Manter Nalini como secretário é falta de educação, por André Forastieri

Do Pulse

Alckmin, manter Nalini secretário é falta de educação com a gente

por André Forastieri

Para quem sonha ser presidente, Geraldo Alckmin podia caprichar mais quando se trata de Educação. Afinal, o maior chavão da política brasileira é dizer que “educação é a solução”. O governador de São Paulo tem desde sempre péssima relação com o professorado, do primário à universidade. Com os alunos nem se fala. Mas tudo que é ruim sempre pode piorar. É o que aconteceu agora.

Ano passado Alckmin cometeu uma barbeiragem daquelas ao tentar impôr uma reorganização das escolas paulistas sem ouvir professores nem alunos, que peitaram o governo e barraram a mudança. Ficou tão feio que o secretário da educação caiu. Foi substituído pelo desembargador José Renato Nalini. Ele tem uma característica muito interessante para um secretário da educação: acha que a educação pública não é dever público. Para ser coerente, deveria pedir demissão imediata do cargo.

Nalini escreveu e publicou no site da Secretaria de Educação um texto surreal. Demonstra absoluta, chocante desconexão com o mundo da educação, e aliás com o mundo em geral. Publico na íntegra abaixo.

Mas antes pinço um trechinho:

“Muito ajuda o Estado que não atrapalha. Que permite o desenvolvimento pleno da iniciativa privada. Apenas controlando excessos, garantindo igualdade de oportunidades e só respondendo por missões elementares e básicas. Segurança e Justiça, como emblemáticas. Tudo o mais, deveria ser providenciado pelos particulares.”

Inclusive educação, claro. Que autoridade moral tem Nalini para comandar a educação pública no estado mais rico do país, depois dessa?

Para completar, uma boa sobre Nalini. Um ano atrás, antes de ser secretário, ele deu uma entrevista para o Jornal da Cultura em que defendia que o auxílio-moradia para juízes.

Nalini, então presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, declarou:

“Hoje, aparentemente o juiz brasileiro ganha bem, mas ele tem 27% de desconto de Imposto de Renda, ele tem que pagar plano de saúde, ele tem que comprar terno, não dá para ir toda hora a Miami comprar terno, que cada dia da semana ele tem que usar um terno diferente, ele tem que usar uma camisa razoável, um sapato decente, ele tem que ter um carro.

Espera-se que a Justiça, que personifica uma expressão da soberania, tem que estar apresentável. E há muito tempo não há o reajuste do subsídio. Então o auxílio-moradia foi um disfarce para aumentar um pouquinho. E até para fazer com que o juiz fique um pouquinho mais animado, não tenha tanta depressão, tanta síndrome de pânico, tanto AVC etc

Então a população tem que entender isso. No momento que a população perceber o quanto o juiz trabalha, eles vão ver que não é a remuneração do juiz que vai fazer falta. Se a Justiça funcionar, vale a pena pagar bem o juiz.”

Nalini é a favor de um Estado mínimo para os outros – inclusive as crianças e jovens paulistas, pelos quais deveria zelar como secretário de Educação. Mas por outro lado quer um estado generoso para o judiciário. Ele diz que o Estado “já não sabe como honrar suas ambiciosas promessas de tornar todos ricos e felizes”. Mas defende que o Estado garanta a fortuna e felicidade dele mesmo e seus colegas.

Que Naldini seja desembargador, e tenha sido presidente do tribunal de justiça, já é preocupante. Que Alckmin faça dele seu secretário sugere que o governador não está nem aí com os milhões de estudantes de São Paulo. Governador, troca de novo de secretário, por favor. Manter Naldini é falta de educação com a gente.

Abaixo, o texto de Nalini.

A sociedade órfã

Uma das explicações para a situação de anomia que a sociedade humana enfrenta em nossos dias é a de que ela se tornou órfã. Com efeito. A fragmentação da família, a perda de importância da figura paterna – e também a materna – a irrelevância da Igreja e da Escola em múltiplos ambientes, gera um convívio amorfo. Predomina o egoísmo, o consumismo, o êxtase momentâneo por sensações baratas, a ilusão do sexo, a volúpia da velocidade, o desencanto e o niilismo.

