O ódio que os jogadores de futebol despertam

Por Marco Antonio L.

Do Diário do Centro do Mundo

Por que os jogadores de futebol são tão detestados?

Por Paulo Nogueira

Por que os jogadores de futebol são tão odiados? É o tema, hoje, de um artigo do site da BBC. O momento é oportuno: está prestes a começar mais uma temporada da Premier League, a primeira divisão do futebol inglês.

Não é tão difícil entender. Os jogadores ingleses ganham muito e entregam pouco. A seleção inglesa é, costumeiramente, uma piada. Joga feio como a Itália – com a diferença de que apanha. Em comparação, como as Olimpíadas mostraram, atletas de outros esportes recebem muito menos e entregam muito mais. Os heróis esportivos ingleses hoje estão longe dos campos de futebol, da heptatleta Jessica Ennis e ao corredor Mo Farah.

Se não bastasse a combinação miserável de muito dinheiro e pouco resultado, os futebolistas ingleses de ponta são mascarados e mercenários. Acabaram se tornando completamente distantes dos torcedores. Vinte anos atrás, um jogador típico ganhava 15 vezes mais que um torcedor típico na Inglaterra. Hoje, ganha centenas de vezes mais. Para você ter uma ideia: Robinho levantava 165 000 libras por semana, cerca de meio milhão de reais, no Manchester City.

Troque a Inglaterra pelo Brasil: os valores são menores, mas o quadro é parecido. Odiamos os jogadores de futebol pelas mesmas razões. Achamos que são mercenários, mascarados e incompetentes. Há muito de paixão nisso, é certo. Mas também há muito de verdade.

Admiramos as meninas do vôlei olímpico, como notou meu mano Kiko, mas não gostamos nada dos jogadores que foram batidos pelo México. E ficamos ainda mais irritados quando vemos imagens como a que Neymar divulgou no twitter: os torcedores, caso consigam dinheiro suficiente para pegar um avião, se espremem na classe econômica. Jamais terão nada parecido com as mordomias aéreas exibidas orgulhosamente pelo jovem astro do Santos depois de seu fracasso olímpico.

O paradoxo — que vale para Inglaterra, Brasil e muitos outros centros de futebol – é que os jogadores não têm culpa pela razão número 1 do ódio que despertam: o dinheiro tão exagerado. Não são eles que estipulam os próprios salários.

Os clubes é que pagam – e quebram. Virtualmente todos os grandes times na Europa estão quebrados, do Real Madrid ao Chelsea, do Barcelona ao Arsenal. Com frequência cada vez maior, na Inglaterra, você vê magnatas de fora comprando times financeiramente precários. Os ingleses vão deixando de ser donos do próprio futebol.

Os milionários estrangeiros, como o russo Roman Abramovic, dono do Chelsea, não hesitam em perder muito dinheiro no futebol em troca do prestígio social que ser dono de um grande time traz. As contratações caríssimas que fazem e os salários estratosféricos que pagam são pouca coisa diante da fortuna que eles têm. O Chelsea é absurdamente deficitário, assim como o atual campeão inglês, o Manchester City, do xeique árabe  Mansour bin Zayed.

Ninguém sabe o que vai acontecer quando entrar em vigor a chamada Lei Platini, pela qual estarão impedidos de participar de torneios europeus clubes cuja contabilidade dependa de superricos como Abramovic e Mansour.

É inevitável que os salários dos jogadores diminuam – e com eles, ao menos em parte, o ódio que sentimos pelos jogadores. No mundo inteiro, gostávamos muito mais deles quando pareciam um de nós, com a diferença de que estávamos na arquibancadas e eles nos gramados.

Luis Nassif

Luis Nassif

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