Falta um blockbuster na estratégia de Nelson Barbosa

Desde o governo José Sarney, havia uma fórmula infalível da área econômica romper com impasses políticos: lançar um pacote econômico. Após o Real, escassearam os pacotes, mas permaneceu o fantasma da volta da inflação e do risco de fim de mundo para romper com impasses.

O que está faltando à área econômica é encontrar o pacote de medidas que opere como um divisor de águas. Obviamente, não poderá ser da natureza dos velhos pacotes, interferindo em contratos e investimentos. Mas a urgência do momento exige mais do que a peregrinação do Ministro Nelson Barbosa por gabinetes de economistas, pregando o bom senso.

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Há um conjunto de situações que podem ser somadas para criar o impacto político.

Uma delas é a possível entrada em massa do capital chinês na economia.

Este mês Barbosa irá à China conferir de perto as intenções chinesas. Da embaixada, a China tem acenado com profundo interesse em entrar, até sozinha se for o caso, em obras de fôlego, como a ferrovia Bioceânica e o Trem Bala.

A prova do pudim está nos PMI (Procedimentos de Manifestação de Interesses). Por ele, uma empresa procura o governo e manifesta interesse em assumir a concessão de determinada obra. Acertados os ponteiros, ela se incumbe de preparar os estudos técnicos necessários para a licitação.

Se houver interesse real da China, as empresas locais poderão recorrer aos PMIs.

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Barbosa passou a quinta-feira passada em São Paulo conversando com economistas de várias linhas econômicas sobre sua estratégia para a recuperação da economia.

Tem insistido que, ao contrário do que a imprensa vem propalando, o Congresso tem se mostrado receptivo às propostas. Muitos parlamentares sentem necessidade de prestar contas para sua base, sobre o que está fazendo para enfrentar a crise.

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Rebateu, também, as análises taxando de inócuas as medidas de liberação do crédito.

Com o pagamento dos passivos do Tesouro aos bancos públicos, há uma enorme massa de recursos no BNDES, indexadas à TJLP.

A estratégia é utilizar melhor o que já existe. No caso do crédito agrícola, os financiamentos pré-custeio têm grande demanda, inclusive para antecipar a compra de insumos.

O BNDES retomou as linhas de capital de giro para exportação e para PME (Pequenas e Microempresas) a um custo de 15% a 19% ao ano, inferior aos 40 e tantos por cento das linhas convencionais. O desafio será chegar na ponta, já que é uma operação indireta.

Cobrando 15% ao ano, abre-se grande oportunidade de refinanciar as prestações de bens de capital.

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A mesma lógica foi seguida na permissão para os trabalhadores utilizarem até 10% dos recursos do FGTS e da multa de rescisão como garantia para o crédito consignado. Não haverá nenhum saque adicional, mas apenas o que está previsto na legislação. Mas, utilizando o FGTS no financiamento, o trabalhador terá mais poder para barganhar redução das taxas de juros.

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Já houve mudanças importantes nas concessões, com pelo menos quatro avanços sistêmicos.

  1. Foram revistas as regras para a concessão de rodovias e ferrovias, conferindo maior flexibilidade. Antigamente, era obrigatório a duplicação depois de cinco anos. Agora, há um gatilho levando em conta a demanda.

  2. Nas telecomunicações, está em andamento a reforma do marco regulatório, passando do regime de concessão para o de autorização, sem as obrigatoriedades das concessões.

  3. Flexibilização da Lei do Petróleo para campos antigos da rodada zero. Quando foi votada a Lei do Petróleo, a rodada zero incluiu um conjunto de campos, com prazos de concessão de 8 a 10 anos. Muitos deles têm potencial para mais, mas as concessionárias não investem por falta de prazo. Esticando o prazo, destrava-se parte dos investimentos da Petrobras e de outros campos.

  4. Os técnicos do TCU (Tribunal de Contas da União) estão prestes a terminar os estudos para três ramais das ferrovias. Continuaram trabalhando em pleno recesso carnavalesco.

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Mesmo assim, ainda falta o blockbuster.

O caminho poderá estar em um grande plano descentralizado de destravamento dos investimentos em saneamento, articulando operações que permitissem aos municípios quitar suas dívidas com a União com suas concessões de saneamento.

A partir daí a recuperação da economia poderia se dar na ponta dos municípios.

Mas é medida que exige mais do que a correção técnica: demanda criatividade e coragem políticas.

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • otimas sugestões - esta dos


    otimas sugestões - esta dos emprestimos da china, se eu fosse decidir,

    decidiria a favor imediatamente...

  • O governo precisa de grana

    Grana na mão é vendaval.

    Por mim ia em cima dos cartões de crédito, verdadeiro imposto, já que atinge a população, impacta a inflação e não devolve nada em contrapartida para o povo e o Brasil.

