Denúncia de caixa 2 para Serra envolve tucanos, por Helena Sthephanowitz

Delação dos executivos da Odebrecht de caixa 2 para os tucanos na Suíça dá chance à Lava Jato de mostrar que realmente não tem cor partidária

Jornal GGN – A Lava Jato tem a oportunidade de mostrar a que veio. Tem dois caminhos pela frente: se aceitar denúncia de caixa 2 para Serra e tucanos envolvidos mostrará que não tem partido. Caso contrário terá que se explicar à sociedade. Helena Sthephanowitz, em sua coluna na RBA, faz a análise de matéria publicada na Folha, em que o tucano é apontado na delação dos executivos da Odebrecht. Resta saber o caminho a ser tomado pela força tarefa e pelo juiz de primeira instância Sérgio Moro.

O desafio da justiça de Curitiba, do MPF e da Polícia Federal é este: mostrar que a Lava Jato é apartidária e que a Justiça é para todos. A ver.

Leia a coluna a seguir.

Da Rede Brasil Atual

Denúncia de caixa 2 para Serra envolve tucanos com contas em paraísos fiscais

por Helena Sthephanowitz

Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, a Odebrecht apontou dois nomes como operadores de R$ 23 milhões repassados pela empreiteira, via caixa 2, à campanha presidencial de José Serra, agora ministro no governo de Michel Temer, na eleição de 2010 – corrigido pela inflação do período, o valor equivale a R$ 34,5 milhões.

A empresa afirma que parte do dinheiro foi transferida por meio de uma conta na Suíça, em um acerto com o ex-deputado federal Ronaldo Cezar Coelho (PSD-RJ), ex-PSDB. Ronaldo fez parte da coordenação política da campanha de Serra. Já o caixa dois operado no Brasil foi negociado com o ex-deputado federal tucano Márcio Fortes (RJ), amigo de Serra.

Os repasses, ainda de acordo com a Folha, foram mencionados por dois executivos da Odebrecht, durante negociações do acordo de delação premiada da empreiteira com a Procuradoria-Geral da República, em Brasília, e com a força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba. São eles Pedro Novis, presidente do grupo entre 2002 e 2009 e atual membro do conselho administrativo da holding Odebrecht S.A, e o diretor Carlos Armando Paschoal, conhecido como CAP, que atuava no relacionamento com políticos de São Paulo e nas negociações de doações para campanhas.

Novis e Serra são amigos de longa data. O tucano é chamado de “vizinho” em documentos internos da empreiteira, por já ter residido em endereço próximo ao amigo. Serra também era identificado como “careca” em planilhas encontradas pela PF. O nome do atual chanceler de Temer também aparece na lista de políticos encontrada na casa de Benedicto Barbosa da Silva Júnior, o BJ, que é presidente de um dos braços da empreiteira – a Odebrecht Infraestrutura – e que foi preso durante a 23ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Acarajé, em fevereiro deste ano.

Se a Lava Jato tiver realmente interesse em investigar a fundo o ninho tucano descobrirá a fortuna de Ronaldo Cézar Coelho na Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal.

Ex-deputado e ex-banqueiro, Ronaldo foi um dos fundadores do PSDB nos anos 1980, tendo presidido o partido no Rio de Janeiro. Em 2010, ele foi tesoureiro informal da campanha de José Serra a quem emprestava jatinho e helicóptero particulares para o então candidato a presidente fazer campanha Brasil afora.

Também em 2010 Ronaldo foi primeiro suplente do candidato ao Senado Cesar Maia (DEM-RJ), ocasião em que apresentou uma declaração de bens ao TSE contendo algumas curiosidades:

Da fortuna declarada de mais de meio bilhão de reais, quase a metade, R$ 228 milhões, estão no exterior, como dito acima, no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas. São pelo menos duas as razões para manter dinheiro em paraísos fiscais: ocultar a origem do dinheiro, ou fugir do pagamento de impostos no país do correntista. Ou seja, fortuna declarada, mas origem desconhecida.

