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A ultra-direita na UE

Por Luiz Eduardo Brandão

Nassif, em compensação, a velha Europa talvez venha a ter uma pedra no caminho na figura do presidente tcheco, que assume a presidência rotativa da União Européia, justo neste momento de crises. Vaclav Klaus, além de um direitista destemperado, é, veja você, antieuropeu! Em seu artigo de hoje no Estadão, Gilles Lapouge analisa, com a inteligência costumeira, essa encrenca em potencial:

Novo líder impõe desafio à UE

Gilles Lapouge*

A República Checa assumiu ontem a presidência rotativa da União Europeia (UE), substituindo a França. A mudança veio em uma péssima hora, já que coincide com uma nova crise: o ataque contra a Faixa de Gaza e a campanha de Israel contra os radicais do Hamas.

Nesse momento perigoso, a diplomacia mundial se encontra completamente emperrada. George W. Bush não é mais do que uma sombra do que foi à frente dos EUA. Obama ainda não assumiu o governo e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, já não preside a UE.

Sarkozy está esperneando. Ele, que adora o perigo, os problemas internacionais e as viagens de avião, está agora restrito a seu pequeno espaço francês. Ele lamenta, e nós também. Mesmo que exista uma certa irritação com o comportamento vaidoso, infantil, egocêntrico de Sarkozy, é preciso reconhecer que o que não lhe falta é talento e carisma.

Sua presidência da UE foi uma maravilha. Generoso, temerário, imaginativo, enfrentou com brio dois desafios: a tensão militar entre Rússia e Geórgia e, no último trimestre, a derrocada dos bancos em todo o mundo.

Ele conseguirá não se envolver na crise em Gaza? Seu ministro das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, tentou obter um cessar-fogo dos israelenses, que não foi aceito por Israel. Circularam rumores em Paris de que o presidente francês pode seguir, na próxima segunda-feira, para Israel.

Sarkozy conseguiu reintroduzir a UE no cenário mundial como uma “grande potência diplomática”. Com sua saída, a Europa se tornará de novo o “anão” político adormecido que foi sob a presidência do apagado José Manuel Barroso?

Infelizmente, essa hipótese é ainda mais séria porque o país que assume agora a presidência, a República Checa, não inspira confiança. O presidente checo, Vaclav Klaus, detesta a Europa. Recusou-se até a içar a bandeira europeia no “castelo” de Praga (sede da presidência checa).

VOLTA

Klaus é um homem de extrema direita. Considera Sarkozy um charlatão. Liberal frenético, discípulo de Margaret Thatcher, demoliu o plano de salvamento das finanças mundiais. “É como uma gripe: se vamos ao médico, ela dura uma semana. Se não fazemos nada, ela dura sete dias”, disse.

Ele já deixou claro sua repugnância pela UE. Para ele, o bloco é um “projeto socialista”, portanto, uma vergonha. Não fará nada para dar força ou consistência a tal ideia. E o mais chocante é que ele pretende criar um partido “antieuropeu”.

Saber que a UE será presidida, durante seis meses, por um furioso inimigo da Europa provoca calafrios. É verdade que seu primeiro-ministro, Mirek Topolanex, embora não seja um devoto da Europa, é uma pessoa mais séria. No entanto, é um homem inexpressivo. E o presidente Vaclav Klaus fará de tudo para paralisá-lo.

Sarkozy, consciente disso, tentou, há algumas semanas, prolongar seu mandato na chefia da UE, mas de um modo muito pouco diplomático. Klaus protestou e o presidente francês precisou recuar.

Contudo, como conhecemos Sarkozy e sabemos que ele tem “formigas” nos dedos, na cabeça, e um pouco por todo o lado, temos certeza que ele vai procurar um meio de achar alguma missão de alto nível na UE. De alguma forma, ele se envolverá, como fez durante sua presidência do bloco, em todas as crises do mundo, especialmente a de Gaza. O espetáculo está apenas começando.

*Gilles Lapouge é correspondente em Paris

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Conversando com franceses,
    Conversando com franceses, muitos têm a mesma opinião do direitista checo, a de que Sarkozy não passa de uma estratégia de comunicação. Alias, todo o seu governo. Quanto ao momento para Vaclav Klaus ser presidente da União Européia, de fato, não poderia ser pior.

