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A mina da inspeção veicular

Por Rafael Rodrigues

Nassif, uma dica forte para falarmos dos absurdos na terceirização:

A controlar vai inspecionar, este ano, cerca de 2,6 Milhões de veículos em São Paulo, a uma taxa de R$ 52,73 que ficará integralmente com a empresa.

Isto dá aproximadamente R$ 137 Milhões de faturamento em um ano.

Para manter 4 ou 5 unidades em São Paulo, com equipamentos que nem são de última geração, qualquer um pode oferecer um serviço muito mais barato.

Eu sou apenas um consultor de TI, mas se eu fosse esperto e tivesse lido o edital desta concorrência, eu teria conseguido uns 10 milhões com o BNDES e montado uma empresa melhor estruturada e ganho a concorrência com uma tarifa menor.

A empresa recebe a taxa recolhida antes de executar o serviço: inadimplência zero.

Os contribuintes tem de agendar data de hora para a revisão: Gargalo no atendimento zero.

Os contribuintes tem prazo escalonado para fazer a inspeção (de acordo com o final da placa): Fluxo de caixa garantido.

Não há ponto ruim para a Controlar, não há risco, não há absolutamente nada a se preocupar, a não ser cumprir os prazos e manter um serviço de call-center e um site meia-boca em funcionamento.
A margem de lucro da empresa deve ser astronômica, e para maquiar isto, a alternativa mais óbvia é a aquisição de equipamentos a preços superfaturados. Como são equipamentos de aplicação bastante restrita, falsear preços torna-se fácil. Principalmente a parte que é importada, que já pode servir facilmente para evadir divisas. Superfatura-se lá fora, faz-se o pagamento daqui para lá, esvaziando os lucros aqui (sonegação de IR) e gerando riqueza no exterior, onde rastrear torna-se bem mais difícil.

Tem mais:
A grana a ser devolvida aos aprovados na inspeção sairá dos cofres da Prefeitura, ou seja, dinheiro público que é gerado pelos impostos de todos os cidadãos. Ou seja, quem não tem carro ou tem carro mais antigo do que 2003 está subsidiando a inspeção veicular de quem tem carro novo.

Outro aspecto:

Quem controla a Controlar? Para ela, aprovar ou reprovar o veículo torna-se indiferente.

Embora a possibilidade de extorsão por parte dos inspetores ou corrupção por parte dos motoristas existir em qualquer situação, do ponto de vista da terceirizada não gera nenhum problema.

Se o processo fosse feito pelo próprio município, existiria uma necessidade maior de supervisão do processo, pois o cofre que arrecadaria a taxa seria o mesmo que reembolsaria, ou seja, o ‘cafezinho’ para liberar um veículo irregular causaria prejuízo direto, não a terceiros.

Bom… isto é um começo. Podemos explorar muito mais este tema.

Luis Nassif

Luis Nassif

View Comments

  • Nassif,

    Veja que noticia
    Nassif,

    Veja que noticia interessante abaixo. Imagine se os empresários daqyui adotassem o mesmo caminho. E queriam que Lula adotasse o caminho do pessimismo.

    Medidas tomadas contra a crise começam a demonstrar algum efeito
    Financial Times
    Ralph Atkins, David Pilling e Krishna Guha
    À medida que a economia mundial piora a ponto das profundezas se tornarem insondáveis, surgem sinais de que as ações tomadas podem ter um efeito

    Lars Nonbye, diretor geral da empresa Nonbye de produção de placas na Dinamarca, encontrou uma forma de lidar com a desaceleração econômica global. Ele a baniu do local de trabalho. Jornais são recortados para remover os artigos repletos de pessimismo, conversas sobre a crise estão proibidas no início das reuniões e adesivos anticrise são distribuídos aos clientes. "É preciso dizer um basta", argumentou Nonbye."

    Matéria completa: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/fintimes/2009/02/07/ult579u2704.jhtm

  • São Paulo parece estar indo
    São Paulo parece estar indo por um caminho sem volta. O descontrole e a entrega do poder a corrupção para maquiar a tranquilidade. O poder destes esquemas se torna tão grande que não será possível desfazer, como no caso do PCC e de empresas de onibus.

  • Mais uma vez eu lhe
    Mais uma vez eu lhe parabenizo Nassif por este espaço, enquanto outros blogs pregam o preconceito e a ignorância, aqui neste seu(nosso?) blog somos brindados por colaboradores perspicazes como o Rafael .

    Saudações,

  • E quanto à fábrica de
    E quanto à fábrica de multas... nem se fala.

    Meu cunhado trabalha na empresa que acaba de fechar mais centenas de radares móveis com a prefeitura. Isto deve significar que as estimativas deles está voltada no aumento das infrações, não na educação para o trânsito. Um dos pontos que mais eles visam são as saídas das faculdades, pois os jovens saem à toda e aí são flagrados.
    Outra coisa: é que sempre há um monitor para o aparelho e um "policial militar" fazendo um freela para proteger este monitor. Será que este "segurança" é contratado da empresa oficialmente.... Just wondering.

  • Nassfi,
    Nassfi, impressionante.

    Rafael, eu quero tocar essa história para frente.
    Temos grupos organizados que precisam saber dessa aberração.

    Por favor, vamos falar mais sobre isso?
    Com pessoas sabendo, cria-se a necessidade de ampliar o conhecimento sobre isso e questionar todo o procedimento.

    E se descobrirmos que a Controlar é de algum aliado do Kassab, do Serra ou de alguém da base política deles?

    De quem é a Controlar? Quando foi criada?

    Absurdo.

    Obrigado, Gustavo.

  • Esta minia de ouro vem sendo
    Esta minia de ouro vem sendo discutida desde,se não me falha a memória,da administração de ninguém menos que Paulo Maluf. Precisa dizer mais alguma coisa?
    Agora,estranho mesmo tem sido a constância com que nossa combativa mídia tem dedicado-se a informar-nos com notícias ruins da atual administração de São Paulo.
    Estaria o afilhado político do mandatário do Palácio dos Bandeirantes querendo fazer um voo solo?

  • Olá,
    Se com uma empresa
    Olá,
    Se com uma empresa privada já há esta grita. Qual a diferença entre serviço público e privado neste caso, já que é monopolizado?
    O outro lado da história é que se o município resolvesse fazer esta inspeção veicular, imaginem a estrutura que seria criada. Haja barnabé e aspone...
    "Quem controla a Controlar? Para ela, aprovar ou reprovar o veículo torna-se indiferente."
    Não conheço as minúcias do contrato, mas acho que a Controlar é auditada sim. Quanto à indiferença na aprovação/desaprovação do veículo: isto não é bom? Eu acho que é.
    [ ]´s

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