Bernie Sanders, o verdadeiro improvável? Por Rogério Maestri

Bernie Sanders, o verdadeiro improvável?

por Rogério Maestri

Nos Estados Unidos em todas as eleições normais aparecem candidatos folclóricos que servem para validar a verdadeira farsa democrática norte-americana.

Nestas eleições apareceu uma velha figura da política norte-americana fazendo frente à poderosa máquina dos Clintons junto ao Partido Democrata. Bernie Sanders é um conhecido senador do Vermont. Para quem não sabe o Vermont é o segundo estado menos populoso dos Estados Unidos e talvez por isto o “stabilisment” permitiu que um político confessamente socialista perdurasse neste estado por mais de 36 anos. Primeiro sendo eleito prefeito de Burlington, a maior cidade do estado de Vermont, após isto Bernie disputou várias eleições para governador do estado, senador e deputado, sendo derrotado nas primeiras eleições, mas tendo fantásticas vitórias em outras.

Bernie se mostrou um ótimo prefeito saindo com uma aprovação fantástica no fim do seu governo. Como deputado e como senador ele teve uma característica que o diferenciava de todos os demais congressistas, se declarar socialista.

Bernie começou na política já em 1960 ganhando na sua luta a favor dos direitos civis uma prisão numa manifestação que está sendo um trunfo, junto ao eleitorado negro que votaria em massa nas primárias, em Hillary Clinton e começa a pender para o lado de Bernie.

Alguns podem pensar que Sanders é um socialista de fachada, porém ao longo de toda a sua trajetória política ele manteve uma postura dentro de uma linha de social democracia e na campanha suas propostas para o governo norte-americano são verdadeiramente revolucionárias.

A primeira coisa que o candidato resolveu foi não aceitar doações de campanha de empresas e limitou o valor máximo destas em US$200,00. Um ponto muito importante que mostra um caminho para partidos de esquerda que queiram entrar no governo sem se sujeitar a futuros problemas de processos e outras questões.

Além dos aspectos de financiamento de campanha, Bernie propõe a taxação dos lucros de Wall Street, a universalização do atendimento médico a todos os americanos, o controle dos lucros dos cartões de crédito, a gratuidade em todas as universidades públicas, aumento dos impostos dos mais ricos, o controle das empresas farmacêuticas e dos planos de saúde e por fim o controle do sistema financeiro nos Estados Unidos obrigando os bancos maiores a se dividir.

Além de uma pauta verdadeiramente socialista para a realidade norte-americana, Bernie Sanders propõe o que ele chama uma revolução política nas terras do Tio Sam. Sua revolução política será em manter mobilizada permanentemente seus eleitores caso ele tiver sucesso na eleição para pressionar o congresso através de mobilizações permanentes.

Como política externa, ele tem de novo um grande trunfo, foi o único congressista norte-americano a votar contra a guerra do Iraque, ou seja, ele propõe claramente que os Estados Unidos deixem de ser a polícia do mundo.

Muitos não acreditam nas chances de Bernie Sanders ser nomeado candidato do Partido Democrata, entretanto os desempenhos nas primárias estão surpreendendo todos os analistas políticos, pois em estados em que dois ou três meses ele tinha no máximo 10% do apoio dos eleitores nas prévias, ele tem chegado a empates técnicos ou no máximo 5% de diferença de Hillary. O que está causando esta virada é o apoio do eleitorado jovem, em que Bernie em alguns estados chega a cativar 80% deste eleitorado.

O famoso movimento Occupy Wall Street desembarcou de mala e cuia na campanha de Bernie, e talvez esteja aí o ponto do fenômeno, os jovens norte-americanos pela primeira vez em 80 anos estão com a perspectiva de serem mais pobres que seus pais, não só mais pobres com um viés positivo de concentração de renda.

Com uma história política impecável, com uma plataforma que atinge os jovens e os mais pobres norte-americanos, um candidato que seria mais uma figura folclórica e patética na política do país está se tornando aos poucos uma possibilidade de reforma, ou pelo menos, o germe de uma revolução socialista democrática nos Estados Unidos, coisa que nunca se pensaria há quatro anos antes do surgimento do Occupy Wall Street.

