Os rumos da crise

Coluna Econômica – 02/02/2009

Tornou-se tarefa difícil saber como será 2009 para o Brasil. Será um ano mais difícil do que 2008, obviamente. Mas deve-se levar em conta que, devido à explosão do crédito, 2008 foi um ano atípico, com o PIB sendo puxado pelo aumento do consumo.

Se a comparação for com 2007, os números deixam de ser tão dramáticos. Haverá ainda um trimestre duro, mas ameno perto do que está ocorrendo no resto do mundo, especialmente Estados Unidos, Europa e Ásia.

***

Emprego

A expectativa é que os dados de janeiro mostrem alguma elevação do desemprego. “O índice estava em 7,5%, e o avanço gradual deve levar a um resultado de 8% no fim do trimestre”, diz Tomas Málaga, economista-chefe do Banco Itaú. “Obviamente é um processo longo e demorado que vai se ajustando com o tempo. O problema não será com as demissões que vierem a ocorrer, mas com as vagas que deixarão de ser criadas”.

Renda

O indicador também deve desacelerar, com foco concentrado na indústria por ser um segmento com renda relativamente alta. “No setor de serviços, creio que o desempenho pode empatar, mas na indústria a queda de renda trará impactos importantes”, diz Emilio Alfieri, da ACSP (Associação Comercial de São Paulo).

Consumo

Após avançar entre 7% e 8% em termos anualizados no terceiro trimestre, a expectativa é que os dados do quarto trimestre se contraiam para algo em torno de 5% e 6%, e os dados de janeiro fiquem em torno de 3%. “Na primeira quinzena de janeiro, a consulta ao SPC caiu 2,7% e o cheque desacelerou 6,2% ante a primeira quinzena do ano passado. Apenas em dezembro, a consulta ao cheque subiu 5,1% por conta do 13º salário”, comenta Alfieri, ressaltando que os prognósticos para o período não são dos mais animadores. “Em janeiro haverá queda. Fevereiro é um mês curto por conta do Carnaval, e se não houver queda, o ‘empate’ de resultados já estará bom”.

Restrição de demanda

Até o ano passado as restrições ao crescimento estava na oferta de insumos e de mão de obra qualificada. De acordo com Sondagem Industrial da FGV, neste trimestre a restrição maior será de demanda. Vai prevalecer uma retração do consumidor e por conseqüência das empresas que estavam ampliando sua capacidade, importando, comprando, fazendo construção civil e bens de capital.
Estoques
Houve uma redução importante dos estoques do setor automobilístico, o que é bom sinal. Nos demais setores, os estoques continuam elevados. Apenas no segundo trimestre deverão ter efeito as medidas de corte de juros e a retomada da demanda internacional, diz Málaga. Mas os efeitos maiores se farão sentir no segundo semestre.

Exportações

Málaga lembra que só se fala na queda do mercado doméstico. Mas as exportações estão caindo mês a mês. O Itaú trabalha com projeção de queda de 19% nas exportações devido à contração do comércio mundial como um todo. É bom lembrar que a crise do crédito terá novas rodadas. Há uma quantidade expressiva de grandes empresas européias e americanas inadimplentes. O que deverá dificultar bastante a normalização do mercado internacional de crédito.

Luis Nassif

Luis Nassif

View Comments

  • O que deu para mim perceber é
    O que deu para mim perceber é que muita gente vai ganhar dinheiro com esta crise em cima dos paises em geral. Note-se a sugestão "filantrópica" de GEORGES SOROS

  • ...continuando... no Forum de
    ...continuando... no Forum de Davos pedindo pelo Brasil, que os paises ricos abram mão do DES (Direito Especial de Saques), no valor de US$1.000.000.000.000,00. Ora, Georges Soros e outras raposas nunca foram bons samaritanos, quando defendem uma causa é porque ha muito direito de saque para eles.

  • Os dados da economia
    Os dados da economia internacional ainda continuam assustadores, na Coréia do Sul em janeiro de 2009 ocorreu uma queda de 32% nas exportações em relação a janeiro de 2009.
    No Japão a venda de veículos caiu quase 30% em relação a janeiro de 2008, e 50% em relação a janeiro de 1990.

    Para o primeiro semestre estão programadas uma série de ações do EUA, Europa e Japão, mas até não agora, além de boas intenções não há um sinal animador.

