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Os derivativos tóxicos dos nossos neoliberais

Boa coluna do Vinicius Torres Freire, na Folha, sobre a palestra de Armínio Fraga no Instituto Fernando Henrique Cardoso, sobre a crise financeira mundial. Fraga trouxe a visão de Paul Volcker – com quem, recentemente, compartilhou de estudos sobre os erros do modelo financeiro.

É engraçadíssima a comparação entre a visão derivada dos nossos neoliberais – do “professor de Deus” Alexandre Schwartsman ao jornalista Carlos Alberto Sardenberg, entre outros – e o pensamento dos teóricos centrais do modelo. Como no Brasil os modismos sempre chegam depois, levará algum tempo para os discípulos assimilarem as novas lições dos mestres.

Conclui-se que há muito mais derivativo tóxico ideológico na mídia do que nos mercados brasileiros.

O que disse Volcker a Armínio, segundo Vinícius:

“Fraga relatou uma conversa que teve faz alguns meses com Volcker, o lendário presidente do Fed que domou a grande inflação americana dos anos 70 com pancadas de juros. Volcker perguntou a Fraga quais as contribuições essenciais da teoria econômica, nos últimos 20 anos, para melhorar a política monetária. Fraga disse que teve dificuldade em responder. Suas lembranças mais importantes eram de contribuições feitas nos anos 60 e até meados dos 70 do século passado.

A outra pergunta de Volcker era sobre engenharia financeira (criação de instrumentos como derivativos exóticos). Sem engenharia financeira (e computadores e liberalização etc.), coisa que ganhou impulso no final dos anos 70, o mundo financeiro seria outro e menor. Fraga disse que o emprego da engenharia financeira “passou do ponto ótimo”.”

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Só que as pancadas de juros,
    Só que as pancadas de juros, que em um primeiro momento são uma contenção da inflação, em doses exageradas leva ao problema oposto, que é a recessão, já que a diminuição do consumo gera desemprego e, por consequência, mais recessão e mais desemprego, num ciclo letal. Armínio Fraga não se preocupou muito com isso por aqui. Assim, gostaria de saber o que um e outro pensam sobre o motivo do surgimento da atual crise e como debelá-la. Presumo que não seja com o mesmo remédio, obviamente. Pensando bem, acho que não gostaria de saber, não.

  • caro nassif:
    trabalhava na
    caro nassif:
    trabalhava na area comercial de uma empresa multinacional do setor de transportes e uma vez indaguei ao diretor da empresa o que era engenharia financeira,ele respondeu que era o trabalho de levantar recursos para a inplantar recursos financeiros para a execução de um projeto,muito bem,agora vejo que pode ser tambem a implantação de aparelhos de hardware no processo?
    o que é afinal engenharia financeira?

  • Aqui do Alto Xingu, os índios
    Aqui do Alto Xingu, os índios observam que o que parece ter passado do ponto ótimo foi a bomba financeira construída por alguns terroristas, a qual aplicava altíssima alavancagem (relação ativos/capital) a instrumentos financeiros ilíquidos (sem preços e sem mercados), então, multiplicava o seu poder destruidor mediante seu financiamento nos mercados de dívida de curto prazo (overnight, mercado interbancário e de papéis comerciais). Em seguida, os terroristas elevaram exponencialmente o efeito devastador da bomba montando-a sobre uma base de portfólios (carteira de instrumentos financeiros) fabricada com títulos tóxicos (sem garantia de pagamento), como, por exemplo, hipotecas subprime (de pessoas sem renda, emprego ou propriedade) e empréstimos dos mais diversos tipos, todos altamente alavancados. Finalmente, envolveram toda a bomba com um tipo de derivativo de crédito que garantia rapidíssima propagação da explosão por todo o sistema financeiro global. Curiosidade: essa bomba aterradora foi montada nos últimos 25 anos com o auxílio dos órgãos de fiscalização, os quais, por sinal, garantiram toda a segurança aos terroristas enquanto as montavam e vendiam, com vultuossímos lucros, por todo o planeta. A primeira bomba explodiu em meados de junho de 2007, quando dois hedge funds (fundos de… proteção!) do Bear Stern não puderam atender às chamadas de margem. Daí em diante, a reação em cadeia seguiu-se com grande furor, destruindo as camadas tectônicas do sistema financeiro global, que desabou fragorosamente. Evidentemente, nenhum terrorista morreu ou foi preso. Mas, sabe-se que milhões de famílias perderam suas casas, milhares de fábricas foram destruídas e dezenas de milhões de trabalhadores em todo o mundo ficaram sem emprego. Os que conseguirem manter seu emprego serão fortemente tributados para pagar os esforços de reconstrução, a serem liderados pelos próprios terroristas, pressurosamente contratados pelos governos a eles subservientes do mundo inteiro. Dificilmente alguém poderia imaginar uma explosão com tal poder de destruição e um assalto às arcas do Tesouro de todos os países com tamanha eficiência. Mas, os contribuintes de todo o mundo são compreensíveis e mansos: em hipótese nenhuma deixarão os terroristas desamparados…afinal tudo não resultou de um pequeno detalhe: o de terem ultrapassado o ponto ótimo. Peninha deles, coitados. Deixem eles armar outras...