    Questão de vontade de fazer o bem, sem ver a quem.

    • A ideia é boa, meu caro, mas

      A ideia é boa, meu caro, mas desse mato não sai coelho. Ou - com o perdão do trocadilho - se sai, alguém mata.

  • O que é desanimador é ver que

    O que é desanimador é ver que há uma oportunidade imensa de dar uma mudança no ânimo do povo. Para isso, Dilma poderia atacar em duas frentes ao mesmo tempo= como o país está sem dinheiro, fazer uma redução no setor público em tudo aquilo que não é necessário e que é privilégio descarado chamado pelo pomposo nome de direito adquirido: cortar carros oficiais, bolsas moradia, bolsa maitê proença (rs), auxílio paletó, e evitar que funcionários públicos ganhem várias vezes mais que o presidente da república. Isso, além de render dinheiro a um governo com pires na mão, traria o povo ao lado de Dilma e faria com que gente que enche a boca pelo impeachment mostrasse a sua real cara ao ter que defender o indefensável. E o segundo é oque o post falou = propor saneamento total no país, pois é o modo mais eficiente de combater o maior inimigo do país agora que é o mosquito aedes - além de ser um setor que emprega bastante gente. Mas Dilma - e aí não sei se é por falta do mínimo de visão política ou por medo de enfrentar setores muitíssimos organizados da sociedade - prefere entrar num pântano chamado reforma de previdência social - pântano que FHC afundou e Lula sequer chegou perto. 

  • Independente do jogo de paixões. ...
    Alguma coisa consistente precisa ser feita, nem que seja um mergulho no precipício. ..Ficar sentado a beira do caminho é que não dá mais. ...

  • blockbuster

    Não sei...

    estou achando mais fácil uma bananeira dar uvas do que um ministro fraco

    de um governo trôpego conseguir tamanhas proezas...

    Os fundamentos da economia brasileira foram corroídos durante estes anos de (des)governo.

    Não há capacidade ténica nem política em ninguém do governo para iniciar uma concertação deste nível. Há?

     

  • Foi perversa a liberação do FGTS para garantir empréstimos

    bancários e pagar mais juros para o bradesco e cia, seria muito melhor para o trabalhador o governo ter liberado o FGTS direto para consumo, mas a Dilma sempre tem que garantir um agradinho a mais para o Trabuco, seu primeiro ministro. 

  • Blockbuster é a reforma tributária

    Nassa, extinguir o IPI e criar um IVA não-cumulativo para substituir PIS/COFINS e CIDE é a grande carta na manga que Dilma e Barbosa ainda não enxergaram.

    Primeiro, porque vai baratear vários produtos e serviços, permitindo assim a queda dos juros de forma consistente. Com menos pagamento de juros, o governo vai ter bala na agulha para sair do sufoco.

    Segundo, porque o povão vai ver resultado imediato com a queda dos preços. Um amplo acordo entre governo e os vários setores da economia garantiria o repasse da economia com a redução dos impostos para o consumidor final.

    Eventual queda na arrecadação seria compensado com tributação de lucros e dividendos, CPMF, fim dos juros sobre capital próprio, criação do IGF, além de aumento do ITR para grandes propriedades e mansões rurais.

    O barateamento do custo de vida do brasileiro, criará o meme necessário para a retomada da confiança. Tudo pode ser aprovado em 90 dias, e entraria em vigor em 2017.

  • Se cada empresa contratar 2 funcionários, o Brasil sai da crise

    No curtíssimo prazo, um programa de isenção de impostos sobre folha de pagamento para empregos criados nos próximos 24 meses. A isenção valeria para empresas que aumentassem o quadro de funcionários em relação a dezembro de 2015.

    Meta: 10 milhões de empregos. Slogan: Se cada empresa contratar dois funcionários, o Brasil sai da crise.

     

    • Enrolar e desenrolar....

      E coloca eles para fazer o quê? A propósito o distinto solucionador de problemas vai contratar quantos?

      Inventar obrigações para os outros é muito fácil.... pegar no cabo do guatambu é bem diferente.

      • Alecão, deixa de abobrinha!

        Alecão, coloca os funcionários para cuidar da demanda que o reaquecimento da economia vai gerar.

        Planos mirabolantes são os mais celebrados, mas planos que funcionam, em geral, são simples.

        Faça as contas: 2 empregados por empresa. Vai aumentar o PIB! Não tem como fugir da matemática.

        Tá ai a solução!!!

        Esquece esse plano chinês, Nassa!

  • blockbuster chinês faz água... é o salve-se quem puder.

    "Há um conjunto de situações que podem ser somadas para criar o impacto político.

