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O poder de contágio da crise

Do O Globo

Economia global tem cenário positivo, dizem especialistas

Crise da dívida europeia, para economistas, não tem o poder de contágio visto em 2008

O clima de incerteza que ronda a economia global preocupa, mas nem de longe se assemelha ao pânico iniciado em 2008, com a quebra do banco Lehman Brothers, e agravado no ano seguinte, quando o PIB mundial encolheu 0,8%. Embora o momento exija cautela, as perspectivas de crescimento são positivas, mesmo que em níveis pouco expressivos. O motivo, destacam especialistas, é que o problema hoje está localizado na Europa e tem um poder de contágio menor que o do caos vivido pelos Estados Unidos há quatro anos.

Para Reinaldo Gonçalves, professor de Economia Internacional da UFRJ, é equívoco afirmar que existe uma crise global este ano. Em sua avaliação, as “locomotivas do mundo” — EUA, China e as potências europeias, sobretudo a Alemanha — estão crescendo e acelerando gradativamente o ritmo de suas economias.

— Em 2009, o epicentro da crise foi a maior economia do mundo. Hoje, a crise é localizada em alguns países periféricos da Europa, cujo poder de transmissão da turbulência é infinitamente menor. Fora dessa região, de relevância global praticamente insignificante, o mundo está relativamente bem — analisou.

Professor de Economia Internacional da Universidade de Brasília (UnB), Renato Baumann diz que o grande desafio hoje é fazer com que a curva de crescimento volte a apontar para cima:

— A economia está andando de lado, mas ainda preserva índices positivos. O problema hoje é motivado por um fator conhecido, que é a crise de dívida soberana, geograficamente localizado em parte da Europa, região que vem perdendo importância como parceiro comercial.

Mesmo sendo uma crise localizada, seus reflexos são sentidos mundo afora, e ninguém se arrisca a prever sua extensão. André Biancareli, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), prevê que, pelo menos até a próxima década, o mundo amargará um patamar de crescimento bem inferior ao dos anos que antecederam a crise de 2008.

— O mundo ainda tenta encontrar um substituto para o modelo de crescimento guiado pelo sistema financeiro, que entrou em colapso devido ao seu descolamento do sistema produtivo. Hoje, a exemplo do que aconteceu depois da crise de 1929, todo mundo tenta impulsionar seu crescimento por meio das exportações. Mas se todos querem exportar em vez de consumir, não há demanda pra ninguém. Por isso, apesar de achar que dificilmente veremos uma quebradeira geral como a do Lehman Brothers, acredito que haverá uma espécie de estagnação global.


Luis Nassif

Luis Nassif

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