  • Nassif,

    A situação da Europa
    Nassif,

    A situação da Europa não é nada boa. Estive conversando com alguns conhecidos meus de Portugal e, ao que parece, a Europa vive uma das maiores crises de sua história, não apenas pela estagnação de um projeto europeu como também pela profunda crise interna verificada em muitos dos seus países - e causada em grande parte por uma exaustão paradigmática tanto no pensamento econômico quanto político.

    Ao mesmo tempo que a esquerda se vê diante do fracasso do socialismo real e saídas como a terceira via acabam se mostrando como mais do mesmo - só que com uma roupagem mais moderna -, a direita da Europa Ocidental também se parece cada vez menos capaz de se reinventar e dá alguns sinais estranhos que remetem a erros terríveis do passado.

    No tangente ao projeto da europeu, veja bem, as coisas ainda estão em curso, para ser sincero no meio do caminho, e nos últimos anos vários retrocessos aconteceram, como derrotas de propostas europeístas em referendos e o surgimento de movimentos anti-europeus tanto à esquerda quanto à direita em muitos países.

    As coisas aparentemente iam bem quando estavam restritas à Europa Ocidental; eram tempos mais simples onde o que havia era um clube de países muito ricos e alguns poucos desafios como Espanha, Irlanda, Grécia e Portugal, que, excetuando o primeiro caso, tratavam-se de países pequenos e facilmente absorvíveis pelo sistema europeu. A verdade é que os quatro prosperaram e superaram várias instabilidades que os acometiam há tempos.

    Quando da inclusão de alguns países da Europa Oriental, o que se viu foi a exposição das fragilidades da UE; em primeiro lugar temos as grandes economias européias não tão bem quanto estavam há vinte ou trinta anos atrás para bancar essa absorção; em segundo lugar, isso desviaria, potencialmente, dinheiro que poderia ser utilizado - ainda - na equiparação dos países mais pobres da Europa Ocidental, o que teve um impacto muito grande em Portugal, cuja economia vai muito mal e se mostra muito dependente de recursos europeus - dessas quatro economias ex-pobres da EO, a única que conseguiu usar os recursos da UE para andar de fato muito bem com as próprias pernas foi a Irlanda, as demais carecem dessa "muleta", principalmente Portugal.

    A Europa Oriental, por sua vez, se apresenta dominada por uma extrema-direita populista, altamente corrupta e revanchista - não raro apresentando uma fidelidade maior aos EUA do que ao projeto europeu e se preocupando muito mais em traçar uma política anti-russa do que pró-européia.

    Como se não bastasse, essa história de presidência rotativa da UE chega a ser uma piada porque pode resultar na liderança de algum Estado inexpressivo ou de um líder anti-europeu - e depois a República bananeira somos nós...

    Nessa enorme confusão, a única coisa que parece unir a Europa nesse momento é a xenofobia, a crise econômica, o racismo e um profunda incerteza quanto ao fututo próximo.

  • Essa UE, é um Mercosul
    Essa UE, é um Mercosul melhorado. Lá como aquí, cada país ou governante tem seus interesses e ideologia ,próprios, que sempre aparecem
    Foi fundada,quando perceberam que um ía destruir o outro comercialmente, com a ajuda de nações fora do continente.
    O único passo dado à frente, foi a criação do euro, que os amarrou entre si e agora, por causa da crise , fica difícil desatar.
    Esses países querem ter "vida coletiva" e "vida independente", simultâneamente, como se isso fosse uma coisa fácil, estando um ligado "umbilicalmente" ao outro.
    A criação da União Européia, não foi de "livre e espontânea vontade, mas sim, uma exigência para sbrevivência . Sdc

  • Quando li sua matéria sobre a
    Quando li sua matéria sobre a volta da velha Europa, fiquei pensando nesses movimentos de extrema-direita. Neo-nazistas, neo-facistas, que tem crescido na resistência aos imigrantes, principalmente árabes. Vejo que a América, incluindo agora os EUA, estão indo para a esquerda, enquanto que a Europa, para a direita. Será que isso é uma generalização precipitada?

