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Os 20 anos da Fundação Nacional pela Qualidade

Ontem foi a premiação anual da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ) e, ao mesmo tempo, a comemoração dos seus 20 anos de criação.

Estavam lá quase todos os pioneiros do movimento pela qualidade no Brasil, Gerdau, Musa, Passos, Murilo, Maciel, Wilson, uma plêiade de executivos e empresários que ajudaram a reescrever a história empresarial do país.

Ainda há muito a caminhar. Mas, em muitos setores, o Brasil tem as empresas mais bem administradas do planeta. Os critérios de avaliação da FNQ – incorporando sustentabilidade, responsabilidade social, visão estratégica – hoje em dia são benchmarking no mundo, melhores do que os da pioneira Malcolm Baldrige.

A rede de consultores formada está servindo de base para a segunda grande revolução empresarial, o MEI (Movimento Empresarial pela Inovação).

Dia desses tive uma longa conversa com Paulo Cunha, presidente do Conselho do Grupo Ultra – hoje o terceiro grupo brasileiro em faturamento. Há apenas dez anos o grupo caiu de cabeça nos modelos de gestão pela qualidade. Venceu premiações da FNQ, do Movimento Gaúcho e do Movimento Mineiro Pela Qualidade.

Eu comentava sobre o modelo extremamente burocratizado das grandes multinacionais instaladas no Brasil. Supunha ser reflexo da lei Sarbanes-Oxley, a lei anticorrupção aprovada pelo Senado norte-americano, que subordina todas as empresas listadas nas bolsas norte-americanas a princípios rígidos de conduta.

Tempos atrás fui palestrar em um seminário de logística e alguns executivos de montadoras vieram me contar o tormento em que se tornaram as empresas, com os departameentos jurídicos e de auditoria vetando qualquer operação que não estivesse no manual.

Paulo Cunha não concordou com a causa da burocratização. Listada na Bolsa de NY, o grupo Ultra está submetido à mesma lei e seu processo de decisão e de gestão é extremamente rápido. As multi sempre foram assim, me dizia ele.

Na solenidade, Antonio Maciel, presidente da Suzano – e ex-presidente da Ford – me dizia que o maior diferencial das grandes empresas brasileiras é o processo de tomada de decisão. Atrás dele, existe um planejamento estratégico claro, apontando o que a empresa pretende ser, mas sendo bastante flexível para se adaptar às mudanças de cenário.

Aliás, um dos novos critérios de avaliação de empresas, pela FNQ, será o da imprevisibilidade – isto é, como as empresas estão mais ou menos preparadas para enfrentar ambientes imprevisíveis.

O modo brasileiro</h3)
Hoje em dia existem várias escolas brasileiras de gestão, que começam a ser reconhecidas no mundo. Grande parte delas não veio dos manuais, mas do bom senso aprimorado ao longo de décadas.

Um dos exemplos mais festejados é o do Bradesco. Há mais de 60 anos, a diretoria do banco segue a rotina implantada por Amador Aguiar.

Toda segunda-feira, a partir das 7 horas da manhã, impreterivelmente, tem início a reunião de diretoria. Os diretores chegam e sentam na grande mesa. Em seguida, chegam o presidente do Conselho, Lázaro Brandão, e do banco, Luiz Carlos Trabuco. Rodeiam a mesa, cumprimentando um por um.

Tem início a sessão. Da mesma maneira que Amador Aguiar no início, Lázaro Brandão aponta: parte 1, análise das agências.

Imediatamente, diretores de cada região falam de agências que precisam ser criadas ou remanejadas. Cada diretor tem um monitor à sua frente, onde assiste às apresentações que são colocadas para cada discussão.

Passa-se ao ponto seguinte, que é a análise de conjuntura. O Departamento Econômico mostra um cenário rápido das perspectivas da economia.

Em seguida, os grandes pedidos de concessão de crédito. Todos precisam votar – contra ou a favor – de cada pedido.

Há uma avaliação da participação de cada diretor. Leva pontos negativos, se aprova um crédito que, mais tarde, se revele problemático. Mas leva pontos positivos nos projetos bem sucedidos que dão retorno ao banco.

Nenhuma decisão pode demorar mais de 24 horas.

O setor elétrico

Chamou a atenção, na premiação, a quantidade de empresas do setor elétrico entre as finalistas. E, no lado oposto, nenhuma empresa do setor de telecomunicações.

No setor elétrico, o responsável pela excelência de gestão foi o atual presidente da CPFL, Wilson Ferreira Jr, quando dirigia a GE.

Coube a ele convencer a Abradee (Associação Brasileiras das Distribuidoras de Energia Elétrica) da importância de se instituir prêmios de desempenho para o setor.

Luis Nassif

Luis Nassif

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