Categories: Economia

O nó dos juros sobre o câmbio

Do Valor

Câmbio só vai mudar se juro baixar, avalia Dilma 

Sergio Leo e Claudia Safatle | De Pequim e Brasília
14/04/2011 

A presidente Dilma Rousseff está convencida que não há como evitar a valorização do real frente ao dólar enquanto não houver condições de reduzir os juros internos, que atraem capitais estrangeiros em busca de ganhos de arbitragem, contribuindo para a apreciação da moeda nacional.

Segundo disse o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, ao Valor, “a presidenta Dilma acha que enquanto não conseguir botar o juro para baixo não adianta tentar mexer no câmbio”. Pimentel é um dos auxiliares mais próximos da presidente, a quem acompanha em viagem à China. Dilma já havia dito, terça-feira, que espera trazer a taxa de juros a patamares equivalentes ao padrão internacional durante seu mandato, nos próximos quatro anos.

AqueA questão cambial está na raiz de uma divergência na área econômica do governo entre os que insistem em segurar a taxa de câmbio no patamar de R$ 1,65, e outro grupo, que se mostra hegemônico nas últimas semanas, que advoga uma atitude mais serena do governo, de deixar o dólar se desvalorizar mais ao sabor do mercado e aceitar a ajuda do câmbio na batalha contra a inflação.

No primeiro time estariam o presidente do BNDES, Luciano Coutinho – que fez um desabafo recente, num encontro com empresários, contra a apreciação do real – Pimentel e o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, seria o principal defensor da segunda hipótese, junto com o presidente do BC, Alexandre Tombini, em conformidade com a posição de economistas da Casa das Garças, que debateram esse tema em reuniões nas últimas semanas.

Dilma atribuiu a apreciação preocupante do real frente ao dólar, moeda que vem enfraquecendo sistematicamente no mercado internacional, às taxas de juro brasileiras e à política de afrouxamento monetário dos países desenvolvidos. Ontem, o dólar encerrou o dia cotado a R$ 1,591. Em dezembro, valia R$ 1,666.

Ela admitiu ver dificuldades no controle do câmbio, com os movimentos especulativos provocados pela grande liquidez existente no mundo. “Não é uma situação que resolvamos por decreto”, argumentou Dilma, assegurando que o governo está atento para adotar medidas para que o problema “não se torne maior do que já é”.

“Vamos continuar perseguindo (a estabilização da taxa de cambio”, mas sabemos que há toda uma série de mecanismos que leva a processos de bypass (burla dos controles) etc.”, disse ela, no único pronunciamento feito à imprensa durante a visita à China.

Para o empresário Daniel Feffer, vice-presidente da Suzano Holding, os sinais emitidos por Dilma são encorajadores para o investimento. “Gostei de ouvir que, em quatro anos, a presidente quer atingir juros competitivos”, disse. “Isso é coisa forte, importante, dá confiança ao empresariado”, explicou. “Implica ação planejada que, se for feita conjuntamente, tem mais chance de dar certo.”

Feffer reconhece que a atual taxa de câmbio “é um solavanco” para a competitividade da indústria. O modelo de economia escolhido pelo Brasil leva a esse resultado, diz. “Mas a presidente não é ingênua de dizer que pode baixar juros de pronto. Precisa de muita coisa, esperamos que consiga fazer.” 

Luis Nassif

Luis Nassif

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