O desafio das hidrelétricas da Região Norte

Jonal GGN – Para crescer, o país precisa de energia. Este é um fato de difícil contestação e as exigências de respeito à natureza vieram para ficar. Há ainda muita incompreensão sobre a influência das hidrelétricas no meio ambiente, especialmente em regiões pouco desenvolvidas, como no norte brasileiro.

A opinião é de Altino Ventura Filho, secretário de Planejamento e Desenvolvimento do Ministério das Minas e Energia (MME) e um dos mais experientes técnicos do setor, durante o seminário “As hidrelétricas da Amazônia e o meio ambiente”, promovido pelo Jornal GGN (www.jornalggn.com.br), em dezembro de 2013.

Trinta e cinco por cento do potencial hidrelétrico brasileiro está na região norte, localizado nos rios à margem direita do rio Amazonas, começando pela fronteira, com o Tocantins-Araguaia. No Xingu, encontra-se a usina de Belo Monte; no Madeira, as usinas de Jirau e Santo Antonio; e no Tapajós, a maior aposta.

Só agora se inicia o aproveitamento do potencial hidrelétrico do norte. Por ora, foram explorados apenas 5%, ante o aproveitamento quase total do potencial das demais regiões brasileiras. Sem uma exploração adequada e racional do potencial do norte, não haverá espaço para a expansão hidrelétrica brasileira.

Pelo modelo tradicional, para compensar o fim das obras e a desmobilização dos trabalhadores, as usinas foram concebidas como projetos de desenvolvimento, ajudando na urbanização, na criação de condições econômicas para os municípios no entorno, como foi o caso de Urubupungá, Ilha Solteira e Jupiá. Os lagos formaram praias, forneceram água limpa, permitiram lazer, navegação, pesca, abastecimento, permitindo novas atividades econômicas, como a agricultura, pecuária e serviços.

No Tapajós, será a primeira vez que se construirá uma hidrelétrica em região não habitada. Com isso, será abandonado completamente o modelo de desenvolvimento até agora padrão, reduzindo as externalidades positivas do empreendimento, mas também os fatores de atrito com as entidades ambientais.

O modelo será da usina-plataforma – nome conferido por conta da semelhança com as plataformas de petróleo.

Será um empreendimento localizado em ponto bem específico e sem implicações ambientais. Não será indutora de desenvolvimento regional. Na fase de construção, serão levantadas instalações temporárias, ao contrário do modelo de vilas operárias, depois transformadas em cidades.

As instalações ficarão restritas ao entorno das usinas, possivelmente na área do futuro reservatório. Não serão abertas rodovias de acesso, com seu potencial de devastação. A construção das linhas de transmissão usará o rio para o transporte.

Terminada a construção, todas as instalações serão desmobilizadas, as condições naturais locais serão recompostas e as áreas adquiridas transformadas em parque nacional.

Na operação, haverá o mínimo de presença humana. Será automatizada o máximo, o transporte possivelmente será por helicópteros.

Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), diz que “esta é uma ideia brasileira”. Para ele, o Brasil tem hoje situação energética boa tanto na matriz energética quanto elétrica, e não deve “abrir mão” de seu potencial hidrelétrico. A hidrelétrica tem quatro vantagens: é renovável, tem baixa emissão de gases do efeito estufa, baixo custo e capacidade de utilização de 100% de mão de obra e serviços nacionais”

 As três grandes usinas que o Brasil constrói atualmente – Santo Antônio e Jirau, em Rondônia, e Belo Monte, no Pará – são fio d’água. A área alagada, nesses casos, tende a ser menor e a provocar menos impactos socioambientais.

O governo planeja instalar na Amazônia pelo menos 29 novas hidrelétricas. Segundo levantamento de O Globo, ao todo, essas hidrelétricas vão gerar 38.292 MW, quase metade dos 78.909 MW produzidos pelas 201 usinas hidrelétricas em operação hoje no país. Sete delas, como as das bacias do Tapajós e do Jamanxim, serão feitas no coração da Amazônia, em áreas praticamente intocadas de floresta contínua.

Redação

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