Acordo entre a Rússia e a China pode mudar o sistema financeiro global

Enviado por Stanilaw Calandreli

Quem precisa dos Estados Unidos? A Russia e a China não

by MICHAEL SNYDER | ECONOMIC COLLAPSE BLOG | MAY 22, 2014

A Rússia e a China acabam de assinar o acordo do gás que está sendo chamado de “o negócio do século”, e os dois países estão discutindo o abandono do dólar dos EUA para usarem suas próprias moedas nas transações comerciais entre eles. Isso trará enormes implicações para o futuro da economia dos EUA, mas a grande mídia dos Estados Unidos está se comportando estranhamente calma sobre o assunto.

Eu procurei no site da CNN para ver se encontrava algo sobre este negócio do gás entre a Rússia e a China, mas não encontrei nada. Somente encontrei links para algumas banalidades como “Celebridades que usam falso cabelo vermelho” e “O adorável garoto que puxou a orelha de Obama”. Dá para notar porque a grande mídia está morrendo? Se uma história em particular não se encaixa na sua agenda, eles simplesmente a ignoram. Mas a verdade é que este novo acordo entre a Rússia e a China é enorme, e pode mudar, fundamentalmente, o sistema financeiro global, de uma forma nada benéfica para os Estados Unidos.

A Rússia e a China vinham negociando o contrato de gás natural durante dez anos, e finalmente foi concretizado. A Rússia é o maior exportador de gás natural em todo o planeta, e a China está prestes a se tornar a maior economia do mundo. Este novo acordo de US$ 400 bi significa que essas duas superpotências poderão desfrutar de um relacionamento mutuamente benéfico nos próximos 30 anos

O acordo é considerado um marco nas relações entre o maior produtor de energia do mundo e o maior consumidor. A Rússia fornecerá gás natural para a China, ao longo de 30 anos, através de um novo gasoduto.

O presidente Vladimir Putin está se voltando para a China para fortalecer a economia da Rússia, devido à deterioração das relações com os EUA e a União Europeia por causa da crise na Ucrânia. O acordo permitirá à empresa estatal OAO Gazprom (GAZP) investir US$ 55 bilhões em desenvolvimento de gigantes campos de gás no leste da Sibéria e na construção do gasoduto, disse Putin.

É um “evento memorável”, disse Putin, em Xangai, após o contrato ser assinado. “Ambos os países ficaram satisfeitos com o preço”, disse ele.

A venda de petróleo e gás natural de uma nação para outra sempre foi normal. Mas o que torna este negócio um problema potencial para os EUA é o fato de que a Rússia e a China estão trabalhando para eliminar o uso do dólar dos EUA em todas suas operações. Basta verificar o seguinte resumo do artigo de uma agencia russa de notícias.

Rússia e China estão planejando aumentar o volume dos pagamentos diretos do comércio mútuo com suas moedas nacionais, de acordo com uma declaração conjunta sobre uma nova etapa da estratégica parceria e cooperação assinada durante conversações de alto nível em Xangai, na terça-feira.

” As partes pretendem avançar nas medidas para aumentar o nível e o leque da cooperação sino-russa, em especial a cooperação na esfera financeira, incluindo um aumento dos pagamentos diretamente em moedas nacionais para o comércio, serviços de empréstimos e investimentos”, disse o comunicado.

Nos Estados Unidos, o atual padrão de vida é extremamente dependente do uso do dólar como padrão pelo resto do mundo. Se a Rússia começar a vender gás natural para a China sem envolver dólares americanos, isso seria um golpe monumental ao petrodólar. E se outras nações seguirem o exemplo da Rússia e da China, isso poderia se avolumar a ponto de o petrodólar não mais se recuperar.

E não são apenas os governos da Rússia e da China, que pretendem se afastar do dólar americano. O segundo maior banco da Rússia, VTB, acaba de assinar um acordo com o Banco da China “para pagamentos mútuos em moeda nacional“…

“Nos termos do acordo, os bancos pretendem desenvolver a sua parceria em uma série de áreas, incluindo acordos de cooperação em rublos e renminbi, investimentos bancários, empréstimos interbancários, financiamentos ao comércio e operações do mercado de capitais”, diz o comunicado oficial do VTB.

“O acordo mostra o crescente interesse do Grupo VTB nos mercados asiáticos e ajudará no crescimento do comércio entre a Rússia e a China, que já são parceiros comerciais muito próximos”, disse Vasily Titov, do Conselho de Administração do Banco VTB.

Você pode sentir o enfraquecimento do poder do dólar dos EUA.

Há alguns meses atrás, a China anunciou que planejava não mais estocar dólares norte-americanos, e eu especulei que poderia ser uma evidência que a China planejava começar a fazer uma grande jogada para sair do dólar dos EUA.

Bem, agora as intenções da China tornaram-se ainda mais claras.

Os chineses não pretendem permitir que os Estados Unidos dominem o mundo financeiro indefinidamente. No longo prazo, os chineses pretendem dar as cartas, o que significa que o poder do dólar dos EUA deve cair.

Ultimamente, em vez de acumular montanhas de moeda dos EUA, a China começou a acumular ativos tangíveis como ouro e petróleo.