Uma sociedade órfã vai se socorrer de instâncias que substituam a tíbia parentalidade. O Estado assume esse papel de provedor e se assenhoreia de incumbências que não seriam dele. Afinal, Estado é instrumento de coordenação do convívio, assegurador das condições essenciais a que indivíduos e grupos intermediários possam atender à sua vocação. Muito ajuda o Estado que não atrapalha. Que permite o desenvolvimento pleno da iniciativa privada. Apenas controlando excessos, garantindo igualdade de oportunidades e só respondendo por missões elementares e básicas. Segurança e Justiça, como emblemáticas. Tudo o mais, deveria ser providenciado pelos particulares.

Lamentavelmente, não é isso o que ocorre. Da feição “gendarme”, na concepção do “laissez faire, laissez passer”, de mero observador, o Estado moderno assumiu a fisionomia do “welfare state”. Ou seja: considerou-se responsável por inúmeras outras tarefas, formatando exteriorizações múltiplas para vencê-las, auto-atribuindo-se de tamanhos encargos, que deles não deu mais conta.

A população se acostumou a reivindicar. Tudo aquilo que antigamente era fruto do trabalho, do esforço, do sacrifício e do empenho, passou à categoria de “direito”. E de “direito fundamental”, ou seja, aquele que não pode ser negado e que deve ser usufruído por todas as pessoas.

A proliferação de direitos fundamentais causou a trivialização do conceito de direito e, com esse nome, começaram a ser exigíveis desejos, aspirações, anseios, vontades mimadas e até utopias. Tudo a ser propiciado por um Estado que se tornou onipotente, onisciente, onipresente e perdeu a característica de instrumento, para se converter em finalidade.

Todas as reivindicações encontram eco no Estado-babá, cuja outra face é o Estado-polvo, tentacular, interventor e intervencionista. Para seu sustento, agrava a arrecadação, penaliza o contribuinte, inventa tributos e é inflexível ao cobrá-los.

Vive-se a paranoia de um Estado a cada dia maior. Inflado, inchado, inflamado e ineficiente. Sob suas formas tradicionais – Executivo, Legislativo e Judiciário. Todas elas alvo fácil das exigências, cabidas e descabidas, de uma legião ávida por assistência integral. Desde o pré-natal à sepultura, tudo tem de ser oferecido pelo Estado. E assim se acumulam demandas junto ao Governo, junto ao Parlamento, junto ao sistema Justiça.

O Brasil é um caso emblemático. Passa ao restante do globo a sensação de que todos litigam contra todos. São mais de 106 milhões de processos em curso. Mais da metade deles não precisaria estar na Justiça. Mas é preciso atender também ao mercado jurídico, ainda promissor e ainda aliciante de milhões de jovens que se iludem, mas que poderão enfrentar dificuldades irremovíveis num futuro próximo.

No dia em que a população perceber que ela não precisa ser órfã e que a receita para um Brasil melhor está no resgate dos valores esgarçados: no reforço da família, da escola, da Igreja e do convívio fraterno. Não no viés facilitado de acreditar que a orfandade será corrigida por um Estado que está capenga e perplexo, pois já não sabe como honrar suas ambiciosas promessas de tornar todos ricos e felizes.

Redação

Redação

View Comments

  • Liberalismo na veia!!

    O inacreditável Alchinochio nomeou o insuperável Nalini para a educação. O primeiro programa da pasta vai ser estabelecer a obrigatoriedade de pagar os cursos do ensino básico e o segundo será construir fornos para incinerar os alunos que não puderem pagar. Detalhe generoso do novo Secretário. Ele negociará com o Governo para que o combustível utilizado nas incinerações seja cobrado da família do queimado, mas parcialmente subsidiado pelo estado que deverá devolver parte do que foi gasto pela família. É um filantropo generoso, quase socialista para os padrões do Tucanistão.

  • O artigo do secretário de

    O artigo do secretário de (des)educação decerto representa também o pensamento do governador Geraldo Alckmin possível candidato a presidência da República, 

    Eis o que nos espera em 2018. 

     

  • paz de direito

    Bota alguém que jamais seria incomodado pela sua corporação pois era presidente do TJ até virar secretário. O último dançou porque a justiça determinou... que justiça se mexerá agora?

    Mesmo perversamente, existe muita competência dos tucanos ao nomearem os seus.

