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A assediada no metrô e o ‘Zorra Total’

Segundo a Folha, o quadro humorístico do maior conglomerado de comunicação do país sofre ataques de uma moça que foi assediada no metrô:

Assediada no metrô ataca o ‘Zorra Total’

  A jovem que acusa um advogado de 46 anos de tê-la atacado sexualmente em um trem no metrô de São Paulo, no último dia 14, diz que acha um desrespeito o quadro do humorístico “Zorra Total”, da TV Globo, que faz piada com o empurra-empurra no metrô.

A informação é da reportagem de Laura Capriglione e Olívia Florência publicada na edição deste domingo da Folha. A íntegra está disponível para assinantes do jornal e do UOL (empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha).

“Só quem já sentiu na pele a humilhação de ter um sujeito se esfregando contra o seu corpo sabe a tristeza que é. Tem gente que acha engraçado, mas eu, se eu pudesse, tirava [o quadro] do ar”, disse, em depoimento à Folha.

No texto, a jovem conta que o assédio do advogado começou assim que ela entrou no vagão lotado e ele se encostou em seu corpo. Ao olhar para trás e ver o pênis do advogado para fora da calça, a jovem desmaiou.

Ela diz que continua usando o metrô, mas com medo –olha para trás o tempo todo e se algum homem fica atrás, sai de onde está.

Juca Varella/Folhapress
A vítima de assédio sexual praticado pelo advogado Walter Dias Cordeiro Junior, durante entrevista à Folha

OUTRO LADO

Procurada pela reportagem da Folha, a Central Globo de Comunicação não quis responder às críticas feitas ao quadro “Metrô”, do programa “Zorra Total”, e informou que “não vai alterar em nada” o seu conteúdo.

O advogado acusado de ataque sexual, Walter Dias Cordeiro Junior, 46, não quis falar com a reportagem, que o procurou no apartamento em que vive, no bairro da Freguesia do Ó, zona norte de São Paulo.

Pelo interfone da portaria do condomínio, ele disse à Folha que tinha sido “aconselhado por seus advogados a não se pronunciar à imprensa”. Pediu, entretanto: “Escreva apenas que eu afirmo minha inocência”.

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/994136-jovem-assediada-no-metro-ataca-quadro-do-zorra-total.shtml

A reportagem da íntegra:

Assediada no metrô ataca o ‘Zorra Total’

‘Só quem já sentiu na pele a humilhação de ter um sujeito se esfregando contra seu corpo sabe a tristeza que é’

Jovem de 21 anos, mas aparência de 15, acusa advogado de 46 de tê-la atacado sexualmente em trem do metrô

LAURA CAPRIGLIONE
DE SÃO PAULO

OLÍVIA FLORÊNCIA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

X. nunca conseguiu dar risada de um quadro do humorístico “Zorra Total” (TV Globo) que se passa num vagão do metrô. “Sempre achei um desrespeito”, diz a jovem de 21 anos, aparência de 15.
Mas, agora, X. não pode nem sequer ver as personagens “Valéria” e “Janete”. Ela acusa um advogado de 46 anos de tê-la atacado sexualmente em um trem no metrô, às 18h40 do último dia 14.
“A gente que trabalha sabe o empurra-empurra que é pegar o metrô na ida e na volta, e ainda por cima no horário de pico. Aí, eles põem essa brincadeira ridícula. Só quem já sentiu na pele a humilhação de ter um sujeito se esfregando contra o seu corpo sabe a tristeza que é. Tem gente que acha engraçado, mas eu, se eu pudesse, tirava [o quadro] do ar”, disse X.
Baixinha (1,59 metro) e magricela, resultado da dieta sem carne que segue desde criança, quando assistiu a um documentário sobre matadouros, X. saía do trabalho no centro de São Paulo, depois de uma jornada de nove horas, rumo à sua casa, em Itaquera (zona leste). Trajava calça jeans e blusa de mangas compridas.
Nesse trajeto, a chamada Linha Vermelha do metrô apresenta densidade máxima (10,9 pessoas por metro quadrado no horário de pico). É a mais congestionada do sistema paulistano.

“ELE VINHA”
Segundo X., o assédio iniciou-se tão logo ela entrou no vagão lotado, o advogado encostando-se em seu corpo:
“Eu cheguei a pensar que fossem outras pessoas que estivessem empurrando. Eu tentava me esquivar e ele vinha. Eu saía e ele vinha. Toda hora. Eu tinha ainda a preocupação com a bolsa, para não roubarem. Então, uma hora, não tive mais para onde ir, porque ele colocou as mãos nos ferros de cima e me apertou com o corpo.”
Um rapaz de 24 anos, comerciário, que estava no mesmo vagão, flagrou o instante em que X. desmaiou: “Ao olhar para trás, ela viu o pênis do advogado fora da braguilha da calça do terno”.

GRITOS NA ESTAÇÃO
“Eu fiquei travada, eu parei, eu não tive reação. Sei lá o que estava passando pela minha cabeça.” Assim a moça descreveu a espécie de blecaute que sofreu.
Foi o jovem comerciário quem segurou as portas do vagão na estação Belém, para que X. fosse retirada, e que, aos gritos, chamou a segurança do metrô, que impediu o advogado de seguir viagem tranquilamente.
“O homem alto e engravatado saiu do trem ainda com tudo para fora, o cinto solto e a braguilha aberta”, disse o rapaz na Delpom -Delegacia de Polícia do Metrô.
X., que pretende tornar-se psicóloga, só chorava. “Por ele ter saído do jeito que saiu e por mim, porque eu sou mulher. Eu nunca imaginei que fosse acontecer isso comigo, um monte de gente perto. Muita vergonha, nossa.”

INADEQUADO
No final de 2004, o Metrô realizou uma pesquisa com usuários, que entre outros quesitos, avaliou as ações da companhia para prevenir o assédio sexual nos trens.
Para 21%, nada era feito -serviço considerado inaceitável-; 45% disseram que a companhia só agia quando a vítima conseguia informar um funcionário -nível considerado inadequado.
Sete anos depois, o Metrô diz não dispor de dados atualizados sobre níveis de satisfação (ou insatisfação) em relação à prevenção de assédio.
Em nota, afirma que, de janeiro a setembro de 2011, foram registradas na Delpom dez casos de ato obsceno e 43 casos de importunação. “No mesmo período, o Metrô transportou 807 milhões de passageiros.”
Para Marisa Mendes, 53, do sindicato dos metroviários, o que há é uma “imensa subnotificação, porque as mulheres molestadas se sentem humilhadas e desassistidas demais”. Segundo a sindicalista, os ataques decorrem da superlotação dos trens e da falta de investimento em segurança, que poderia intimidar os assediadores.
Marisa responsabiliza também o que chama de “banalização do assédio, propiciada por um tipo de humorismo que faz graça com a dor das mulheres”. Refere-se ao quadro do “Zorra Total”.
X. continua pegando o metrô para ir e voltar para o trabalho. Não mais do mesmo jeito, contudo: “Nossa, eu estou parecendo louca. Fico olhando para trás o tempo todo. Tenho cisma de alguém atrás de mim. Se tem um homem atrás de mim, eu saio. Eu não consigo evitar”.
X. vai marcar uma consulta com a psicóloga da empresa em que trabalha.

 

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2310201112.htm 

 

 

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