Brasileiro, profissão desesperança – a pesquisa CNT, por Sergio Saraiva

Em 2002, a esperança venceu o medo. Em 2018, a esperança precisará vencer a desesperança.

Brasileiro, profissão desesperança – a pesquisa CNT

por Sergio Saraiva

Quando 96% dizem que o país está fora do rumo, 76% declaram estar sem perspectiva e 70% consideram que a situação não vai melhorar, será presidente quem trouxer a esse povo alguma esperança de futuro.

A Pesquisa CNT – setembro de 2017

A pesquisa CNT – Confederação Nacional do Transporte mostra, mais uma vez, que Lula só perde as eleições de 2018 se não deixarem ele se candidatar. Aliás nenhuma novidade – fora os momentos mais críticos dos estertores do governo Dilma – em nenhum momento houve qualquer dúvida sobre isso.

Mas que não se espere uma onda vermelha como na primeira eleição de Lula.

Brasileiro, profissão desesperança

Isso porque a pesquisa CNT pode ser lida de várias maneiras e uma delas confirma o mau humor reinante entre os brasileiros.

Isso fica patente quando se busca saber o estado de espírito do brasileiro: 96% dos pesquisados responderam que consideram que o Brasil está fora do rumo.

E 76% estão sem esperanças ou perspectivas. Esse foi o índice e o motivo que quem respondeu à pesquisa deu para o fato de não haver panelaços contra Temer.

O brasileiro entrou em compasso de espera. Não manifesta sua indignação, apenas espera que o atual governo acabe.

Um bom retrato disso é o que o brasileiro espera no curto prazo em relação a emprego, renda, saúde, educação e segurança – mais de 70% consideram que a situação vai de igual a pior.

Nem Lula, nem ninguém

Essa falta de perspectiva se reflete na intenção de votos para presidência. Não parece haver nenhum cenário eleitoral que agrade aos brasileiros.

Lula ganha todas, mas em todos os cenários em que participa, há um elevado nível de eleitores que optariam por anular o voto fosse quem fosse o adversário de Lula. Em outras palavras, Lula não lhes agrada, mas nenhum adversário de Lula os agrada também.

A pior situação seria um embate entre Lula e Aécio Neves. Nesse cenário, praticamente 40% dos eleitores optariam por anular os votos. E a melhor situação seria um 2º turno entre Lula e Doria ou Lula e Marina – nos dois casos haveria algo como “apenas” 25% de eleitores que optariam por anular o voto a escolher entre Lula e o seu adversário.

Trata-se de rejeição a qualquer candidato e não indecisão entre um ou outro. A pesquisa levantou o índice de indecisos e, em todos os cenários, o valor é de 4%.

Sem Lula, não há ninguém

Por óbvio, quando se considera a possibilidade de Lula não participar das eleições, o índice de votos nulos aumenta.

Quando Aécio participa do segundo turno contra qualquer candidato, e sem a participação de Lula, o índice de nulos fica em torno de 47%. Somando-se a eles a média de 7% de indecisos, nesses cenários, tem-se que mais da metade dos brasileiros não saberiam em quem votar ou votariam nulo caso Aécio Neves chegasse ao segundo turno. Nesse cenário, sem Lula, não há ninguém.

Quando Marina, Bolsonaro e João Doria disputam entre si, o índice de nulos vai a algo em torno de 38%.

Marina ganha, o PSDB está fora e Bolsonaro é terceira força.

Sem Lula, Marina ganha de todos os adversários. E Bolsonaro ganha de todos os peessedebistas, inclusive, João Doria. Ou seja, o PSDB está fora das eleições presidenciais de 2018 com Lula ou sem Lula.

Lula quase lá

Quando se considera a rejeição, nota-se também o mau humor dos brasileiros para com os políticos. Todos com altos índices de rejeição. Principalmente os políticos mais conhecidos dos eleitores.

E nesse quesito, Lula com 50,5% de rejeição está melhor que Geraldo Alckmin (52,3%), Marina (52,5%), Ciro Gomes (54,8%) e Aécio Neves (69,5%). Todos políticos com várias eleições presidenciais no currículo. Melhor que Lula somente os “novatos” João Doria (42,9%) e Bolsonaro (45,4%). Com o eleitor de mau humor, ninguém tem baixos índices de rejeição.

Aqui também há boas e más notícias para Lula. Lula tem 47,7% de leitores que declaram que votariam ou poderiam votar nele. No geral, é disparado o melhor candidato. Está a menos de 3 pontos percentuais de eleger-se.

Mas Lula deverá conquista-los entre os eleitores que o rejeitam. Isso porque praticamente a totalidade dos eleitores tem opinião formada sobre Lula. Metade poderia votar nele e metade afirma que não votaria nele de jeito nenhum.

João Doria tem 34,2% de eleitores declararam que votariam ou poderiam votar nele. Bolsonaro tem 39,7% de eleitores nessa situação.

O esforço de cada um

Como são menos conhecidos, Doria terá de conquistar 61% dos eleitores que ainda não têm opinião formada sobre ele e Bolsonaro terá de conquistar 53% desses eleitores. Sem necessitarem reverter a rejeição que apresentam. Já Lula precisará conquistar o coração de 6% dos que hoje o rejeitam.

Parece mais fácil, mas não é. E, ainda que consiga, não haverá lua de mel com os eleitores depois das eleições. Não haveria igualmente para ninguém que esteja no quadro político atual. O leitor está de mau humor.

O cavaleiro da esperança

O principal político brasileiro pode ser alijado das eleições em algo que parecerá um golpe, dado seus persistentes altos índices de intenção de voto. Fora esse candidato, o eleitor não se emociona com nenhum outro. E, mesmo tal candidato, neste instante, não une a nação.

Vivemos um quadro de anomia. E grande perturbação institucional. E isso foi percebido pelo eleitor comum.

Quando 96% dizem que o país está fora do rumo, 76% declaram estar sem perspectiva e 70% consideram que a situação não vai melhorar, será presidente em 2018 quem trouxer a esse povo alguma esperança de futuro.

 

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