    Uma delas é a possível entrada em massa do capital chinês na economia."

    Valor Econômico 11/02/2016 ­ 05:00

    Pettis alerta para elevado endividamento da China

    Por Camila Souza Ramos

    Enquanto os mercados buscam tatear o tamanho do impacto global que terão as reformas econômicas em curso na China, que busca promover o crescimento por meio do consumo doméstico, aumentar a participação do setor privado e distribuir renda, Michael Pettis, professor da Universidade de Pequim, chama a atenção para o crescimento galopante da dívida chinesa nos últimos cinco anos. Para o economista, o país não tem mais do que dois ou três anos para controlar esse endividamento.

    Em entrevista concedida ao Valor por email, o economista disse que a China chegou ao fim de uma era de 30 anos de crescimento acelerado e que agora passa por uma correção de rota. Ele cita a tese do economista Albert Hirschman, para quem todo país que apresenta um "milagre" de crescimento que dure dez anos ou mais também desenvolve profundos desequilíbrios econômicos. Desde a Segunda Guerra, houve entre 30 e 40 desses casos, mas o chinês foi "o mais extremo na história". "Em todos os casos, sem exceção, depois de um período inicial com altos níveis de investimento direcionado ao setor produtivo, esses países ficaram saturados e viram-­se incapazes de absorver investimento adicional de forma produtiva sem antes implementar novas reformas liberalizantes.", afirmou Pettis.

    Para ele, a China, como todos os países que passaram por "milagres" de crescimento, enfrenta a oposição de "interesses escusos" ­ ligados no caso a elites regionais ­ que se beneficiaram do antigo modelo de crescimento, o que faz com que o país continue a apresentar altas taxas de investimento. "É por isso que, em todos os casos, a dívida começa a crescer mais do que a capacidade de serviço da dívida e, em algum ponto, ameaça desestabilizar a economia." Há poucos dados oficiais sobre a situação do endividamento da China, mas sabe­-se que nos últimos cinco anos o país registrou o maior crescimento de dívida da história. O Instituto McKinsey estima que a China tenha encerrado 2014 com endividamento total equivalente a 282% do PIB. Cálculos do Centro de Finanças e Política do Massachusetts Institute of Technology (MIT) indicam que o endividamento do governo central está em cerca de 40% do PIB. Pettis estima que o endividamento chinês tem crescido duas a três vezes mais rápido que a capacidade de pagamento de juros e amortizações.

    Ainda que a situação tenha se agravado a partir de 2011, o aumento da dívida do país não pegou as autoridades de surpresa. Já em 2007, o então premiê Wen Jiabao disse em pronunciamento que tinha conhecimento dos desequilíbrios que estavam sendo gerados pelo rápido crescimento do país e prometeu revertê­-los. Para Pettis, não é coincidência que, logo após esse discurso de Jiabao, tenham surgido denúncias na imprensa local de grupos ligados às elites provinciais que estavam tentando bloquear os esforços de reforma. "Foi por isso que, assim que Xi Jinping chegou ao poder, formalmente em 2013, mas na realidade em 2012, suas primeiras políticas foram centralizar dramaticamente o poder e quebrar a força desses interesses estabelecidos, que serão necessárias se ele for implementar as reformas propostas na Terceira Plenária" do Partido Comunista da China, anunciadas em 2013, afirmou o economista. Entre as medidas aprovadas na plenária estão a permissão para que o capital privado se engaje em projetos estatais, a quebra do monopólio estatal em alguns setores, a ampliação do setor privado bancário para instituições de pequenos e médio porte, a permissão para que agricultores se mudem para centros urbanos, além do aperfeiçoamento do mecanismo de fixação da taxa de câmbio e a liberalização da taxa de juros.

    A mudança de rota implica em forte desaceleração do PIB, que deve passar a crescer "bem abaixo de 3%", na avaliação do economista, freado sobretudo pelo enfraquecimento da taxa de investimento, enquanto o consumo deverá ganhar fôlego mais lentamente. Ainda assim, a redução do ritmo da demanda do país por produtos importados deverá continuar tendo impacto no mercado de commodities. "A China apenas começou seu ajuste, e eu acho que os preços de algumas commodities industriais, como a borracha, continuarão a cair", afirmou Pettis.

    Em contrapartida, as reformas econômicas em curso também implicam uma "qualidade de crescimento" melhor e com uma distribuição de recursos "muito mais justa e mais eficiente", na avaliação do economista. "Se Pequim conseguir controlar o processo e começar a difícil tarefa de transferir a riqueza dos governos e elites locais para as famílias chinesas comuns, a China conseguirá enfrentar os desafios extremamente difíceis que encara, e o governo de Xi vai merecer um grande aplauso por ter feito o que poucos governos puderam realizar", diz.

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