     

  • Secretáio de Educação de Alckmin

    Esse sr. Além de artigos e declarações polêmicas que expõem sua posição conservadora, agota tem coragem de escrever sobre o Estado mínimo. Se esquece que le é o maior sanguessuga do Erário quando teve mês de receber mais de R$ 150 mil. Aí é facil querer que esse Estado não tenha obrigação para com os que precisam; desde que lhe repasse o equivalente a 150 outros que efetivamente necessitam.

  • Nóialini era um desembargador

    Nóialini era um desembargador de merda, aposentou e foi fazer merda na Secretaria de Educação. Perfeito... todo Nóialini mal educado deve ter o direito de esmerdear um tucano. 

  • "Que autoridade moral tem

    "Que autoridade moral tem Nalini para comandar a educação pública no estado mais rico do país, depois dessa?":

    Toda.  Ele nao "comanda" a secretaria.  Ele eh aparelho.  De tucanos, diga se.  Esta la sem ter lido um unico livro sobre o assunto e sem ter estudado absolutamente nada.

  • Vcs estão papando mosca....
    Este secretário é O melhor EXEMPLO do que o PSDB faz em SEUS governos.

    O mesmo vai para estatais. Gente que odeia a simples existência daquilo que administra e, não esconde, esta lá para acabar com aquilo.

    Isso é ideologia PURA e deveria ser pinçado como exemplo do que o PSDB faz.
    Os outros não Dizem isso porque dão seres humanos e tem noção. Mas um DESEMBARGADOR é coisa de outro planeta. Por isso ele diz esta merda com orgulho.

    Aproveite a deixa ESQUERDA! Vcs tem O Esquema, o modus operanti do PSDB, desnudo para ser revelado.

  • Desembargador aposentado do Tj-SP Secretario de Educação
    E qual é o compromisso dos governadores no Brasil com a educação? Ora, a educação não é prioridade para os governadores, Alchkmin indica para Secretário de Educação o dembargador aposentado do TJ-SP José Roberto Nalini o que recebia auxílio- educação de R$ 953,47 por filho. Nalini o ex-presidente do TJ-SP que compra seus ternos em Maiami e defende descaradamenteno auxilio-moradiar. O texto do Secretario de Educação de São Paulo não faz referência a palavra educação, alunos e professores, o texto é de um cinismo, desonestidade e falta de educação- moral impressionante. Trecho do texto de Nalini "A população se acostumou a reivindicar tudo aquilo que antigamente era fruto do trabalho, do esforço, do sacrifício e do empenho pessoal à categoria de "direito". É de "direito fundamental", ou seja, aquele que não pode ser negado e que deve ser usufruido por todas as pessoas." São Paulo é o maior colégio eleitoral, o Estado mais rico do Brasil e a maior metrópole do mundo, pois é, os paulistas elegem Maluf e Alckmin a resposta da arrogância, do preconceito, da alienação poítica, e do complexo de superioridade de muitos paulistas e aqui cabe bem aquela frase "cada povo tem o governo que merece ".

  • Se Nalini não tem autoridade moral para falar...

    Se Nalini, sendo um desembargador, alto funcionário do Estado, não tem autoridade moral para defender o estado mínimo para os outros, então ninguém mais tem, pois toda autoridade usufrui de altos vencimentos e aposentadorias muito superiores à dos cidadãos comuns. Mas o que ele disse não se torna inválido só porque saiu da boca dele, e eu admiro a coragem de dizer algo que não é o que o povo quer ouvir, mas é o que o povo precisa ouvir.

    Pelo que li do artigo dele, Nalini não estava se referindo à educação especificamente, mas à sociedade e ao país como um todo. É claro que um secretário de educação tem o dever de cuidar do ensino público, mas para isso é preciso ter recursos. De que adianta alguém chegar e dizer em alto e bom tom que todos tem direito à "educação gratuita e de qualidade tal como está na CF/88" se essas palavras não farão materializar um único lápis? O Estado está sobrecarregado de demandas, inchado e mal administrado, sem recursos para investir naquilo que é efetivamente o papel do Estado, como a educação e a saúde públicas. Para que esses recursos apareçam, é preciso que o Estado deixe de se meter naquilo que deve ser da alçada da iniciativa privada. Menos dinheiro para os empresários amigos-do-rei, mais dinheiro para as escolas públicas.

    O discurso desse Nalini foi para mim uma agradável surpresa, prova de que os liberais estão saindo do armário e já não tem medo de dizer o que precisa ser dito. Penso que vai começar agora uma nova fase na política nacional, com menos farra com o dinheiro público.

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