Governo precisa enfrentar chantagem nas obras de infraestrutura

Sugerido por Assis Ribeiro

Da Carta Maior

A chantagem na infraestrutura

Para enfrentar a chantagem na área de infraestrutura, o estado brasileiro precisa sair da dependência institucional da iniciativa privada. A retomada de grandes obras públicas, com a parceria entre estatais brasileiras e de países emergentes pode provar que existem alternativas para promover o crescimento.

Mauro Santayana

Nas últimas semanas, tem aumentado a pressão de diferentes setores, sobre o Estado, na questão da infraestrutura. Aproveitando-se da necessidade do setor público viabilizar os diferentes programas de concessão de ferrovias, rodovias, portos, aeroportos, energia – no valor de 240 bilhões de dólares – para acelerar o crescimento da economia, todo mundo pressiona ou chantageia o governo.
Funcionários do DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – entraram em greve há dois meses, atrasando diversas licitações. Os empresários – nacionais e estrangeiros – buscam maximizar seus ganhos exigindo menores taxas de financiamento público, absoluto controle dos negócios e retorno de até 7,5%, em um mercado no qual, em alguns países, como Japão ou a Alemanha, o juro referencial do Banco Central está entre 0% e 0,5%.

E, finalmente, a grande mídia aperta alegremente os torniquetes, exagerando o que ela aponta como “fracassos”, e subestimando e desvalorizando eventuais acertos, como ocorreu com o seminário “Oportunidades em Infraestrutura no Brasil” realizado esta semana em Nova Iorque, pelo governo brasileiro.

O evento, ironizado por parte dos “analistas” de plantão, reuniu 350 fundos e investidores estrangeiros de grande porte, que controlam recursos da ordem de três trilhões de dólares.

Certa emissora de televisão reúne regularmente equipes de “especialistas” e jornalistas próprios e alheios, para desancar, quase todos os dias, a atuação do governo nesse contexto, torcendo, abertamente, para que os leilões de concessão não tenham sucesso, influenciando o resultado das eleições do ano que vem.

Como já dizia James Carville, estrategista eleitoral de Bill Clinton na campanha contra o primeiro Bush, “é a economia, estúpido!”. Se a situação melhorar, crescem as chances de Dilma Roussef se reeleger. Mas os sucessivos entraves que vem sendo colocados às obras de infra-estrutura – greves, decisões judiciais, a hidrelétrica de Telles Pires paralisada pela terceira vez – e a sabotagem da mídia, não prejudicam apenas o atual governo.

Como muitas são obras de longo prazo, elas afetam qualquer tendência, mesmo que de oposição, que venha a assumir o comando da Nação. E isso não apenas devido à persistência dos gargalos de infraestrutura, que prejudicam a competitividade nacional, mas também com relação às contas públicas. No final da história, depois de tantas paradas, há obras que duplicam o prazo de entrega e que triplicam de preço, e, aí, parcela da opinião pública – como a que se manifestou em junho – tende a acreditar que isso se deve à corrupção, e não vai querer saber se o culpado foi o governante que deu início à obra, ou aquele que a irá inaugurar.

Para resolver o problema, o estado precisa desmascarar alguns mitos – verdadeiros paradigmas – fabricados pela mídia, a ponto de gente do próprio governo neles acreditar.

O principal é o de que a infra-estrutura só pode ser tocada pela iniciativa privada e com financiamento público majoritário do governo brasileiro, e que se não houver um retorno acima da média, os investidores irão debandar para outros países.

Se o Brasil não estivesse atraente para o investidor internacional, não seria o quarto destino do mundo em Investimento Estrangeiro Direto. No ano passado foram 65 bilhões de dólares, mais de cinco vezes o que recebeu, por exemplo, o México, que tem sido apresentado pelos mesmos setores da grande mídia como o novo queridinho dos mercados neste momento.

Aportes como o do Santander, de 7,5 bilhões de dólares para investimento em infra-estrutura no Brasil, são quase simbólicos. Principalmente quando se considera que, apenas nesta semana, o banco de Emilio Botin anunciou o envio de dois bilhões de euros – faturados no mercado brasileiro – como “benefícios extraordinários” para seus investidores na Espanha.

O leilão de Libra, mesmo que equivocado – o melhor seria entregar 100% do projeto à Petrobras – pode mostrar que nos países emergentes existem parceiros estatais e com capital suficiente para cooperar na implantação de qualquer grande projeto brasileiro. E isso, mesmo sem a presença de grandes corporações norte-americanas.

O valor total do programa de investimentos em infra-estrutura do governo, por exemplo, não chega a 8% do que a China possui hoje, em reservas internacionais.

