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O tamanho da crise brasileira

Aqui você verá uma série de matérias que saíram hoje, sobre os efeitos positivos das políticas anticíclicas empreendidas no Brasil nos últimos meses.

Um dos impactos positivos advirá da redução do superávit fiscal (a “gastança”, na expressão primária de alguns analistas).

Diz o Valor de hoje:

“Boa parte dos economistas estima um superávit primário (receitas menos despesas, excluindo gastos com juros) de 3% a 3,5% do PIB neste ano, bem abaixo dos 4,07% do PIB obtidos no ano passado pelo setor público (União, Estados, municípios e estatais). O economista-chefe da corretora Convenção, Fernando Montero, lembra, contudo, que o superávit “oficial” ficou nesse nível por causa do aporte de R$ 14,2 bilhões para o Fundo Soberano, um mecanismo contábil usado pelo governo para transferir recursos fiscais de um ano para o outro.

(…) Montero projeta um superávit primário de 3,3% do PIB neste ano, considerando possível um número de 3% ou até menos. De um lado, a expansão das receitas vai perder fôlego, por causa do menor crescimento. De outro, a União já se comprometeu com despesas correntes mais altas, devido aos aumentos já contratados para o funcionalismo e ao reajuste do salário mínimo, que corrige dois terços dos benefícios da Previdência. Além disso, a promessa do governo é intensificar o ritmo de execução dos investimentos.

“Uma queda do superávit primário dessa magnitude será um estímulo importante para a atividade econômica”, ressalta ele, destacado que “a redução do esforço fiscal pode ficar próxima a 2 pontos percentuais do PIB, o que é mais do que muitos analistas projetam de crescimento para a economia neste ano”. Montero aposta numa expansão de 2,2% para o PIB em 2009, em parte por acreditar que a política fiscal terá um efeito expansionista sobre a atividade”.

Outro ponto importante são os efeitos dos investimentos públicos, especialmente da Petrobrás e das obras previstas no PAC (conforma nota colocada ontem aqui).

Um terceiro é o efeito da Bolsa Família e do aumento do salário mínimo, ajudando a fortalecer o consumo das classes C-, D e E.

Começa a tomar corpo a idéia de que a crise, no Brasil, será bem menor do que se estimava inicialmente. Mesmo assim, cautela e caldo de galinha.

A economia mundial não parou de cair. Há um artigo didático do Luiz Carlos Mendonça de Barros sobre as mudanças estruturais na economia global, com o novo padrão de consumo norte-americano (em níveis extraordinariamente baixos, graças à virtuosa “democratização do crédito”, enaltecida pelo meu colega Sardenberg).

Lições até agora da crise, que antecipamos em alguns artigos de dezembro:

1.A proatividade das políticas públicas foi essencial para segurar a peteca.

2.Passado o período de terrorismo, haveria um refluxo da ênfase às notícias ruins. Esse processo foi antecipado pelo calo doendo das empresas de mídia, com a queda da publicidade.

3.Passado o período de desova de estoques, a economia começaria, de fato, a mostrar qual o novo patamar de crescimento.

Em relação ao último item, ainda não há clareza no horizonte. Creio que só para maio se terá uma idéia melhor sobre qual o novo ritmo do crescimento.

De qualquer forma, o que importa é que jã há uma noção um pouco melhor sobre o fundo do poço. E não está sendo tão drástico quanto se supunha.

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Para quem está do lado de
    Para quem está do lado de fora das regras da teoria economica, e olha o desenrolar dos fatos com base em informações disponíveis na internet mundial, foi fácil antecipar que o Brasil se sairá muito bem nesta crise mundial, ao tempo em que os Estados Unidos terão que fazer pacote de socorro para pagar o anterior pacote de socorro.

  • O Luiz Carlos Mendonça de
    O Luiz Carlos Mendonça de Barros escreve em qual veículo? Coloca o link do artigo citado, por favor.

    Está dando pau no Mac, na hora de colocar os links. Vou tentar do PC.

