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Desemprego: máquinas roubam vagas nos EUA

Do Wall Street Journal / Valor

Máquinas roubam emprego na recuperação dos EUA

JANUARY 17, 2012, 5:21 P.M. ET

Por TIMOTHY AEPPEL

Em nenhum outro período de recuperação desde a Segunda Guerra, as companhias americanas foram simultaneamente tão rápidas em aumentar seus gastos com máquinas e software e tão lentas em contratar pessoas para operá-los.

Parte disso está na velha história de substituir trabalho por capital. Mas a combinação de incentivos fiscais temporários — que permitiram às companhias dar baixas contábeis de 100% dos investimentos no primeiro ano— com quedas históricas nas taxas de juro de curto e longo prazo, levou esse processo às últimas consequências.

As contratações, enquanto isso, têm sido muito reduzidas para fazer o desemprego cair rapidamente. Empregadores adicionaram trabalhadores a uma taxa mensal de 142.000 durante os últimos seis meses, metade do ritmo necessário para diminuir de forma significativa o desemprego, que está agora em 8,5%, um nível muito alto para os padrões americanos.

Billy Cyr, diretor-presidente da Sunny Delight Beverage Co., uma companhia de bebidas baseada em Cincinnati, no Estado de Ohio, disse estar comprando equipamento em parte porque está uma pechincha. “Quando o custo do capital sobe, é duro justificar uma compra de equipamento e isso pode, ao contrário, resultar em um aumento do emprego usando os equipamentos existentes”, diz ele, com a adição de turnos ou horas extras. Hoje, o oposto está acontecendo.

Em vez de contratar, companhias como a Sunny Delight e a fabricante de motosserras Stihl Holding AG estão investindo em tecnologia e outros meios de tornar suas operações mais rápidas e mais produtivas. A história sugere que investimentos que aumentam a produtividade acabam criando empregos e melhorando os padrões de vida. Tanto a mecanização das lavouras quanto a automação de fábricas suscitaram temores de um desemprego permanente que não se concretizou, já que a eficiência na produção de commodities básicas criou emprego em todo tipo de serviços.

A maioria dos economistas diz que o surto de produtividade de hoje terá o mesmo efeito benéfico — no longo prazo. No curto prazo, entretanto, essa explosão de eficiência permite às companhias retardar as contratações.

E isso está acontecendo mais nesta recuperação do que no passado. Gastos em equipamento e contratações são geralmente mais sincronizados. Desde que a economia começou a crescer de novo em 2009, as compras de equipamento e software cresceram 31%, ajustadas pela inflação. No período do pós-guerra, somente na esteira das recessões de 1982 e 1970 esses gastos cresceram mais rápido. Já o emprego no setor privado cresceu apenas 1,4% no mesmo período. Apenas as recuperações que se seguiram às recessões de 1980 e 2001 viram um crescimento menor.

Erik Brynjolfsson, um economista do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), diz que as companhias começaram a incrementar seus investimentos para reduzir mão-de-obra na primeira metade da década passada. O ponto de virada, diz ele, ocorreu durante a recessão, quando as companhias perceberam que podiam fazer muito mais do que pensavam com menos gente.

Mesmo com o ressurgimento da demanda, as companhias estão mantendo a bola rolando ao gastar mais dinheiro com maquinaria e automação das funções. “É como se a economia tivesse revelado um potencial para reduzir mão-de-obra que não havia sido concebido até a recessão”, diz Brynjolfsson.

É claro que o aumento de gastos com capital não é o único empecilho às contratações. Alguns empregadores dizem que eles contratariam mais se não houvesse tantas incertezas, desde a durabilidade da demanda até as políticas de impostos. Outros reclamam que não conseguem encontrar trabalhadores qualificados para a vagas que têm abertas.

A Sunny Delight está gastando US$ 70 milhões para expandir suas cinco fábricas de suco nos Estados Unidos, um investimento anual recorde para a companhia, que até 2004 era uma divisão da Procter & Gamble Co. Uma grande parte desse gasto destina-se a renovar um velho complexo situado sobre uma ferrovia em Littleton, Massachusetts, nos arredores de Boston. Entre as melhorias, está uma nova e iluminada “sala de injeção”, onde máquinas injetam quatro sabores de suco simultaneamente numa linha de alta velocidade. Antes, os sabores eram injetados em linhas separadas, espalhadas por cantos diferentes da planta. Cada linha requeria um operador. Apenas duas pessoas devem controlar a nova linha combinada.

Para o início do próximo ano, a empresa também espera que veículos automatizados substituam a frota de empilhadeiras da fábrica e seus operadores.

“Algumas pessoas que hoje operam empilhadeiras passarão a supervisionar os veículos automatizados”, diz o gerente da planta, Dan Gray, circulando pelas cavernosas instalações, onde um líquido quente fluindo por canos suspensos exala um aroma adocicado. “Mas os outros terão que mudar para outros trabalhos na planta.”

O resultado final será menos gente. Quando a renovação terminar, Littleton terá menos 30% dos seus 140 trabalhadores originais.

O outro lado

A Casa Branca diz que o cenário de emprego seria pior se não fosse pelo salto nos investimentos em negócios. Jason Furman, vice-diretor do Conselho Econômico Nacional do governo americano, diz que os gastos com equipamento e software criaram emprego em negócios que estão se expandindo, assim como nas companhias que fabricam e instalam equipamentos. Contrações, no entanto, são movidas principalmente por crescimento da demanda — e esse lado da equação tem sido mais brando.

“Para a economia como um todo, nós estamos tendo um nível de crescimento de emprego perto do que esperávamos, dada a expansão econômica que temos hoje”, diz ele.

O incentivo fiscal que o Congresso americano tornou lei no ano passado está tendo o efeito desejado, dizem os executivos.

“Torna as decisões mais fáceis”, diz Brandyn Chapman, presidente da Phoenix Stamping Group LLC. Essa empresa de capital fechado está obtendo incentivos fiscais para US$ 1,5 milhão em máquinas que ela comprou para suas fábricas na região de Atlanta.

Chapman está comprando equipamento porque há uma demanda crescente para seus produtos, que incluem peças usadas em máquinas agrícolas e trailers reforçados. “O custo do capital certamente ajuda nas decisões”, diz ele. A Phoenix está contratando por causa do aumento da demanda. Ela planeja acrescentar 12 empregos de produção ao seu quadro de 115 empregados.

Essa tendência na direção de máquinas e software que reduzem mão-de-obra não se limita apenas às fábricas. W. Brian Arthur, um economista do Centro de Pesquisas da Xerox em Palo Alto,Califórnia, diz que as empresas estão cada vez mais usando software e computadores no lugar de pessoas no vasto setor de serviços do país. Muitas empresas, por exemplo, usam automação para processar pedidos ou enviar contas.

“Não é somente máquinas substituindo pessoas, embora haja bastante disso”, diz Arthur. “É a digitalização da economia inteira.”

Luis Nassif

Luis Nassif

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