“Duas Férias por Ano” ou Adeus Ano-Novo, por Jean Pierre Chauvin

“Duas Férias por Ano” ou Adeus Ano-Novo, por Jean Pierre Chauvin

A esta altura dos acontecimentos (ou “eventos”, como diriam os adeptos da Nova História), imagino que as(os) internautas já tenham conseguido depositar seus smartphones e desligar as “teletelas” embutidas no mais novo pacote promocional de TV a Cabo. Sim, porque, lembram daquela canção piegas, vertida para o Português? “Então é Natal…”

Sim, sim. Nada como a semana final de cada ano para nos tornar reflexivos, quase piedosos a ponto de aumentar as contribuições espontâneas aos “moradores” de rua (expressão com a qual nunca concordei, porque sugere estabilidade e desejo de viver em tais condições).

Neste ano, dirão para esquecermos o assunto “política”. Deixem para lá as discussões sobre fakenews (o que importa é o resultado, não é mesmo?). O discurso de ódio, que impera desde junho de 2013, subitamente passará a ser ridicularizado, como se se tratasse de palavras “jogadas ao vento”. Sabe como é, “de cabeça quente, dizemos coisas que não queríamos”, bla, bla, bla.

Meus queridos, minhas queridas. Deixem de “bestagem” (é assim que os cearenses fundem “besteira” com “bobagem”). Aproveitem o momento de aparente tranquilidade para perguntar à parentada quando admitirá(ão) que disseminaram a maioria dos boatos eleitoreiros, graças ao vultoso mix de verbas públicas e privadas, como se se tratatasse de fatos incontestes.

Entre uma noz e outra, ou tilintar de taças, pergunte quem está empregada(o) e, caso a resposta seja afirmativa, desdobre: o que você faz para manter o seu emprego? Você se sente digna(o), rebaixando-se cada vez mais em troco de cada vez menos direitos?

À hora de degustar o chester com maior quantidade de hormônios repita aquela frase célebre do filósofo Quincas Borba: “Ao vencedor, as batatas!”. Aguarde, durante sete segundos e meio, por alguma manifestação (um piscar de olho, um arrumar de manga da camisa, um abotoar imaginário de blusa, uma conferência dos cartões na carteira etc). Caso alguém reaja (verbo por excelência dos velhos e novos reacionários), sorria placidamente, enquanto replica: “ah, é só uma personagem. Você nem leva literatura a sério. O que importa, agora é Português e Matemática”.

Passou da hora daqueles que têm a capacidade de pensar nos outros (sem o oportunismo fake e hipócrita de final de ano). Parentes? Estou fora? Antes, reunir-me aos amigos que sabem que a questão não diz respeito a uma legenda partidária; mas a um projeto geral de reconversão do “país” em um punhado de capitanias hereditárias, a gerar divisas para os estrageiros e esfacelar os direitos básicos, até então supostamente assegurados pela Constituição – que deveria ser respeitada como nossa Carta Magna, Lei Suprema etc etc etc. 

Agora, se você persistir em fazer concessões à parentada – graças ao repentino espírito de Santa Claus, ou à crendice de pular sete ondas, espumante na mão, vestida(o) de branco – não perca a oportunidade de defender o que faz de melhor.

Você bem que poderia puxar o assunto assim: “E saber que tem gente que nos chama de vagabundos por termos duas férias por ano…”. Decerto alguém comentará (um sobrinho que odeia a escola; um primo que nunca leu um livro; um conhecido que quer ser notado na festa). 

Após acolher os pseudoargumentos, incapazes de ultrapassar a barreira do senso comum, arremate desta forma: “Minha querida, meu querido, você fugiu da escola? Faça as contas. Quantos finais de semana contêm um ano letivo? Descontados os períodos de recesso e férias, variam entre 40 e 44. Trabalhamos em casa, a corrigir exercicios, provas, trabalhos, monografias e teses; estudamos; atualizamos índices de frequência e contabilizamos notas na maioria deles.

Pois bem. Multiplique um dos fatores (40 ou 44) por 2. Quanto dá? 80 ou 88, confere? Pois bem. Significa que pagamos as “segundas férias de professor(a)” ao longo dos dez meses, entendeu?”

Eventualmente, se a pessoa alegar que está embriagada, não é o momento de fazer conta, ou não entende nada de Matemática, experimente mudar a substância do argumento. Algo como: “É mais ou menos como a conta do décimo terceiro, que o seu candidato quer extirpar: pagamos por ele ao longo do período (sim, porque há cinco meses com cinco semanas, em um ano, e eles são compensados por um salário, que não é adicional;apenas cobre a diferença dos dias efetivamente trabalhados”. 

Puxa, vida! O apresentador já começou a contagem regressiva na tevê!

Ao desejar o fim do ano-novo, salpique o discurso com esta essência de panetone: “Ah, bem, de que adianta discutir isso? Você também aprovou o fim da carteira de trabalho azul e celebrou o fim da CLT, não é mesmo?” Adeus ano-novo! Tim-tim. 

Redação

Redação

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  • Há Outra Categoria que tem 2 Férias por Ano

    Ganham um "pouquinho mais"
    do que um(a) Professor(a).

    Também Gozam Duas Férias por Ano,
    uma nos EUA e outra em Punta Del Este

    Mas Não trabalham nos finais de semana.

    Têm casa própria e recebem Auxílio-Habitação.

  • duas

    "Duas Férias por Ano"

    Já ouvi essa frase. Foi em 1976 numa obra de montagem industrial na CSN, Volta Redonda.

    Um filósofo na minha turma de trabalhadores disse a verdade definitiva:

    - Férias tinha que ter duas por ano. Cada uma de seis meses!

  • Não baixe jamais o nível
    2 períodos anuais de férias para todos, para aliviar os sobrecarregados e dar uma oportunidade aos desempregados

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