Categories: Economia

Os problemas ainda não enfrentados na área econômica

Por Rafael Bianchini Abreu Paiva

Comentário ao post “Pibinho foi erro de metodologia, por Chico Lopes

É bem possível que a métrica do IBGE esteja subestimando o PIB do setor financeiro, pois nos anos de 2011 e 2012 houve mudança estrutural na taxa Selic e no spread bancário. Entretanto, mesmo aceitando o argumento de que o PIB está crescendo mais rápido, o ambiente inspira cautela:

– A taxa básica de juros está adequada: a Selic em 7,15% a.a, combinada com inflação levemente acima do centro da meta, em 5,5% a.a., resulta em taxa real inferior a 2% a.a., o que é compatível com a realidade brasileira, em que gargalos em infraestrutura e indexação generalizada da economia tornam nossa inflação mais alta que outros países emergentes como China, Chile e México;

– A redução nos juros manteve o déficit fiscal moderado, levemente abaixo de 3% do PIB, pois o menor gasto com juros compensou as importantes, mas ainda insuficientes, desonerações tributárias. Com isso, a DLSP segue estável em torno de 35% do PIB;

– A queda da Selic para patamares internacionais contribuiu para depreciação cambial. Atualmente, o câmbio está acima de R$ 2/USD, com lenta depreciação. Nesse processo, o BACEN intervêm no mercado quando o câmbio tende a cair abaixo de R$ 2 e quando a volatilidade é excessiva.

– A CEF e o BB foram utilizados para forçar os bancos privados a diminuírem o spread bancário, o que se provou acertado;

– O mercado de trabalho apresenta comportamento satisfatório: desemprego pouco acima de 5%, apesar do fraco desempenho da economia;

– A desigualdade na distribuição de renda continua caindo e o Programa Brasil Carinhoso sinaliza para a erradicação da miséria no médio prazo.

Por outro lado, há graves problemas que não têm sido enfrentados pelo governo:

– Inexistência de mecanismos privados de financiamento de longo-prazo para a produção. O uso excessivo do BNDES depende de sucessivas capitalizações do Tesouro Nacional e é insuficiente para promover desenvolvimento sustentável;

– Infraestrutura precária, que hoje não pode mais ser atribuída à crise fiscal. O problema agora é burocracia excessiva, uma lei de licitações que nunca funcionou e uma dificuldade estrutural em direcionar a poupança privada para projetos de longa maturação;

– Baixa produtividade da mão de obra: nos anos 2000, o crescimento foi garantido com incorporação de mão de obra, o que agora não é mais possível, pois o desemprego historicamente baixo gera necessidade de aumentos de produtividade;

– Carga tributária alta demais para um país emergente, complexa demais e que prioriza tributos indiretos, mais regressivos e que penalizam principalmente a indústria;

Em outras palavras, o modelo atual tem mostrado que a política macroeconômica adequada, apesar de salutar para o crescimento sustentável, não é suficiente. Nesse sentido, é imprescindível a adoção das seguintes reformas:

– Incentivos para a canalização de poupança privada para investimentos de longo-prazo em infraestrutura. Nesse sentido, é uma lástima que o FUNPRESP ainda não esteja regulamentado;

– Incentivos para abertura de capital de empresas de menor porte, pois o número de empresas listadas em bolsa no Brasil é muito pequeno se comparado a países de mesmo porte;

– Reforma da lei de licitações, para dar mais agilidade aos investimentos públicos. A lei 8.666/93 é cheia de passos burocráticos que não aumentam controle, só desperdiçam tempo com formalismos inúteis. O regime diferenciado de contratações pode sinalizar a direção das reformas na lei 8.666/93;

– Privatizações e concessões em alguns setores de infraestrutura, como aeroportos. Se, por uma lado, o neoliberalismo dos anos 90 foi marcado por uma crença excessiva nas benesses do setor privado, não podemos ficar presos na ideia de que todos os setores são estratégicos e devem estar sob controle do Estado;

– Investimentos em educação, que devem focar principalmente na construção de creches, o que, além de ser importante política educacional, liberam mão de obra feminina; O direcionamento integral dos royalties do pré-sal para a educação é salutar.

– Reforma tributária, diminuindo o peso dos tributos indiretos sobre a indústria e pequenas empresas. Ademais, não é possível conviver com uma carga tributária extremamente complexa como a brasileira.

Enfim, apesar de o governo da presidenta Dilma estar na direção certa no que diz respeito às políticas macroeconômicas e sociais, ele tem feito pouco para realizar reformas estruturais para destravar os investimentos.

Luis Nassif

Luis Nassif

Recent Posts

Justiça determina novo prazo para prescrição de ações de abuso sexual infantil

Em vez de contar a partir do aniversário de 18 anos da vítima, prazo agora…

3 horas ago

O que diz a nova lei para pesquisas com seres humanos?

Aprovado pelo Senado, PL segue para sanção presidencial e tem como objetivo de acelerar a…

4 horas ago

Da casa comum à nova cortina de ferro, por Gilberto Lopes

Uma Europa cada vez mais conservadora fala de guerra como se entre a 2ª e…

4 horas ago

Pedro Costa Jr.: Poder militar dos EUA não resolve mais as guerras do século XXI

Manifestantes contrários ao apoio dos EUA a Israel podem comprometer a reeleição de Biden, enquanto…

5 horas ago

Economia Circular e a matriz insumo-produto, por Luiz Alberto Melchert

IBGE pode estimar a matriz insumo-produto nos sete níveis em que a Classificação Nacional da…

6 horas ago

Os ridículos da Conib e o mal que faz à causa judia, por Luís Nassif

Conib cismou em investir contra a Universidade Estadual do Ceará, denunciada por uma postagem na…

6 horas ago