Cerveró diz que juiz da Lava Jato aceitou denúncia com base em revista

“(Essa denúncia sem provas) já me custou cinco meses de cadeia. Qual foi o critério que o senhor usou para me manter preso preventivamente?”, perguntou o ex-diretor da Petrobras. Sérgio Moro respondeu: “Não vou ficar aqui discutindo minhas decisões judiciais. O interrogado aqui é o senhor, e eu sou o juizo, certo?”

Jornal GGN – O ex-diretor de Internacional da Petrobras Nestor Cerveró questionou o juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos da Operação Lava Jato em Curitiba, sobre os motivos para mantê-lo preso preventivamente. Segundo Cerveró, Moro acatou denúncias frágeis feitas pelo Ministério Público “com base em uma revista”, e isso já lhe custou “cinco meses de cadeia”. 

“Qual foi o critério que o senhor usou para me manter preso”, perguntou. Moro respondeu: “Não vou ficar aqui discutindo minhas decisões judiciais. O interrogado aqui é o senhor, e eu sou o juizo, certo?” O depoimento foi gravado essa semana e circula na internet a partir desta quinta-feira (7).

Cerveró é acusado de ter comandado um setor da Petrobras que teria influência direta do PMDB na cobrança de propinas a empresário que obtinham contratos com a estatal. Ele é acusado de lavagem de dinheiro na compra de um duplex em Ipanema, em nome de empresa offshore aberta por terceiros. 

Por mais de uma hora, Cerveró tentou explicar a Moro que não praticou nenhum crime na tentativa de ocultar o suposto patrimônio obtido com ilicitudes. Em diversos momentos, ele ironizou sentença proferida pelo juiz no sentido de bloquear cerca de 106 milhões de reais que seriam fruto de propinas obtidas com a compra de navios sonda e da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.

“O senhor não me leve a mal, mas há duas coisas que me chamaram atenção. A primeira é que a investigação foi feita a partir de denúncia de revista. Achei que a Polícia Federal trabalhasse com coisas mais sólidas, e o senhor acolheu a denúncia”, disparou Cerveró. “A segunda, que eu não concordo e realmente tenho que manifestar a minha indignação, é que eu fui preso preventivamente sem ter nenhuma prova contrária (a mim), sem nenhuma acusação comprovada. Eu não estava fugindo país”, acrescentou.

“Eu fui acusado pelo (empresário) Julio Camargo de receber não sei quantos milhões (em propina). O senhor foi ver (o patrimônio) e eu não tinha dinheiro nenhum, tinha 30 mil reais, 20 mil reais”, disse Cerveró, que chegou a solicitar a Moro que o dinheiro fosse desbloqueado. “Eu estou sem receita. Meu salário na Petrobras dava mais de R$ 110 mil por mês. E eu não era o maior salário, a Graça (Foster, ex-presidente da estatal) chegava a R$ 150 mil, fora bônus, gratificações. Isso tudo, em março de 2014, eu perdi. Meu salário hoje é a aposentadoria. Hoje eu tenho uma renda que deve dar uns R$ 12 mil, R$ 15 mil”, reclamou.

Falta de critérios

Cerveró sugeriu falta de clareza nos critérios utilizados por Moro para decretar prisão preventiva, e chegou a pedir que sua situação fosse revisada, alegando falta de motivos para mantê-lo na carceragem da Polícia Federal do Paraná.

“Longe de querer ofendê-lo, mas qual o sentido de eu estar há cinco meses preso? Por que não posso responder em liberdade?”, questionou. “Eu vou avaliar a questão das provas e a prisão preventiva quando da sentença, certo?”, disse Moro, depois da insistência do investigado sobre o assunto. “O senhor recebeu a decisão [que explica os motivos da prisão preventiva], senhor Nestor. Mas não vou ficar aqui discutindo minhas decisões judiciais. O interrogado aqui é o senhor e eu sou o juizo, certo?”

A sentença de Cerveró deve ocorrer a partir de junho, segundo informações do Estadão.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

View Comments

  • Moro não poderia ser juiz no nosso 1o Império...

    Engraçado que lendo um belo livro sobre a História do Brasil, deparo-me com uma das cláusulas da 1a Constituição brasileira, de 1824, promulgada por um Imperador... Ou seja, estamos falando de quase 200 anos atrás e de algo que até um Imperador (na verdade um absolutista), Pedro I, entendia como um direito do cidadão. Mas sabemos que muito pior que Moro é quem lhe dá cobertura... Essa indecente Rede Globo e todos os seus satélites midiáticos que não sobrevivem sem ela.

    "Que em caso algum fosse alguém “lançado em degredo ou masmorra estreita, escura ou infecta” ficando abolido para sempre “o uso de correntes, algemas, grilhões e outros ferros inventados para martirizar homens ainda não julgados” (…História do Brasil: uma interpretação / CG Motta e Adriana Lopez - uma das cláusulas da 1a Constituinte brasileira, proposta em 1823 e aprovada por D. Pedro I…).

  • Por que estou preso há 5

    Por que estou preso há 5 meses sem que haja provas contra as acusações contra  mim?

    PERGUNTA NÃO RESPONDIDA.

    As perguntas pertinentes do Stanley Burburinho ao Dr. Dellagnol também não.

    Deveriam ser respondidas e satisfatoriamente, pois, deixadas assim, sem respostas. dão direito ao leigo cidadão pensar que estamos vivendo uma ditadura judicial.

    Com todo o respeito à Justiça desse país.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

  • Caraca! O Nestor  acabou com

    Caraca! O Nestor  acabou com o Morinho,,,,!veja sempre ela ditando o judiciário.

  • Quando a policia e o

    Quando a policia e o judiciario se movem por interesses politicos quem sofre é a justiça, prender Chico e soltar Francisco, investigar o partido A porém poupar o partido B, limitar o escopo das investigações a apenas ao que possa atingir o governo federal e seu entorno são atitudes que põe em descrédito as decisões do ganhador do prêmio "Faz diferença" dos irmãos Metra... ops Marinho, a não ser que "fazer diferença" se refira a tratar diferentemente certos acusados.

    • Varios

      Sim vários. E nos EUA nos casos Rosemberg , Sacco & Vanzeti e do rapto do filho de Lindberg (notório colaborador nazi).

      Havia também nos tribunais especias na França de Vichy. E no Brasil no caso dos Irmãos Naves, e em Moscou também quando expurgavam os indesejáveis de plantão. Na Espanha franquista então...parece ser o espelho de alguns tupiniquins.

      Justiça não pertence a um grupo, pertence ao povo. Por isso os Founding Fathers nos EUA quando escreveram a constituição começaram por  "We, the people..." .

       

  • Quasimodo é inocente

    "Eu fui acusado pelo (empresário) Julio Camargo de receber não sei quantos milhões (em propina). O senhor foi ver (o patrimônio) e eu não tinha dinheiro nenhum, tinha 30 mil reais, 20 mil reais", disse Cerveró...blábláblá

    nossa, como é inocente !! pobre homem

     

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