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Aldo Rebelo: “A Fifa não é a Otan do futebol”

Por Marco Antonio L.

Do Lance!

Aldo Rebelo: ‘A Fifa não é a Otan do futebol’

Em entrevista exclusiva ao LNET!, Ministro do Esporte fala do futuro da pasta, que está em suas mãos e da relação com Teixeira

Aldo Rebelo chega ao Ministério do Esporte para apagar a má imagem gerada pelo escândalo que derrubou seu antecessor, Orlando Silva. Sua missão é mudar os rumos do ministério, na gestão do dinheiro público, na definição de prioridades e na relação com cartolas.

Na entrevista, Rebelo mostra que a cautela e a discrição devem ser marcas de sua gestão. Defende a criação de uma política nacional de esporte, mas prevê até dois anos para ser aprovada. Evitou criticar que quer que fosse e colocou-se como um homem de governo, que deixa de lado suas opiniões pessoais.

No dia da entrevista, dia 10 de novembro, Rebelo ainda não havia feito troca nos principais cargos do ministério. Nesta semana, após nomear como auxiliares diretos pessoas com experiência na administração e de fora do PC do B, a presidente Dilma Rousseff transferiu a Autoridade Pública Olímpica, para sua pasta.

LANCE: O que já dá tirar desta primeira semana de trabalho?

Estou como um matuto atravessando o Rio. Colocando um pé de cada vez para ver onde está raso, fundo ou tem pedra. Preciso examinar os trabalhos realizados, verificar as mudanças necessárias e o que poderá seguir.

L: Como serão as mudanças?

Vou buscar pessoas com capacidade executiva, não necessariamente na sua área. Os americanos, na Segunda Guerra, quando precisaram de um general para dar conta da logística e distribuir comida a todos, chamaram um dono de supermercado e deram as quatro estrelas de general para ele cuidar disso. Na próxima semana já poderei anunciar algumas trocas.

L: Com os últimos ministros, quase todos os secretários eram militantes do PCdoB. Isso vai continuar?

Não vejo assim, mas o meu critério não é uma filiação com o PCdoB. Entrarão de acordo com a sua capacidade e experiência.

L: A presidente Dilma anunciou uma auditoria nos convênios fechados com ONGs pelo Programa Segundo Tempo? Como está caminhando esse processo?

O Segundo Tempo é um programa muito importante, que visa estender a atividade esportiva a quem não tem acesso a ela. Como o Ministério não tinha o instrumento para fornecer a atividade esportiva, como a saúde tem o hospital, atraiu uma série de ONGs. A imensa maioria é bem-intencionada. Mas um ministério não pode contar com esse tipo de ação. Em relação aos convênios existentes, onde não houve desembolso, mandei suspender. Foi algo em torno de 40. Os outros estão sob verificação.

L: Como você pretende tratar da questão da Timemania?

Quanto já foi arrecadado e quanto foi abatido da dívida dos clubes?Minha opinião não conta. Vou tratar de acordo com a exigência legal. Não há profissionalização à altura da necessidade. É preciso encontraruma solução que proteja o interesse público e ajude a dar uma solução para os clubes.

L: Como está a regulamentação da Lei Pelé?

E como será a responsabilização de dirigentes, já que falou que falta profissionalismo?Não me debrucei sobre ela. E, de certa forma, a lei já criou um certo tipo de responsabilidade.

L: Mas isso foi tirado agora neste último texto.

Não é um problema legal. É preciso criar uma responsabilização com propostas que apontem caminhos para proteger os clubes. Precisamos conversar com as entidades para que eles mudam a gestão.

L: O senhor é a favor da limitação de mandatos de dirigentes?Se tem limitação para presidente da República, governadores e prefeitos, por que não para dirigentes?

O esporte foi liberado de autarquias, mas sempre desconfiei disso, em uma sociedade tão desajustada. O Estado precisa atribuir a essas entidades um nível de responsabilidade, como existe até para a gestão das propriedades privadas.

L: Você já foi grande crítico de Ricardo Teixeira, depois houve uma aproximação. Como está hoje? E como será como ministro?

Aproximação…?

L: Sim. Com o Ricardo Teixeira.

Ah, é? Não sabia.

L: O senhor é apontado como muito amigo dele e já disse que ele tinha mudado muito.

Eu presidi a CPI e me encontrei com o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, naquela ocasião. Depois acho que encontrei mais uma vez, numa festa do Brasileiro há alguns anos. Voltei a encontrá-lo agora no Ministério. Não tenho amizade e nem inimizade.

