Por Assis Ribeiro
Do iG
Brasil está melhor na crise, mas precisa exercer liderança com sabedoria
Novo papel do País no cenário internacional de crise é tema de discussão na abertura do 8º Fórum de Economia da FGV
A boa situação da economia brasileira e o novo papel desempenhado pelo País no cenário internacional de crise foram os temas centrais abordados na abertura do 8º Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), nesta segunda-feira na capital paulista.
Na avaliação do coordenador do encontro, o ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira, o ambiente econômico internacional se deteriorou muito nos últimos meses, mas essa não foi a primeira crise dessa nova safra. Segundo Bresser, essas turbulências estão acontecendo com frequência desde o fim dos anos 80, após uma forte desregulamentação dos mercados financeiros, durante o governo do ex-presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan.
“A crise começa em 1987, com os problemas da bolsa de Nova York”, dissse o ex-ministro. “Na era Reagan houve uma desregulamentação financeira violenta que resultou em sucessivas crises até 2008, e se agrava agora com a crise na região do euro”, acrescentou.
Para Bresser, o fato de o Brasil ter pela primeira vez uma economista na Presidência da República é uma vantagem. “Ter alguém que entende a dimensão dos problemas atuais é muito bom. Claro que ela não resolverá todos os problemas, mas é uma vantagem tê-la no comando do País”, disse.
Para Benjamin Steinbruch, presidente da CSN e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o Brasil nunca esteve tão bem e as grandes potências econômicas nunca estiveram tão mal. Segundo o representante do setor industrial, o desconhecimento da crise ainda é grande, e a questão é muito mais séria do que se imagina. “Isso nos dá força num momento em que todos estão atrapalhados, mas precisamos agir com sabedoria para exercer a nossa liderança e manter o nosso bom momento”, destacou.
Segundo Steinbruch, nos últimos oito anos entramos em um novo momento, que priorizou o emprego, a renda, o consumo e o desenvolvimento.”E a diminuição do emprego pode quebrar essa corrente, o que seria muito prejudicial. A redução da atividade econômica já vem sendo sentida a três ou quatro meses. O Banco Central foi corajoso, mas devia ter tomado essas medidas mais cedo. Seria muito ruim agora se não continuasse essa queda na taxa de juros” acrescentou.
O presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Pedro Luiz Barreiros Passos, salientou que as crises são cíclicas, mas a atual turbulência internacional tomou proporções gigantescas, com os Estados Unidos beirando a recessão. “Na Europa, a crise vai além do problema econômico. Dívidas dos Estados se transmitem ao setor financeiro, gerando mais insegurança e volatilidade.”
Passos também reforçou a visão de que o Brasil está muito melhor nesse cenário, mas destacou que há reversão de crescimento forte nos últimos meses. “A consequência disso pode ser uma desaceleração mais intensa dos investimentos”, disse.
De acordo com o presidente do Iedi, a inflação segue pressionda pelos preços dos serviços, dificultando o controle. Mas a redução da taxa de juros pode ajudar a mitigar os efeitos da crise e retomar uma trajetória importante de queda da taxa básica da economia. “É preciso cuidar para que não se tenha idas e vindas, aprimorando a política fiscal para evitar mais pressões na inflação”, destacou.
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