O patrimônio de Ronaldo Cezar Coelho subiu de R$ 28 milhões em 1996 para R$ 565 milhões em 2010, crescimento de 1.937%, assim declarado: R$ 28 milhões em 1996, R$ 69 milhões em 1997, R$ 298 milhões em 2001, R$ 493 milhões em 2006 e R$ 565 milhões em 2010.

Sua fortuna no exterior passou a ser declarada a partir de 2001 (R$ 134 milhões). Passou para R$ 204 milhões em 2006, e em 2010 era de R$ 228 milhões.

Sangria

Ainda que a origem da fortuna seja totalmente legal (Ronaldo foi dono do banco Multiplic e da financeira Losango), é – ou deveria ser – questionável que um homem público se esforce para fugir de pagar impostos no país onde vive. Em vez de contribuir para criar empregos e riquezas no Brasil, porém, ele prefere aplicar metade da fortuna no exterior, evadindo capitais.

É gente como Ronaldo Cezar Coelho que quis colocar o tucano José Serra no poder em 2010, e ter influência na política monetária do Banco Central, além de influir no Ministério da Fazenda, do Planejamento, no BNDES, lembrando ainda que ele era deputado federal à época.

Maia

Na eleição de 2006 Ronaldo também foi o maior financiador da campanha de Rodrigo Maia (RJ), presidente do DEM, atualmente presidente da Câmara. Também o financiaram outras instituições ligadas ao mercado financeiro. Em troca, César Maia (pai de Rodrigo), que era o prefeito do Rio de Janeiro, empossou Ronaldo Cezar Coelho na secretaria carioca de Saúde. Em sua gestão, os hospitais municipais entraram em colapso, a ponto de sofrer intervenção do governo federal para voltar a funcionar.

O amigo

Já Márcio Fortes é conhecido como “o cara da arrecadação” entre o tucanato. Ele atuou nas campanhas de Fernando Henrique Cardoso à Presidência, na década de 1990, na campanha de 2010 de Serra e na de 2014 de Aécio Neves.

Fortes, integrante da direção nacional do PSDB e ex-presidente do BNDES, é um dos mais de 8 mil brasileiros da lista de correntistas do HSBC na Suíça vazada por um ex-funcionário do banco, no escândalo conhecido como SwissLeaks, lá fora, e Suiçalão, no Brasil.

De suas três contas listadas no banco britânico, o tucano abriu duas em 1991, quando presidia o Banerj, banco estatal fluminense. Elas foram encerradas em 2003 e 2004, mas nenhuma foi incluída na declaração de bens entregue ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) em 1998, quando Fortes se elegeu deputado.

A terceira conta foi aberta em 2003 e tinha US$ 2,4 milhões entre 2006 e 2007, período ao qual a lista do SwissLeaks faz menção. Essa conta bancária também não estava na declaração entregue à autoridade eleitoral para a campanha de 2006.

Fortes foi presidente do BNDES na gestão José Sarney, entre 1987 e 1989. Depois de ajudar a fundar o PSDB, assessorou o primeiro candidato tucano à Presidência, Mário Covas. Em 1994, foi eleito deputado pela primeira vez, com a maior votação do Rio.

Em 2008, a Polícia Federal instaurou inquérito para investigar a empresa fantasma Gold Stone, emissora de notas fiscais frias para o PSDB e para a campanha de Serra a presidente em 2002. O fisco encontrou, por exemplo, depósitos na conta da Gold Stone, de 2000 a 2003, de R$ 6,87 milhões sem origem comprovada, segundo relatório de auditoria concluída em 2006. Na época, a Delegacia da Receita Federal de Brasília, suspendeu a imunidade tributária do PSDB e o autuou em aproximadamente R$ 7 milhões.