Perdendo ou ganhando as eleições norte-americanas este político está dando exemplos de que previsão em longo prazo em política é o mesmo que horóscopo se fala qualquer coisa, mas nunca se sabe na realidade o que vai ocorrer.

Redação

Redação

View Comments

  • Duvido, lá o sistema é todo

    Duvido, lá o sistema é todo voltado para manter o status quo, a começar por previas complicadas e um sistema de votação idem.

    • Sem contar um congresso dividido - e poderoso

      Ele pode até ganhar, mas será que governa? Veja como Dilma é refém, imagina nos EEUU??!!

  • Enquanto aqui...

    A direita tem todo o caminho para voltar com tudo.

    Depois do governo Dilma, a esquerda só voltará ao poder depois de 1.000 anos!

    PMDB e PSDB se aproximam.

     

    • Hipoteticamente falando

      Hipoteticamente falando depois de um governo vamos dizer de um Aécio virar pó (vamos ver o Macri na argentina) a esquerda pode tentar fazer um Sanders do Haddad que demonstrou coragem na prefeitura (aumentou impostos dos ricos) - sem doações de corporações e etc.

      • Hipotese interessante, mas...

        ...há que se ter coragem para expor uma agenda tão eloquente quanto a do Sanders, escancarando as feridas, a gravidade do problema da desigualdade... Não vejo esse perfil no Haddad, mais para Ciro Gomes ou o Requião esse perfil

         

    • Fechando a boca ....
      ....na verdade, estes duas mandíbulas fazem parte da mesma boca de jacaré. ...Só abriu nos anos 80 pra abocanhar sua presa: o poder sobre os brasileiros. ....

  • Esse cara é uma fantasia. Uma

    Esse cara é uma fantasia. Uma ilusão.

       Até compartilho com os pensamentps dele. Desde que fosse possível.

             Mas não é.

               E mesmo que fosse eleito, não poderia entregar o que promete.

                 Uma cópia de Dilma. 

              Que bom seria se os 2 pudessem entregar o que prometeram em campanha....

    • Não é o que centenas de economistas norte-americanos estão ....

      Não é o que centenas de economistas norte-americanos estão falando. Uma coisa é sobretaxar a nível dos outros países capitalistas do mundo a renda dos mais ricos.

  • Eu acho engraçado alguém

    Eu acho engraçado alguém chamar de farsa democrática norte-americana quando acha que Cuba é a democracia em pessoa... pelo menos, nos EUA, tem 2 partidos...

      • Deixa Frederico, eles só tem duas referências, Cuba e Miami!

        Como há uma possibilidade remota, mas plausível que um socialista venha governar os USA eles ficam sem referência.

  • "poderosa máquina dos

    "poderosa máquina dos Clintons junto ao Partido Democrata".... Sério isso? O que o Obama está fazendo na casa Branca se a Hillary era précandidata em 2008?

  • O Sanders já é o vencedor dessa eleição

    Um senador velhinho sair de Vermont como independente e emparelhar com a Hilary, fazendo o pais todo discutir uma agenda que parecia que nunca chegaria no horário nobre...

    Mas vamos ver...Essa eleição vai ser a mais fantástica da história recente dos EUA. Tão importante que o mundo todo devia poder votar nela.

    • Realmente Sanders se recusa a baixar o nível.

      Durante todas a intervenções do candidato quando um jornalista procura trazer as perguntas para o nível de baixarias ele simplesmente não responde, e talvez seja a campanha norte-americana das últimas décadas em que o debate dos democratas tem alguma substância.

      É muito interessante ouvir os debates, Sanders se recusa a falar abobrinhas.

  • Bernie

    Gostaria de ler a opinião do Ivan, lá de Union.

    O que pensam seus amigos, vizinhos, colegas

    de trabalho, entre outros, sobre o candidato Bernie.

    Suas chances, seus projetos e, principalmente, o

    que pensam seus apoiadores.

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