Como exemplo de como atuam nessa área, os chineses pretendem construir, apenas no setor rodoviário, 88.500 quilômetros de rodovias até 2020, mais do que a distância total do sistema interestadual dos EUA, que, em 2004, tinha aproximadamente 74.650 quilômetros, segundo aFederal Highway Administration.

Para enfrentar a chantagem na área de infra-estrutura, o estado brasileiro precisa sair da dependência institucional da iniciativa privada. A retomada de grandes obras públicas, com a parceria entre estatais brasileiras e de países emergentes – que contam com recursos e know-how avançado no setor – pode provar, definitivamente, que existem alternativas para promover o crescimento e destravar o progresso da infra-estrutura em nosso país.

Redação

Redação

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  • Grande Sanatayana. O Brasil

    Grande Sanatayana. O Brasil com Lula deslanchou com a aliança capital produtivo e trabalho. O rentismo perdeu força, com o que o pig não se conforma.

    Agora é enfrentar o mais dificil, mais que os bancos, por incrível que pareça. Implantar no país o capitalismo de risco. Se os grandes empresários privados não querem sair da zona de conforto, confortabilíssima!, que venham os chineses, indianos, e demais emergentes.

     

  • infraestrutura

    Texto totalmente antagonico as melhores práticas. Basta ver as obras do governo federal para perceber que a melhor solução está na iniciativa privada. Como anda a refinaria em Pernambuco? Qual era o orçamento inicial? qual era o cronograma? Qial será o orçamento final? E a transposição do Rio Sao Francisco? Como está? qual era o cronograma?

     O governo em matéria de grandes obras é péssimo executor.

    E só uma correção no texto, taxa de retorno em 0,5% ou 1%, é para títulos públicos com risco próximo de zero, nenhum empresário sério, que presta conta do sucesso do empreendimento entra em projetos que tem risco altissimo com taxas de retorno baixa.

    • É isso que ele (o Assis)quis

      É isso que ele (o Assis)quis dizer: As obras NÃO andam no Brasil por chantagem dos grandes investidores  internacionais e NACIONAIS. E todo mundo sabe disso mesmo não sendo "especialista" no assunto. Safados são safados, querem pedagiar rodovias, mas não querem construí-las. querem que o Governo as construa e eles MONTAM a praça de cobrança (assim eu também quero póis facilmente vou arranjar um financiador). O mesmo acontece com as grandes OBRAS que estão sendo construidas, ou seja, depois de PRONTAS,  eles vão cobras do Povo a energia elétrica, os combustíveis, a comunicação.  Que merda de capitalismo é esse? Se não prexcisa de dinheiro, eu também quero ...

       

  • safadeza

    Esta é a coisa mais correta que temos a fazer. Já que a Petrobrás não vai assumir os 100% do pré-sal, que venham os Chineses, ou Russo, ou Indianos. Chega de sermos ROUBADOS por ladrões nacionais e internacionais muito conhecidos. 

  • A futilidade numa senhora

    A futilidade numa senhora madura me desagrada tanto quanto a gravidade numa criança. (Antero de Quental)

  • Ineficiencia
    Porque a gestão pública tem que ser ineficiente? É uma das coisas que não entram em minha cabeça dura.
    Muda o regime de remuneração salarial fixo, por regime de remuneração por desempenho que as coisas andar de vez. O governo tem que parar de ter medo de ter servidores com altos salários, mas que dão resultado.
    Outra coisa, serviço público não tem que dar lucro. Tem que fazer acontecer.

    • Mas não é essa a proposta do

      Mas não é essa a proposta do prefeito do Rio para os professores?

      Acho que sua proposta foi rejeitada...

  • Uma Empresa estatal para participar das licitações.

    Creio que bastaria a criação de empresa estatal de capital misto com ações negociadas na Bolsa de Valores do Brasil e do mundo,

    Basicamente seria uma empresa nos moldes da Petrobras, onde o governo teria o controle acionário, mas a maior parte do capital seria do setor privado.

    Com o governo federal como avalista, teria acesso ao mercado de captação no Brasil e no exterior,  pagando as menores taxas do mercado,sem falar no  acesso aos financiamentos do BNDES.

    Poderia inciar as atividades participando da licitação da BR-262 ofertando o lance mínimo, desse modo estaria garantido a implementação de qualquer obra do governo e sem depender das questões relativas ao orçamento.

    A simples proposta de criação de uma empresa de capital misto para participar das licitações, já faria aparecer mais de um interessado na licitação da BR-262 ou de qualquer outra licitação do governo para a a construção de estradas, portos aeroportos ou qualquer outra coisa.

     

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