  • Desculpe, considerar a UE em
    Desculpe, considerar a UE em situação ruim ou um Mercosul melhorado significa apenas desconhecimento de que lá eles tem uma única e valorizada moeda, um banco central, e até um parlamento e uma corte européias, coisas impensáveis por estas bandas, sem contar que o número de países aderentes é muitas vezes superior ao do nosso mercosul, infelizmente para nós. Sem mencionar o nível de vida da população, suas garantias sociais, etc. Reuniões de seus chefes de estado são bastante frequentes, produtivas e cordiais, mesmo considerando diferentes ideologias, quase sempre, gente tão diferente quanto Merkel, Zapatero, Gordon Brown, Sarkozy , ou mesmo o italiano bizarro chegam a um acordo de posições. Quando se trata de defender seus interesses continentais eles lá agem em bloco, bem diferente dos seguidos estranhamentos que ainda persistem no Mercosul, para nossa desgraça, motivados por gente atrasada ou colonizada e sobretudo extremamente preconceituosa e excludente. Fora que na França por exemplo, eles mesmos, dizem até na televisão, consideram a direita de Sarkozy equivalente as posições do "esquerdista" (sei que é piada chamá-lo assim) Obama, nunca próximo ao irracional Bush.
    Tudo bem, a liderança de Vaclav Klaus será um teste, só isso, nada comparado a fobia que corre solta na sulamérica.
    Se o tcheco for louco como afirmam acima, bom, se ele tirar a república tcheca da UE, não será esta que morrerá de fome?

  • Estas uniões internacionais é
    Estas uniões internacionais é o samba do crioulo doido.

    Entretanto escapa aos leigos olhares a dificuldade da simplicidade.

    No genérico estas instituições e os institutos que as determinam são sistemas inteligíveis, governáveis e amistosos.

    Rompido qualquer dos elementos precedentes e o sistema desaparece.

    Aristóteles já preconizava:

    *****************

    Compor é a arte de achar e representar a diversidade dentro da unidade.

    *****************

    Assim, desde muito tempo atrás, já se sabe que a unidade, a inteireza da união dos países, por seus institutos, é condição sine que non para o efetivo desempenho de sua missão.

    A sociedade vive, não no seu corpo material, mas na sua parte etérea, que transita facilmente pelas oito direções, como em nuvens ideológicas que se cristalizam e dispersam ao sabor dos acontecimentos, assim , no meu humilde ponto de vista, o que realmente importa é o conceito de baricentro deste sistema, que é o foco de observação necessário e suficiente para avaliar o caráter determinante e preponderante no momento instantâneo de uma dada sociedade humana.

    Como as discussões atuais e presentes se furtam deste tipo de abordagem, em minha opinião, tudo o que se escreve e especula carece de seriedade e realismo.

    A mídia está jogando para a platéia e fazendo o serviço para a elite dominante, se queremos ser donos do nosso próprio nariz temos que fazer a lição de casa e desenvolver nosso próprio sistema e monitora-lo segundo nossos próprios interesses.

  • A esposa de Kinsk é tao
    A esposa de Kinsk é tao magnifica qto Carla Bruni ? Se sim, td bem, toleraremos os destemperos. Se não é só o Lula nao convidá-lo prá vir ao Br. Seis meses passam rápido. Rss

    Não temam. É a velha europa. Produz genios - fora da política ou dentro dela qdo está em guerra. E isso acontece desde os tempos em a união dela foi feita a ferro e fogo pelo imperio romano.
    Mas uam coisa é preciso deixar claro - ela ainda é a 1a defesa contra os radicais do leste, movido por sanguinaria ideologia politico-religiosa. Sempre deve estar forte e armada. E com bons generais e soldados. O resto é políticaem.

  • Escrevo muito especificamente
    Escrevo muito especificamente para dizer que a UE não é um Mercosul melhorado. É um projeto longo, cuidadoso, que não queimou etapas e com uma forte inspiração histórica.

    Há sim um núcleo cultural que dá sentimento de pertencimento aos naturais dos diversos países. Claro que há inúmeras identidades nacionais. Há, também, mais fortes que as nacionais, as identidades regionais.

    As particularidades não impediram o projeto, ainda que tenha havido vários reveses, como as rejeições francesa e holandesa ao projeto constitucional.

    Quero esclarecer que não sou entusiasta, nem sou contrário, à UE. Digo que ela existe, sim, para muito além do que é o Mercosul.

  • O tal de Vaclav não é de
    O tal de Vaclav não é de extrema-direita: é apenas um político folclórico, um Artur Virgílio com mais votos. E num ponto ele tem razão: disse que nem que quisesse poderia prejudicar a UE, porque as decisões são tomadas pelos países mais importantes da União, tanto faz quem ocupe a presidência semestral.
    O único perigo que representa é, nos banquetes, mandar trocar champanhe por vodka ou sei-lá o que bebem na República Tcheca (eu lá tomei vinho e cerveja mesmo...rsrsrs).

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