Arte não é pedofilia, por Rita Lisauskas

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Ilustração: James Vaughan

Jornal GGN – Um dos atos mais convencionais da elite informada, levar um filho a uma exposição em um museu tornou-se um drama, nos últimos tempos, para uma mãe. Porque os conceitos criados por outros de que um pênis não é “apenas um pênis”, mas “pedofilia”, passaram a predominar desde que a exposição do QueerMuseu foi cancelada em Porto Alegre e, mais recentemente, que o MAM trouxe um homem nu como releitura da série Bicho, de Lygia Clark, e uma criança que acompanhava com a sua mãe tocou o pé do artista.
Arte Não é Pedofilia
POR RITA LISAUSKAS
De seu blog

A mãe que os reacionários exigem que eu seja

E que eu não vou ser nunca. Jamais. Em tempo algum

Não, eu não posso achar que um pênis é apenas um pênis. Eu tenho que achar que o órgão sexual masculino em uma exposição de arte que recebeu uma criança com sua mãe é pedofilia. Nossa, se eu não achar isso sou uma péssima mãe, que precisa perder a guarda do filho, aliás. Haja ginástica mental para acompanhar esse raciocínio e seus desdobramentos, mas vamos lá.
Eu também não posso achar que a música da Anitta não é apropriada para crianças sob pena de entrar em contradição com o raciocínio avacalhadamente expandido do parágrafo anterior. Mas se você acha que o ‘Show das Poderosas’ não é música para crianças, uma exposição de arte com um peladão é?, ahaha, te peguei, sua esquerdalha. Desatar esse nó górdio da indigência mental demanda tempo e paciência.

A exposição do MAM não era para crianças, mas recebeu algumas cujos pais acharam por bem levá-las. No mínimo porque, ao se depararem com uma performance de um artista nu, logo lembraram que um pênis é apenas um pênis e que pedofilia, segundo Antonio Houaiss (filólogo e autor de um dicionário, tá? Não é um pensador comunista-petista-vermelho e dicionários são livros aceitos em todos os países capitalistas, ok?) não tem a ver com o órgão sexual masculino fora da cueca, mas sim é a “perversão que leva um indivíduo adulto a se sentir sexualmente atraído por crianças” e a “prática efetiva de atos sexuais com crianças”.

Não, o homem não estava ali pelado esperando pelas criancinhas e nem os pais saíram de casa para mostrar aos filhos um adulto despido. Eles foram ao Museu de Arte Moderna, uma das mais importantes instituições culturais do Brasil e encontraram, entre uma sala de exposição e outra, um artista fazendo, segundo o MAM, uma “leitura interpretativa da obra ‘Bicho’, de Lygia Clark”. As crianças viram a performance, uma delas encostou no pé do artista (e não no pênis, como os compartilhadores seriais de fake news disseram por aí) e a vida seguiu. Na verdade deveria ter seguido, né? Mas, como havia imagens dessa criança em “situação de risco”, alguém muito preocupado com o futuro dela achou por bem compartilhar o vídeo nas redes em nome da “moral e os bons costumes” e para salvar o “país de uma agenda de esquerda”. Salvaguardaram o Brasil, os princípios, mas não a identidade da menina. (Ah, e nem a imagem do meu filho, já que algumas fotos dele que estão no meu Instagram, agora fechado para quem não é amigo, também foram atacadas – mas os direitos à imagem do meu filho são apenas detalhes desimportantes nessa luta por um país ameaçado pela“ditadura da esquerda que apóia a pedofilia”).

Eu já estava na mira do ódio porque apoiei a exposição do QueerMuseu, cancelada em Porto Alegre. Como uma mãe cogita a ideia de levar o filho a uma exposição maldita que fala sobre “crianças viadas”? Ora, ora, uma mãe que quer que o filho conheça arte leva ele a toda parte: para ver as obras da Bia Leite no Santander Cultural, a Monalisa no Louvre, os Toulouse Lautrec no MASP ou os reis fálicos da cultura Mochica onde quer que estejam expostos.

Não serão as irmãs Cajazeiras do MBL ou bots sem rosto do Twitter que vão me dizer o que é arte, o que é literatura e onde eu posso ou não levar meu filho. O fato dele saber que os antigos habitantes do Peru veneravam o órgão sexual masculino vai fazer apenas que entenda o que é o falocentrismo, olha o Houaiss aqui para ajudar de novo.

É a doutrina ou crença centrada no falona convicção da superioridade do sexo masculino”. Um pênis é apenas um pênis. Um órgão que é extremamente superestimado, precisava contar isso também para vocês.

 

Leia mais: Parem de tocar Anitta nas festas de criança. Apenas parem

Leia também: Mas você levaria seu filho a essa exposição?

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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  • Gosto da Rita

    mas nessa ela errou feio. O problema hj dessa polaridade é isso ninguem recolhe as armas quando esta errado. Concordo que é uma escolha dos pais levar seus filhos. Não acho que seja pedofilia, mas uma exposição dessas não deveria aceitar crianças. Nao é conveniente com essa situação de um homem nu uma criança na exposição.

    • Eu já não tenho problema
      Eu já não tenho problema nenhum comentário a nudez, levaria meu filho a está exposição, bem como os levaria a uma praia de naturismo.

    • Questão de opinião mesmo!

      Talvez você tenha problemas com relação ao corpo humano nú, seja feminino ou masculino.

      Tenho 4 filhos, três meninas e um menino. Quando crianças tratávamos o corpo nú com naturalidade. Tomávamos - eu e minha esposa- banho e ficávamos à vontade na frente das crianças, cientes de que à medida que fossem crescendo eles iriam se afastando desta prática naturalmente.