    No Brasil a lentidão do COPOM diante da ruptura ocorrida em setembro de 2008, agravou a situação e a crise de cofiança dos consumidores se alastrou pelo país.
    Nem uma ação ousada do Governo federal, que não resolveu aguardar as estátiscas e reduziu o IPI e o IOF, além de abrir várias linha de crédito está conseguindo recuperar a confiança dos Consumidores

    Tudo indica que será necessária além de incentivos fiscais, ampliação das linhas de crédito uma forte redução dos juros da Selic.

    Apesar das várias ferrametnas disponíveis para tentar impedir a recessão, a lentidão e a incapacidade do COPOM de responder a atual crise financeira vem assustando todos agentes econômicos, que não estão esperando as estatístticas, já começaram a demiitir de forma assutadora.

    O Problema do Brasil é o COPOM, quase cinco meses depois da ruptura econômica, e o COPOM ainda está aguardando as estatísticas para começar a reduzir mais acentuadamente os juros da Selic.

    Já deveria ter colocado um viés de baixa, mas além de deixar travado os juros da selic, ainda ameaça a cada comunicado suspender ou reduzir os cortes de juros da Selic. É totalmente assustador.

  • Ao Roberto São Paulo.
    Meu
    Ao Roberto São Paulo.
    Meu caro,eu talvez seja o maior admirador das suas observações economicas,quando comentadas neste blog,pelas suas consistencias,e pelo embasamento de sua opinião. Hoje entretanto você escreveu algo,que soou distante da realidade,quando escreveu que "As besteiras do COPOM,entre outras coisas "diminuiu a confiança do consumidor brasileiro" Oh companheiro,isso não,pois o que foi divulgado pelo IPEA em sua última pesquisa desta coordenada,referente a dez/08,foi um surpreendente crescimento desta confiança,o que dá um certo alívio às autoridades economicas,pois este sentimento é importante nas atuais circunstancias.

    Completada a Santíssima Trindade do Raí: Deus Lula, Filho Abílio Diniz e Espírito Santo Henrique Meirelles.

  • O problema do COPOM é a sua
    O problema do COPOM é a sua composição. Nele, só um lado dos interessados na economia tem assento, daí a sua parcialidade na análise dos fatos. Mexer no COPOM hoje é abalar a estabilidade econômica, o que ninguém deseja, mas se o órgão esticar demais a corda, não restará outra alternativa ao Presidente Lula que não reformá-lo. Seria assustador, mas não necessariamente ruim.

  • Há uma crise de confiança que
    Há uma crise de confiança que se reflete na oferta de crédito, cujos desdobramentos, para dizer o mínimo, parecem sombrios tanto no mercado doméstico quanto mundial.
    No entanto, tomando como referência o post sobre as decisões de investimento do governo chines em infraestrutura (http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/02/02/o-salto-para-frente-da-china/), fico em dúvida sobre o peso do aspecto financeiro nessa discussão aqui no Brasil.
    Não haveria aqui em peso excessivo do aspecto financeiro na discussão sobre o enfentamento da crise em detrimento do planejamento econômico?

  • Em termos de vendas de
    Em termos de vendas de imóveis, janeiro está fechando surpreendentemente melhor do que esperávamos em dezembro. A comparação com 2007 é muito boa.

  • Nassif e comentadores,
    Vocês
    Nassif e comentadores,
    Vocês se preocupam demais com estes probleminhas economicos!

    Toda esta grana "perdida" foi, na verdade, escondida por um complô judaico-muçulmano-cristão-budista-confuciano-xintoista-aborígene-inuitico em um pais africano muito próspero (outrora): o Zimbabwe!

    Isto pode ser facilmente comprovado em sua moeda - veja a quantidade de zeros em suas notas aqui:

    http://www.spiegel.de/fotostrecke/fotostrecke-38895.html

    Desconsiderando o idioma, as imagens dizem tudo!

  • o que o governo tem que fazer
    o que o governo tem que fazer agora é tentar ao máximo que o desemprego não se torne o principal assunto dos noticiários, e que começe uma onda em cadeia em todos os setores, o pequeno e medio empresário vai primeiramnete cortar seus investimentos , o que já vem fazendo ,e o segundo passo será diminuir seu quadro de funcionários e isso levará toda a economia pra baixo muito rapidamente. Precisamos com urgencia que o Governo tome atitudes que favoreçam o empregador senão será uma bola de neve e achar que os pequenos não tem força suficiente pra isso é um engano em um país com dimensões do Brasil.

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