  • Aqui do Alto Xingu, os índios
    Aqui do Alto Xingu, os índios informam os efeitos da crise global sobre o ritmo ANUAL de crescimento de alguns países no quarto trimestre de 2008:
    1) Estados Unidos: -3,8%; Eurozona: -6,0%; Alermanha:-8,0%; Japão:-12,0%; Cingapura: -16,0%; e Coréia: -20,0%. A economia mundial está agora em queda livre com a aceleração da contração do consumo, dos investimentos de capital, dos investimentos habitacionais, da produção, do emprego, das exportações e das importações. Mas, que se há de fazer, a bomba financeira que especuladores desenvolveram "passou do ponto ótimo". Coitadinhos... Pena que eles não vão pagar a ciclópica conta, que ora está sendo lançada às costas dos contribuintes por meio da nacionalização das incontáveis instituições especuladoras.

    The latest data on Q4 2008 GDP growth (at an annual rate) around the world are even worse than the first estimate for the US (-3.8%): -6.0% for the Eurozone; -8% for Germany; -12% for Japan; -16% for Singapore; -20% for Korea. The global economy is now literally in free fall as the contraction of consumption, capital spending, residential investment, production, employment, exports and imports is accelerating rather than decelerating.

  • Nassif,
    Sardenberg está em
    Nassif,
    Sardenberg está em Beagá no lançamento do livro "Neoliberal não, liberal". Perguntado sobre o neoliberal disse que não existe, ou o cara é liberal ou não é...respondeu!
    Não é nenhum convite, muito pelo contrário, a opinião dele não me interessa.

    Neoliberal é a caricatura do liberal. E existe às pencas nos rádios.

  • Para mim, o Boris Casoy
    Para mim, o Boris Casoy supera Sardenberg em suas colocações claramente neoliberais e alinhadas ao pensamento PSDBista entreguista.

  • Li a coluna do Vinicius e
    Li a coluna do Vinicius e pensei o quanto é fácil a mestres e discípulos dar explicações sobre fatos já ocorridos. Em economia, parecem todos mestres da interpretação. Nem o Actor's Studio faz tão bem.

    Um ano atrás quem falasse isso era do arco do atraso.

  • Aqui do Alto Xingu, os índios
    Aqui do Alto Xingu, os índios consideram falido o modelo financeiro anglo-saxônico desregulado, ora em crise absoluta, imposto aos longo dos últimos 25 anos a inúmeros países pelo lobby dos banqueiros internacionais, com o apoio institucionais dos países mais avançados e com a assessoria institucional do BIS, da OCDE, do FMI, do Banco Mundial, dos bancos centrais e das comissões de valores mobiliários mundo afora. Faliu com esse modelo: (1) a "hitótese dos mercados eficientes" -- que se iludia com a ausência de falhas de mercado, como as bolhas de ativos --; (2) as "expectativas racionais" -- que se choca com os lampejos da economia e da finança comportamental; (3) a "auto-regulação dos mercados e das instituições" -- que se choca com os clássicos problemas de conflitos de interesse na governança, e que são exacerbados nas empresas financeiras; (4) as escandalosas compensações pagas aos executivos financeiros; (5) as idéias como a de que a securitização reduz o risco sistêmico ao invés de aumentá-lo; (6) as agências de classificação de risco que revelaram ao longo do tempo massivos conflitos de interesse; (7) o sistema supervisório que se baseava em princípios, e não em regras estritas; (8) o faroeste financeiro, baseado em falta de regras sobre liquidez, capital, alavancagem, transparência, remuneração de executivos, assunção de riscos; (9) todos os pilares do sistema de Basel II, que ruíram sem sequer entrar em funcionamento; e, finalmente, o mais importante (10) o problema da captura dos supervisores bancários -- via a porta-giratória -- pelo sistema financeiro. Como se vê, de alto a baixo, o sistema financeiro mundial está completamente viciado, eis que erigido pelos próprios banqueiros, com a cumplicidade de governos e organismos inetrnacionais, para desfrutar de total liberdade na busca de objetivos próprios e, com isso, sequestrando cada vez mais parcelas crescentes da renda nacional em todos os países (40% da renda nacional nos EUA em 2007).

  • Aqui do Alto Xingu, os índios
    Aqui do Alto Xingu, os índios informam que, por causa dessa bomba financeira que "passou do ponto ótimo", têm aumentado o spread soberano de muitos países ditos emergentes e, agora, também de países cujos bancos são maiores do que a capacidade do respectivo Tesouro de resgatá-los: Islândia, Grécia, Espanha, Itália, Bélgica, Suiça (quem diria?) e, segundo alguns, até o Reino Unido. E, assim, continua a processo de socialização do giogantesco prejuízo que as operações especulativas do sistema bancário jogaram nas costas dos respectivos contribuintes e até nas nossas, sobre a forma de redução da atividade econômica, das exportações, do investimento, do emprego e da renda. Isso vai continuar enquanto não for constituído um sistema financeiro misto, estritamente regulado para financiar atividades do setor produtivo. Se é que o Brasil queira chegar a algum lugar.

  • Nassif,

    Nao tem como
    Nassif,

    Nao tem como dissociar uma coisa da outra, globalização e avanços tecnologios VS inovação dos mecanismos financeiro.

    (q vc chama de engenharia financeira, mas não concordo plenamente, pq de engenharia tem muito pouco, visto o resultado final disso tudo).

    Enfim, as inovações financeira, que posteriormente causaram a crise, são fruto do meio. Frutos do ambiente dinamico, globalizado e fundado em tecnologia do sec xxi.

    Isso não vai mudar, e não vai ser o saudosismo que vai resolver isso.

    O Volcker foi no ponto. A teoria economica (não só monetaria) depois de Friedman e Keynes, não avançou um centimetro sequer.

    A prova é que todas soluções que buscamos, para uma crise nova, são da "old school".

    Realmente é um momento desafiador pra se viver (principalmente se vc for economista) mas absurdamente interessante.

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