      E éramos leitores de Pais e Filhos, e outras revistas que nos ajudavam a buscar informações de como educar nossas crianças, uma vez que os tivemos na faixa dos 22 aos 28 anos.

      Hoje, as "crianças" estão acima dos 30 e são adultos sem problemas. Nem conservadores, nem liberais ao extremo. Enfim, saudáveis e equilibrados.

      Talvez, nosso costume não tenha recebido nenhuma crítica, por ter sido nos anos 80. Será que hoje, com essa loucura conservadora e religiosa seríamos criticados como país irresponsáveis?

      Era costume de tias e tios e pais e mães, dar um tapinha na bunda das crianças, quando peladinhas, quando eu ainda o era...Uma brincadeira inocente e todos riam. Hoje em dia isso é pedofilia?

      Será que o pessoal desaprendeu que o corpo humano nú, nada tem a ver com erotização?

      • Como eu disse

        não acho pedofilia, só não acho adequado, mas é uma decisão dos pais. O problema que a Rita arrumou uma mega briga com a foto cortada onde a criança estava no twitter. Foi ai que surgiu a confusão.

        • Você é uma pessoa educada...

          Obrigado pelo retorno ao comentário GUERAS.

          Você é uma pessoa educada, assim como eu procurei ser ao comentar suas colocações, ilustrando meu pensamento com fatos pessoais. 

          Discordar e debater para mim é conversar, algo saudável. O incrível é como hoje, as "redes sociais" gerou este tipo de gente como o sopa de letrinhas que me mandou "vai se tratar"!

          Se eles soubessem como são patéticos.

      • Era costume

        e ainda é, dar um tapinha na bunda das crianças peladinhas após o banho.

        Achei legal essa criação que eu também tive. Cuidei de meus irmãos até que eles crescessem e nunca tivemos vergonha de nossa nudez, o que não quer dizer que gostemos que crianças tenham que sair apalpando homens nús em público porque é artístico.

        Há que se levar em conta o que se quer impor como "arte" e as intenções de quem promove.

  • Tempos bicudos

    Nestes tempos medievais de patrulhamento identitário politicamente correto, qualquer noção (e argumento) de contexto está perdendo a legitimidade.

    Tudo agora virou reificação dos signos. A própria ideia de "identidade" é assumida de uma forma fetichizada.

    Tal como o fetiche da mercadoria, de Marx, próprio da lógica utilitarista do pensamento econômico liberal, o que se perde nessa operação de fetichizaação é o reconhecimento das relações (de produção).

    Quando se fetichiza a identidade (ou qualquer signo do reconhecimento social) o que se perde são as relações que conformam o contexto discursivo. É a paranoia da absolutização dos termos.

  • Cadê a moralidade na política

    Pois é, a pouco mais de um ano esta gente tão carola latia e espumava contra a impunidade e corrupção, do PT, claro. Agora que uma conhecida quadrilha tomou o poder, entramos firme em uma luta contra os maus costumes e a arte decadente.

    Depois de rezas e bençãos ao quadrilhão  veio o tomalá-dacá do mais deslavado, apenas para os ungidos. Neste quadro a teologia da sucesso pela fé deve ficar um pouco de lado, funcionou bem com a parca e porca distribuição de renda que foi ensaida, mas não combina com o processo de concentração de renda em curso. E tome sermão moral, saiu a exigência de mais verba para educação entrou escola sem partido. E o dinheiro da educação vai para o estamento parasitário e cartorial hereditário. Certamente esta luta pode ser simbolizada pelo ator pornô na sua luta incansável contra a pedofilia.

  • Todo mundo pode achar o que

    Todo mundo pode achar o que quiser, mas existe uma coisa chamada "Estatuto da criança e do adolecente" e essa turma vai ter que se entendre com a justiça agora. A nota do MAM foi só para tenter se livrar das responsabilidades, não vai adiantar, eles foram negligentes. Nesta vai dançar quem inventou a tal Performance, o ärtista e a mamãe moderninha........ “Art.240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. ......... § 1o : Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a participação de criança ou adolescente nas cenas referidas no caput deste artigo, ou ainda quem com esses contracena. (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008).

  • Me pergunto
    A exposição do corpo nu como releitura ( que acredito personalíssima) de obra de Lígia Clark pode ser válida.
    O que não é válido? Quem julgaria( se é que se deva) o que é ou não?
    Uma vez que estamos no campo das observações interpretaçao pessoal, que tudo venha.

  • O xisda questão, pra mim é:

    O xisda questão, pra mim é: vamos aceitar que um grupo de extrema direita por motivos políticos diga o que pode e o que não pode e, ainda por cima, mobilizar um bando de boçais e ignorantes contra a cultura? Isto está cheirando àquela história da "arte degenrada" que os nazistas usaram.

  • Sem nenhum falso moralismo,

    Sem nenhum falso moralismo, sem nenhum excesso de pudor, não consigo engolir que um cabra pelado deitado no chão seja arte. Pode ser uma deficiência cultural minha, mas eu jamais sairia de casa para ver isso, imagina levar crianças. Em todo o caso, viva a liberdade, se há quem goste disso, bom proveito.

     

  • #

    Pedofilia é quando alguém se interessa sexualmente por crianças. Não é o caso em questão.

    Existe arte moderna de bom gosto e arte moderna de mau gosto.

    Essa foi de mau gosto porque permitiu a interação física de uma criança com o artista nu.

    A criança tocou os pés do artista... E se ela tivesse tocado ou mesmo pegado no pênis?

    Continuaria “tudo bem”?

    Caso haja algum erro aí, esse erro foi de quem?

    Em minha opinião faltou bom senso à organização do evento e à mãe da criança.

     

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