Pois bem. Depois disso tudo, a Operação Lava Jato tem nas mãos uma chance de mostrar que não tem bandeira partidária e que a lei é para todos, independente do partido político. Moro, Polícia Federal e Ministério Público já foram acusados de usarem a operação para investigar exclusivamente o PT, ou, somente para prender petista.

É aguardar para ver.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

View Comments

  • Premiação delatada

    Nenhuma chance de provar a que veio!

    É como se de repente o carrasco resolvesse se enforcar! 

  • Tem cor sim.

    A Operação Lava Jato já cansou de mostrar que tem, sim, cor partidária. Esperar que ela demonstre o contrário a essa altura do campeonato exige uma dose paroxística de otimismo.

  • Noticia já veiculada nas

    Noticia já veiculada nas primeiras páginas da grande imprensa golpista. Trata-se apenas de propaganda eleitoral prá 2018.

  • Obrigado velha mídia! Obrigado Farsa a Jato!

    Segundo Marcos Coimba, do Vox Populi, o crescimento do Presidente Lula na preferência popular deveu-se à perseguição midiático-judicial, portanto, devemos agradecer à velha mídia por ter enfim prestado um bom serviço à nação colocando em destaque ainda maior o nosso maior líder, o Presidente Lula. Espero que esta mídia comercial continue a malhar Lula 24 horas por dia para ele crescer mais ainda na preferência popular.
    Quanto à Farsa a Jato também temos que agradecer aos seus membros, pf, mp e o juizado da Guantánamo brasileira pelo crescimento da liderança do ex-Presidente. Na sua infinita criatividade, esperamos que o mp de Curitiba continue com suas ilações, presunções e pressuposições para alçar ainda mais o admirável Lula como nosso candidato preferido.

    Obrigado velha mídia! Obrigado Farsa a Jato!

  • Pode isso Arnaldo?

    Arrrrrrrrrnaldo Cesar Coelho, o povo quer saber: A jogada do Serra com a própria filha foi legal???

  • Mais fácil o sgt Garcia prender o Zorro,

    Do que a lava-rato pegar um Tungano Graúdo , do quilate do Serra.  Tucanos brancos, ricos , maçons, com contas ñ  declaradas no exterior tem  imunidade ad eternum.

  • Ora Da.Helena,o juiz doca de

    Ora Da.Helena,o juiz doca de Curitiba Sergio Moro,que so enxerga pelo direito,vai argumentar que toda documentacao relativa a propina de Serra,foi incinerada no ataude do xara  dele,Sergio Guerra.Acha que estou debochando?Aguarde para ver.

  • denuncia...

    Corrupção é o Brasil. Corrupção é o Estado. Corrupção é o Poder Público. A quem queremos enganar? Quem a imprensa tenta proteger? Os instestinos da nação precisam ser expostos. Não pode sobrar pedra sobre pedra. Álias, até as pedras sabem como é praticada a politica e o poder público no país. Alguns ingênuos e muitos canalhas, insinuavam que existiam alguns melhores que outros. Uns honestos e outros não. A hipocrisia está escancarada, até para quem não quer enxergar.  Este processo todo só não se iniciou no governo do PSDB de FHC, graças à cumpliidade e conivência do ENGAVETADOR GERAL DA REPÚBLICA. . Quando houver a tal "condução coercitiva" ou "Prisão Preventiva" ou "Acordo de Leniência" pegando Paulo Preto, ele vai cantar como um sabiá. Até o Reinado da USP irá cair. Não sobrará um só "HONESTO".

  • Vai ser engraçado o dia em
    Vai ser engraçado o dia em que a LJ enterrar a carreira (ops) do Aécio e do Serra.
    Aí quero ver qual vai ser o discurso dos petistas chorões...

  • Sào inúteis.

    São inúteis acusações concretas. É preciso haver suspeitas. Falta um mínimo de convicção, o que prova que são fatos desimportantes e serão relegados ao devido abandono.

    Perda de tempo falar nisso. A folha gosta de tocar em assuntos inéditos à mídia, mas tábém esquecerá logo esta bobagem.

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