  • Caro Nssif,
    A minha convicção
    Caro Nssif,
    A minha convicção é de que o tamanho do buraco da crise no Brasil depende umbilicalmente do tamanho do buraco nas economias centrais. E por lá isso ainda é uma incógnita. Deve ficar mais claro ao longo desse ano.

  • Nassif,

    com estas políticas
    Nassif,

    com estas políticas anticíclicas citadas por você, pode-se prescindir da atuação do COPOM?

    Este órgão não tem se mostrado disposto a colaborar com o combate à crise.

    Qual seria a queda ideal da taxa de juros?

  • Nassif, muito oportuna essa
    Nassif, muito oportuna essa reportagem.

    Temos bons indicadores que pelo menos "enxergamos" a água mais turva que caracteriza o fundo do poço. É momento de uso total da inteligência do governo e forças econômicas do país. Estamos navegando em mares revoltos e repleto de icebergs, o timoneiro não pode dormir, são 24 horas por dia no timão, qualquer distraída batemos no iceberg e, colocamos tudo a perder !

    Enquanto o Brasil navega com relativa segurança, vemos grandes economias em situação dramática,caso do Japão, totalmente dependente da economia externa vê sucumbir rapidamente o que demorou anos para construir !.

    Se conseguirmos navegar nesse ritmo durante os próximos 4 meses,teremos a felicidade de encontrar águas mais calmas.

    O Brasil tem tudo para sair dessa crise mais forte do que entrou. Que nossos políticos não brinquem em serviço. Se não ajudarem, pelo menos que não atrapalhem.

  • Acabei de assistir uma
    Acabei de assistir uma entrevista da Ivete Sangalo (uma das musas do CANSEI , mas que eu aprecio muito) no Jornal Hoje, falando muito sobre nada e um pouco sobre a crise. Diz ela que não gosta de ler (igualzinho o Presidente, mas ela POOODE!!!), que se informa PRINCIPALMENTE pela internet, (o PIG deve estar se descabelando) e que o momento é de apreensão, que é preciso ter cuidado, mas que pra ela está tudo muito bem e que comparando este mês com o mesmo período do ano passado (então o antes e o durante a crise) o movimento em shows está 30% maior e que ela não tem do que se queixar. Parece que muita gente “graúda” também não gosta de crise e está mudando o discurso porque já está CANSADA dessa conversa baixo astral… enfim: uma luz no fim do túnel, que não é da Phillips!!!

  • O tamanho da crise, no
    O tamanho da crise, no Brasil, é justamente o tamanho da gastança em que o brasileiro se meteu de mais ou menos uns três anos pra cá ...e o tempo da crise, quem vai nos dizer é o desemprego em que estamos começando a desenfrear....fiz algumas perguntas no meu blog.....óbvio que se não tiverem coisas melhores pra se fazer, rsssss ...www.blig.ig.com.br/blogdoluizhenriquelusvarghi

  • O Siemaco, sindicato das
    O Siemaco, sindicato das empresas de asseio e conservação, aprovou um reajuste para a categoria de 8%, que entra em vigor agora em fevereiro.

    Para aqueles que falavam que não teríamos aumentos com ganhos reais em nenhuma negociação, está ai uma prova de que eles estavam errados.

    O sindicato representa em sua maior parte trabalhadores de classes C e D.

    Essas negociações, junto ao reajuste do mínimo podem garantir algum alívio nessa "crise" toda.

  • O problema é que as ações dos
    O problema é que as ações dos governos tanto do Brasil quanto das nações ricas são para "tapar" buraco, ou seja eles tomam decisões quando o "rombo" já tem acontecido.

    EX: O governo brasileiro reduziu o IPI depois que percebeu o "rombo" no setor automotivo.

    Estão sempre "correnado atraz do rabo".

  • É duro a vida de cidadão
    É duro a vida de cidadão brasileiro. Há uns anos atras, o Elizer Batista deu uma entrevista (página amarela da Veja)celebrando sua saída da Vale do Rio Doce onde ele pregou o seguinte: "o brasileiro tem de deixar de poupar, de aplicar em títulos públicos e consumir; o futuro das economias está no consumo dos seus povos". A nossa musa do carnaval está retratatando este fenômeno.

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