação futura para responder pelo vultoso subsídio concedido à banca. Temos aí uma nova bolha de "criação de riqueza", à la Greenspan, em gestação! Mas, nenhuma novidade em relação às do passado, eis que envolve a criação de dívida e crédito.

    Não adianta Adam Smith ter afirmado que "Um governo de um grupo exclusivo de negociantes é, talvez, a pior forma de governo." É como a banda toca, enquanto a servidão e a passividade dos contribuintes continuar. Até aqui, não estão à vista o cancelamento das dívidas, a punição aos bancos especuladores, a imposição do imposto de 1% sobre todas as opções em ações e em moedas e o uso da tributação como freio às operações financeiras desestabilizadoras.

  • É Nassif, para os neoliberais
    É Nassif, para os neoliberais "entendidos" do mercado dói muito saber que o único remédio é uma dose cavalar de comunismo: A estatização dos bancos.

  • Terceiro Ato

    Enquanto isso
    Terceiro Ato

    Enquanto isso não ocorrer o serviço da dívida expulsará o dispêndio em bens e serviços e a economia não se recuperará. A deflação da dívida derrubará a economia enquanto os ativos serão passados mais ainda para as mãos dos 10% mais ricos da população, via o setor financeiro.

    Se Obama quiser significar alguma coisa ele repelirá a legislação de falência que privilegia o credor – patrocinada pelos bancos e empresas de cartões de crédito -- e patrocinará a restauração da tendência de longo prazo das leis, de favorecer os devedores e não os credores, a fim de que, doravante, as dívidas reflitam efetivamente a capacidade dos devedores em pagar.

    Reflexo disso tudo é que a relação entre o dólar e o ouro acabou. A negociação de ouro segue agora um curso próprio, diferente do passado. O ouro se transformou simplesmente na melhor moeda, uma vez que o mundo rumo para taxas de juros em direção a zero e explosão monetária e de crédito maciças. As desvalorizações competitivas serão inevitáveis.

    À medida em que a elite bancária tentar implementar uma nova moeda para uma Nova Ordem Mundial, o processo de desvalorizações competitivas se acentuará, assim como o de inadimplência de países. A correção nas taxas dos títulos do Tesouro dos EUA acarretará rupturas adicionais nos mercados de derivativos e provocará o colapso.

    Tal evento derrubará o dólar e provocará uma fuga em escala internacional dessa moeda, levando ao aprofundamento da economia e do comércio mundiais. Não haverá mais emprestadores. Com todas as moedas em liquefação, o ouro e os metais preciosos brilharão como nunca, e, então, a elite financeira tentará impor a moeda única para a Nova Ordem Mundial.

    Não se sabe quando a elite financeira puxará o plug dos mercados acionários e de obrigações, já quase no fundo do poço. Mas, sabe-se que ela o fará quando sobrevir algum incidente internacional de monta. Ela já desestabilizou todo o sistema econômico e financeiro, que está em processo de colapso, de que são testemunhas o desemprego em forte ascensão e as maciças operações de resgate.

    A confiança em Wall Street e nos sistemas bancários se evaporou, assim como também nos respectivos instrumentos financeiros, não obstante os contribuintes já tenham comprometido – via governo – US$ 10 trilhões (equivalentes a 71% do PIB) para resolver a crise financeira, valor suficiente para resgatar mais de 90% de todas asa hipotecas!!! O próprio dólar míngua em relação ao ouro e à prata, em decorrência da repetição dos mesmos “erros” do passado, que pretendem a recriação de nova bolha às custas de vultosas dívidas e déficits públicos e, em seguida, de inflação galopante, no bojo de uma crise sincrônica global, até que seja possível a implantação de uma Nova Ordem Mundial e da moeda única. Por isso, ninguém pretende, por ora, salvar a economia.

    Cerca de US4 30 trilhões já foram perdidos nos mercados mundiais (metade do PIB global) nos últimos 19 meses. O comércio mundial já caiu 45%. Os bancos não emitem mais cartas de crédito, instrumentos financeiros que financiavam 90% do comércio mundial. Não poderá haver crescimento mundial quando os bancos se recusam e não podem emprestar. Em 2009, haverá uma depressão mundial entre 3% e 5%.

    Enquanto isso, o FED e o Tesouro dos EUA – os Senhores do Universo – estão tentando provocar uma desvalorização massiva do dólar via inflação. Mas, isso não funcionárá, pois os demais países estão fazendo o mesmo. Em certo momento, eles assumirão a desvalorização global conjunta, cenário em que o ouro e a prata brilharão e os mercados acionários e de obrigações despencarão, abrindo espaço para a implementação do pretendido projeto, o da criação de Novas Ordem Mundial e da moeda unica global.

    Com isso, o processo de globalização conduzido pela elite financeira buscará superar a contradição entre a desregulação dos mercados, a abolição dos controles de capitais e de câmbio e a continuidade de governos nacionais impondo políticas econômicas distintas em áreas separadas do mundo, com suas moedas nacionais e respectivos bancos centrais e orgão reguladores. O capital exige um mundo único, uma só moeda, um Banco Central Global (BCG) e uma única comissão supervisora mundial, o big brother regulador global.

  • Aqui o jornal O Estado de São
    Aqui o jornal O Estado de São Paulo, reproduziu o artigo do Richardson e Roubini mas enfiou a tesoura no título cortando "Nacionalizem os Bancos", e publicou apenas "Agora Somos Todos Suecos".
    O venerando jornal paulista exala a sua ideologia por todos os seus poros, não é fiel nem na reprodução de artigos de terceiros. Por isso a partir de agora só podemos ler na fonte original.

    http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090215/not_imp324032,0.php

  • No setor financeiro a
    No setor financeiro a confiança só aparece se o dinheiro governamental for a fundo perdido ou seja, de graça.
    Se é para o governo se tornar acionista os "reis do capitalismo selvagem" não aceitam cabresto, preferem a morte. Será?

    Quem diria, os reis do capitalismo sendo salvos pelo socialismo selvagem, em pleno solo Americano.

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