L: Parlamentares estão em busca de documentos que possam esclarecer o suposto pagamento de propina da ISL a Ricardo Teixeira dez anos atrás. Qual é a sua opinião, como ministro?

As atribuições da Câmara e do Senado não podem ser discutidas pelo Poder Executivo. O legislativo tem como atribuição fiscalizar. Aqui vamos procurar tratar institucionalmente essa questão.

L: Seria bom para o governo participar do COL?

Acho que o governo poderia ser criticado por isso. As circunstâncias de um evento privado levaram a isso. Não posso opinar.

L: Há alguns anos o senhor recebeu uma homenagem do Vasco das mãos de Eurico Miranda. O senhor continua amigo dele?

Recebi um título dado por unanimidade por todos os conselheiros do clube, que muito me honra, de sócio honorário do Vasco. Foi dado pelo Conselho na ocasião em que o dirigente era o Eurico. Também recebi do Flamengo.

L: Na gestão do Afonso Della Monica o senhor tentou um patrocínio para o Palmeiras, de uma mineradora chinesa…

Eu era até agora presidente do grupo parlamentar Brasil-China. Sou amigo da China e cogitei a hipótese de ajudar que alguma instituição chinesa pudesse patrocinar o Palmeiras. Fiz isso como torcedor, mas nada foi acertado.

L: Como ministro o senhor pretende se aproximar com o esporte olímpico chinês?

Acho que o Brasil tem que ter duas referências: cooperar com quem precisa da nossa ajuda, como Bolívia e Paraguai e países africanos, e pedir ajuda daqueles que são mais bem-sucedidos, como os EUA e Cuba, com modelos diferentes. A China é uma experiência recente.

L: Por que estádios do Brasil são tão caros?

Estive olhando os preços. No caso da Eurocopa de Portugal, da Copa da Alemanha, os preços foram menores do que aqui. Não sei se isso foi resultado do tempo previsto para as construções.

L: Muito se ouve dirigentes e muito pouco os atletas. Isso vai mudar?

O ministro é do Partido Comunista; o Ministério, não. O Ministério é da população e do país. Quem está aqui deve ter isso claro. Temos de levar em conta sempre as opiniões de federações, associações, tudo. Mas atletas e técnicos também devem ser considerados.

L: Quanto à aplicação das leis, o Estatuto do Torcedor era um grande avanço, mas metade dele não sai do papel…

Participei de todos os debates. De todas as contradições, creio que o esforço dessa lei foi muito bem. As conquistas não podem ser menosprezadas. Tirando os camarotes e os dirigentes, o resto dos torcedores era mal tratado.

L: O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, anunciou que 10% dos ingressos serão vendidos a US$ 25 (R$ 44), para os brasileiros. Isso resolve a meia-entrada?

Não sei se resolve. A Copa vai ocorrer num país com muita desigualdade social. Não podemos permitir uma festa tão grande sem que uma parcela comprovadamente pobre, mais do que a meia-entrada, que poderá atingir uma classe média, participe.

L: Muitos deputados e senadores falam que as exigências da Fifa são exageradas. São mesmo?

Não. Tenho de procurar cumprir, de acordo com aquilo que foi firmado. O que há são interpretações diferentes. Vou ver os compromissos fechados por Alemanha e outros países. Não podemos é achar que a Fifa é uma espécie de Otan (organização militar entre EUA e parte da Europa) que está querendo invadir o Brasil. E nem ficar com o sentimento como se fossemos uma terra francesa (sic) no nosso país. Vamos olhar e, se a Fifa tiver razão, vai permanecer.

L: Na prática…

Isso já está na Lei Geral da Copa. O que o governo brasileiro pensa e pode está ali. Na legislação anterior, que foi do incentivo fiscal, também. Agora o Congresso vai mediar e resolver.

L: Como está a montagem do Plano Nacional de Esporte?

A minha ideia é a de transformar o Plano Nacional do Esporte numa política permanente. Há a necessidade de se preparar um marco legislativo legal permanente para o país.

L: Qual é o prazo?

Não estou pensando nisso agora. Tenho de me preocupar com a ideia. Mas talvez um, dois anos.

L: Por fim, como se dá jeito no seu Palmeiras?

O Palmeiras tem um passado de glórias e um futuro promissor. Exige muita paciência e muita providência.

Luis Nassif

Luis Nassif

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