A Educação e a reprodução da desigualdade social, por Luiz Claudio Tonchis

por Luiz Claudio Tonchis

Todos nós sabemos que a educação é a porta de entrada para uma vida com mais oportunidades. No Brasil, a escolaridade média vem crescendo nos últimos anos e um pouco mais da metade (51,2%) já ultrapassou a média de escolaridade dos pais. A outra metade, evidentemente, engrossa as estatísticas de evasão escolar e a baixa escolaridade. No entanto, não basta concluir que na Educação Básica ou mesmo no Ensino Superior a qualidade da aprendizagem é ruim e o jovem não se apropria dos conhecimentos (habilidades e competências) que se exigem para o exercício da cidadania nesse novo tempo.

Há duas semanas, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou uma pesquisa com mais de 58 mil pessoas, mostrando a influência direta do nível educacional e de renda dos pais na trajetória profissional dos filhos. Os dados revelam que a escolaridade e o salário dos filhos são mais elevados quando os pais apresentam nível superior completo e empregos melhores. No caso da renda de filhos que não têm instrução, ela também aumenta conforme a escolaridade da mãe ou do pai.

A nossa mobilidade educacional entre gerações ainda é baixa para a população mais pobre e menos escolarizada. Nas famílias em que os pais não são alfabetizados, apenas 4% dos filhos conseguem o diploma de nível superior. Mas a situação é bem melhor no outro extremo: 69,1% dos jovens de famílias cujos pais são formados conseguem concluir o nível superior.

Pois bem, a educação no Brasil revela suas contradições. Por um lado, a educação é a vereda da ascensão social e o alicerce para o desenvolvimento econômico. Por outro lado, o próprio cenário socioeconômico, atrelado à baixa escolaridade dos pais, interfere e afeta a mobilidade educacional e a qualidade do ensino-aprendizagem, e assim, segue reproduzindo a desigualdade econômica, contribuindo para as mazelas sociais e tudo isso gera um círculo vicioso que, evidentemente, representa um entrave para o desenvolvimento econômico geral da nação.

A escola brasileira tem muitos limites a serem rompidos e, muitos deles estão além de seus muros. A melhoria que se espera depende do avanço na qualidade de vida daqueles que se encontram em estado de vulnerabilidade e do desenvolvimento do nível cultural de grande parcela da população. Para isso, deve-se manter e aprimorar a agenda das políticas sociais.

Crianças e adolescentes das escolas públicas, onde está concentrada a maioria expressiva daqueles com baixa renda, necessitam ter mais contato com atividades e conhecimentos culturais e esportivos, imprescindíveis para o seu desenvolvimento cognitivo. Investir na Educação Infantil, nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio fará toda a diferença no futuro desses jovens.  A escola pública que atende à população carente precisa receber muito mais recursos financeiros e técnicos da gestão pública, além do apoio da sociedade em geral, para melhorar a qualidade da aprendizagem.

O apoio de todos os brasileiros é fundamental e isso inclui os setores mais conservadores da sociedade. Os diferentes interesses e visões precisam ser debatidos, confrontados, negociados, até que se chegue a um consenso geral. Já não há mais tempo para puro planejamento, há urgência de ações concretas, precisamos agir ou estaremos condenados ao fracasso num futuro próximo, diante de um mundo globalizado, em processo de evolução acelerada.

Além disso, investir no professor tornou-se um imperativo. Os baixos salários, as péssimas condições de trabalho e o desprestígio da profissão afastaram os jovens dos cursos de licenciatura, pois ninguém quer ser professor de educação básica, inclusive os vocacionados. É muito preocupante esse desinteresse dos jovens pela profissão. Um professor bem formado, bem preparado, com um salário justo e com o apoio do poder público poderá fazer toda diferença na qualidade da educação em nossas escolas públicas.

Redação

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