A China vem estocando petróleo para sua reserva estratégica em um ritmo recorde, destacando-se como um forte ator no mercado de óleo cru.

Essa ação coincide com o crescimento das tensões no Mar do Sul da China e as ameaças do Ocidente de possíveis sanções petrolíferas contra a Rússia devido à crise da Ucrânia. Os analistas acreditam que a China está silenciosamente acumulando estoque, temendo um possível aumento nos preços do petróleo ou interrupções no fornecimento.

A Agência Internacional de Energia (IEA) afirmou em seu último relatório mensal, que a China importou 6.81 milhões de barris por dia (bpd) em abril, a sua maior importação de todos os tempos (40% da demanda mundial).

Foi-se o tempo em que a China dependia economicamente dos Estados Unidos. O mesmo acontecia com a maior parte do resto do mundo.

Mas, agora, o poder econômico mudou tão drasticamente que nações como a Rússia e a China estão percebendo que, realmente, não precisam dos Estados Unidos.

E a cada ano que passa a relação entre a Rússia e a China fica mais forte. Como Pepe Escobar observou recentemente, esta aliança emergente está causando um pouco de consternação em Washington…

E não é à toa que Washington demonstra ansiedade. Essa aliança já é realidade em muitos aspectos: através do grupo BRICS de potências emergentes (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul); na Organização da Cooperação de Xangai, o contrapeso asiático à OTAN; internamente no G20; e via os 120 membros do Movimento dos Não Alinhados (NAM). Negócios e comércio são apenas partes dos futuros acordos. Sinergias no desenvolvimento de novas tecnologias militares são bem vindas também. Depois do Star- War estilo Rússia, o sistema de defesa aérea anti- míssil dos ultra- sofisticados S-500 estará on-line em 2018, Pequim é certeza de adquirir uma versão. Além disso, a Rússia está prestes a vender dezenas de caças Sukhoi Su-35, verdadeiros estado de arte, para os chineses, enquanto Pequim e Moscou se agitam para selar uma parceria aviação-industrial.

Enquanto isso, a relação que os EUA têm com ambas as nações está rapidamente deteriorando. A crise na Ucrânia levou as relações com a Rússia ao ponto mais baixo desde o fim da Guerra Fria, e agora a China está profundamente ofendida com as acusações feitas pelo governo americano sobre militares chineses estarem envolvidos em ciberespionagem …

A China alertou, na última terça feira, que os Estados Unidos estão prejudicando os laços militares acusando cinco oficiais chineses de ciberespionagem e rebateu as acusações afirmando que “está recebendo o maior ataque em seu ciberespaço”.

A China anunciou que estava suspendendo a cooperação com os Estados Unidos em uma força-tarefa conjunta para segurança cibernética devido as acusações que militares roubaram segredos comerciais de grandes empresas norte-americanas. O Ministério das Relações Exteriores exigiu que Washington retirasse a acusação.

A troca de farpas marcou uma escalada nas tensões pelas queixas dos EUA afirmando que os militares da China usam suas habilidades de guerra cibernética para roubar segredos de comércio exterior para ajudar o vasto setor industrial estatal do país.

O abismo entre o Oriente e o Ocidente está crescendo.

Porém, a administração Obama não descobriu ainda que os EUA precisam do Oriente mais do que ele precisa dos EUA.

No momento, o número um das exportações dos EUA é o dólar americano. Nosso padrão de vida, maciçamente inflado, é fortemente dependente do resto do mundo que usa a nossa moeda para o comércio entre si e nos empresta de volta com taxa de juros super baixa.

Se o resto do mundo parar de jogar o nosso jogo, nosso sistema financeiro baseado em dívida irá rapidamente desmoronar.

Infelizmente, ninguém na administração Obama parece entender de economia global, e provavelmente eles continuarão a antagonizar a Rússia e a China.

No final das contas, as consequências dessa confrontação pode acabar sendo muito maior do que qualquer um de nós imaginou.

Michael T. Snyder
Publisher of The Economic Collapse Blog
Author of The Beginning Of The End

Redação

Redação

View Comments

Recent Posts

Mandato de Sergio Moro no Senado nas mãos do TSE

Relator libera processo para julgamento de recursos movidos por PT e PL em plenário; cabe…

8 horas ago

Uma “Escola para Anormais” no Recife, em Água Fria, por Urariano Mota

Diante disso, quando respiramos fundo, notamos que a escola seria uma inovação. Diria, quase até…

8 horas ago

Praticante da cartilha bolsonarista, Pablo Marçal mente sobre proibição de pouso de avião com doações

Coach precisava ter passado informações básicas à base com 3h de antecedência; base militar tem…

9 horas ago

Enchentes comprometem produção de arroz orgânico do MST no RS

Prognósticos mostram que perda pode chegar a 10 mil toneladas; cheia começa a se deslocar…

9 horas ago

Nova Economia debate o poder da indústria alimentícia

Com o cofundador do site O Joio e o Trigo, João Peres; a pesquisadora da…

10 horas ago

Processos da Operação Calvário seguem para Justiça Eleitoral

Decisão do Superior Tribunal de Justiça segue STF e beneficia ex-governador Ricardo Coutinho, entre outros…

10 horas ago