Enviado por Ramalho12
Publicada em 17 de novembro de 2009
O revólver do almirante (Sebastião Nery – Tribuna da Imprensa)
Fonte: Biblioteca Nacional Digital
Alto, desengonçado, mal ajeitado, um dos melhores repórteres da história da imprensa mineira, Felipe Henriot Drummond chegou à porta da suíte presidencial do Hotel Financial, em Belo Horizonte. Dois seguranças de preto e mal encarados pediram os documentos. Felipe mostrou a carteira do “Estado de Minas”. Aprovada. Tocou a campainha.
A porta abriu e lá de dentro uma voz esganiçada gritou: “Entre!” Felipe entrou. Não viu ninguém. Atrás da porta, um homem baixinho, fardado, apontava um revólver para as costas dele:
– Sente-se ali. Por que chegou antes, se a entrevista é às 12 horas?
Felipe não sabia se dava uma risada ou ia embora. Daí a pouco, fomos chegando nós, outros jornalistas, para a entrevista coletiva do almirante Penna Botto, presidente da Cruzada Brasileira Anticomunista, que foi a Minas fazer campanha contra a posse de Juscelino e João Goulart na presidência da República, eleitos dias antes, em 3 de outubro de 55.
Logo no dia 5, Penna Boto tinha dado entrevista ao “Globo”:
“É indispensável impedir que Juscelino e Goulart tomem posse dos cargos para que foram indevidamente eleitos”.
A entrevista a nós foi uma palhaçada. O atarracado almirante queria nos convencer de que o Partido Comunista estava criando um “soviet” no Triângulo Mineiro, que iria instalar-se logo que JK tomasse posse.
Não houve “soviet”, mas por pouco não houve a posse. Nas redações, passávamos madrugadas agarrados às rádios do Rio, que transmitiam a crise ininterruptamente. Até que o presidente Café Filho teve (ou fingiu) um infarto, passou o governo para o presidente da Câmara, Carlos Luz, víbora gorda do PSD mineiro, que, no dia 10 de novembro, demitiu do Ministério da Guerra o marechal Lott, vermelhão, olho azul, mais Caxias do que Caxias, e o substituiu pelo general udenista-golpista Fiúza de Castro, numa ação articulada para impedir a posse de Juscelino e Jango.
De madrugada, Lott e Denis, comandante do 1º Exército, fizeram o “11 de novembro” (terça fez 53 anos), “retorno aos quadros constitucionais vigentes”: puseram os tanques na rua, a Câmara votou o impeachment de Carlos Luz e entregou o governo ao presidente do Senado, Nereu Ramos.
Em Minas, quando a noticia chegou ao amanhecer, corremos para o Palácio da Liberdade. Juscelino, presidente eleito, já estava lá, trancado com seu vice, o governador Clovis Salgado, e o comandante da região, general Jaime de Almeida. Os dois tentaram de todo jeito segurar Juscelino, mas ele resolveu ir de qualquer forma para o Rio. Abre-se a porta e ele sai:
– Bom-dia, vocês já aqui? Vou agora mesmo para o Rio.
– Mas, presidente, há notícias de que a Aeronáutica está ao lado de Carlos Luz, que foi para Santos com Lacerda no “Tamandaré”, comandado pelo Penna Boto, e o brigadeiro Eduardo Gomes já chegou lá para tentar a resistência com a cobertura do governador Jânio Quadros. Como é que o senhor vai descer no Santos Dumont ou no Galeão? Derrubam o avião.
– Já discutimos tudo, eu, o governador e o general. Eles estão contra, mas a decisão é minha e já a tomei. Vou a qualquer risco.
Entrou em um carro e disparou para o aeroporto. Fomos atrás, repórteres e fotógrafos. Lá, uma cena dramática. Juscelino dava ordens, aos gritos, a João Milton Prates e outro piloto, queridos amigos seus, para levantarem vôo em um pequeno avião particular. Mas havia uma ordem definitiva da Aeronáutica: ninguém podia decolar.
Impedido, encostou os dois cotovelos no balcão do aeroporto, cobriu o rosto com as mãos trêmulas e chorou de sacudir. Era o choro da audácia impotente: “Meu Deus, isso não pode acontecer. Preciso assumir”!
Foi no dia seguinte. Em 31 de janeiro, o presidente era JK. Assumiu, mas só depois de Café Filho sumir, também empichado. O cruzador “Tamandaré”, comandado pelo pequenininho Penna Boto, levou três tiros de festim do Forte de Copacabana e seguiu para São Paulo, onde Jânio não quis nada com eles e voltou de rabo (popa e proa) entre as pernas.
Lacerda foi direto para a embaixada de Cuba, asilado pelo ditador Fulgencio Batista. A tentativa de golpe não conseguira apagar os milhões de votos de Juscelino. Mais uma vez o golpe de 50, 54 e 55 fora adiado para 64. Terça, “O Globo” informava que “o Instituto Histórico e Geográfico homenageou (sic) o almirante Penna Boto pelos 53 anos do bombardeio (sic) sofrido pelo cruzador Tamandaré, em 55, ao tentar sair da Baía de Guanabara”.
Em meio a desigualdades salariais, assédio e lacunas legais, advogada destaca avanços e desafios para…
O maior empregador continua sendo o serviço público, seguido de Empregador sem CNPJ (ou seja,…
Em vez de contar a partir do aniversário de 18 anos da vítima, prazo agora…
Aprovado pelo Senado, PL segue para sanção presidencial e tem como objetivo de acelerar a…
Uma Europa cada vez mais conservadora fala de guerra como se entre a 2ª e…
Manifestantes contrários ao apoio dos EUA a Israel podem comprometer a reeleição de Biden, enquanto…
View Comments
Pena que o Penna já morreu1
Ele seria um grande editorialista e blogueiro da veja, do globo e da folha! (xiii esqueci o estadão, Freud explica!)
Alias começo a achar que reencarnações do tal Penna entram regularmente para "comentar" no nosso blog. Uma pena, o blog era muito mais interessante 3 anos atrás sem estes abutres.
Falta um Samuel Wainer em
Falta um Samuel Wainer em nossas vidas.
Só assombração
De vez em quando parece filme B de terror, da Hammer! Só alma penada, viúvas golpistas e lambe-botas saudosos.
Aula
Linda aula sobre o início do "Fora Diuma"!
No Brasil, a história se
No Brasil, a história se repete regularmente. Como farsa, sempre. Saudades do Lott e do Brizola.
Cavalo do Boto.
Um desses “cavalos” que recebe a entidade do penna boto é o(a) oneide/aliancaliberal, que só é honesto no nome: como toda aliança é espaçosa, vazia e só consegue operar em duas dimensões.
Estoria ineeressante parece
Estoria ineeressante parece filme de ação. SÓ TEM UM DETALHE SEBASTIÃO NERY É UM CANALHA CORRUPTO QUE DURANTE O GOVERNO DO BRIZOLA AQUI NO RIO MAMOU O QUANTO PODE
lição de casa
Sabe aquele amigo que gosta de bater panela, vive te mandando texto do Jabor e que jura que o Lulinha é dono da FRIBOI?
Mande esse texto para ele!
Melhor ainda, inclua o prefácio: Fora Diuma!
Para quem desejar ter
Para quem desejar ter conhecimento, com riqueza de detalhes, da verdadeira ópera bufa que foi o episódio do Cruzador Tamandaré, bem como de outros eventos históricos correlatos, recomendo a leitura de O Soldado Absoluto, de Wagner William, uma biografia do Marechal Lott.