Em 5 dias de posse dos grampos, Moro avança em julgamento de Lula

Jornal GGN – Ao negar se declarar impedido de investigar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o juiz Sergio Moro indicou que manteve o avanço das apurações contra Lula sobre as interceptações telefônicas, ao afirmar que nos áudios “há indicação de sua intenção de obstruir as investigações, o que por si só poderia justificar, por ocasião da busca e apreensão, a prisão temporária dele”.
Os grampos telefônicos de Lula voltaram às mãos de Moro nesta segunda-feira (18), após o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, determinar que os grampos envolvendo o ex-presidente permaneçam na Vara Federal de Curitiba. A decisão do ministro em plantão judicial foi resposta a um pedido da defesa de Lula, que contestava o uso das conversas entre ele e políticos pelo magistrado.
Contudo, Lewandowski pediu cautela. Decidiu que o caso voltaria para Sergio Moro, apenas enquanto o ministro relator da Lava Jato, Teori Zavascki, estiver de recesso. Com a sua volta, caberá à Zavascki decidir se o conteúdo das gravações pode ou não fazer parte das provas contra o ex-presidente Lula.
Mas o despacho divulgado neste sábado (23) mostra que Moro não se conteve a precauções do Supremo sobre o uso ou não dos grampos. A decisão é referente a outro recurso dos advogados de Lula, pedindo que o magistrado se declarasse impedido de investigar o ex-presidente.
Na resposta de quinze páginas, Moro não apenas negou afastar-se do caso, como também fez juízo sobre o conteúdo das conversas telefônicas, ainda que autorizado a usá-las nos autos da Lava Jato há apenas cinco dias e em situação temporária.
O juiz da Lava Jato admitiu, ainda, que uma das razões para a condução coercitiva de Lula no dia 4 de março foi “o resultado da interceptação telefônica” de Lula “e de seus associados”, que não foi exposta como justificativa na decisão porque estava “mantida em sigilo”.
“Com efeitos, alguns dos diálogos sugeriam que o ex-Presidente e associados tomariam providência para turbar a diligência, o que poderia colocar em risco os agentes policiais e mesmo terceiros”.
No documento, Sergio Moro revela o orquestramento para a condução coercitiva de Lula, naquele dia 4, e para o levantamento do sigilo pouco mais de dez dias depois, sendo as conversas reveladas apenas no dia 16 daquele mês.
Ainda, entrou em própria contradição. Apesar de argumentar que os grampos não poderiam ser citados na decisão da coerção por estarem em segredo, os conteúdos foram agora usados como sustentação no despacho, sendo que ainda estão mantidos em sigilo por decisão inicial do Supremo Tribunal Federal (STF) e, posteriormente, por confirmação do próprio magistrado.
Como exemplo, citou conversa entre o ex-presidente Lula e o presidente do PT, em episódio que ambos afirmaram ter consciência que uma busca e apreensão seria realizada e que  mobilizariam “alguns deputados para surpreendê-los”, que na visão de Moro, “poderia colocar em risco a diligência”.
“Rigorosamente, a interceptação revelou uma série de diálogos do ex­-Presidente nos quais há indicação, em cognição sumária, de sua intenção de obstruir as investigações, como no exemplo citado, o que por si só poderia justificar, por ocasião da busca e apreensão, a prisão temporária dele, tendo sido optado, porém, pela medida menos gravosa da condução
coercitiva”, reafirmou o juiz.
“A medida de condução coercitiva, além de não ser equiparável a prisão nem mesmo temporária, era justificada, foi autorizada por decisão fundamentada diante de requerimento do MPF e ainda haveria razões adicionais que não puderam ser ali consignadas pois atinentes a fatos sobre os quais havia sigilo decretado”, completou.
Sergio Moro também menosprezou a medida coercitiva de obrigar Lula a depor às autoridades, naquele início de março: “o ex-­Presidente não se transformou em um preso político por ter sido conduzido coercitivamente para prestar depoimento à Polícia Federal por pouca horas”, disse.
Por fim, o magistrado do Paraná qualificou os argumentos dos advogados de Lula, para solicitar que ele se declare impedido, como “afirmações incorretas”, “inapropriados” e resultado de uma “irresignação da Defesa”, sem argumentos para o seu afastamento do caso.
Leia a íntegra do despacho de Moro:
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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  • O herói dos medíocres na

    O herói dos medíocres na caçada a um cidadão reconhecido no mundo inteiro por suas boas iniciativas. Um juiz  de primeira instância perseguindo um multilaureado Doutor Honoris Causa internacional. Retrato do Brasil, republiqueta de bananas onde os medíocres perseguem pessoas muito melhores do que eles mesmos da mesma maneira que medíocres perseguiram artistas e intelectuais autênticos naquela famosa Alemanha dos anos 30.

  • MORO ESTÁ ENTERRANDO A LAVAJATO MANIPULADO PELA GLOBO

    Os progressistas brasileiros deveriam atacar em uníssono “calhordices” como esta, deveriam fazer levantamento do que era a PF, o MF e a fiscalização do estado, não havia, e com certeza, esta movimentação e palhaçada em cima de Dilma e Lula:
    1º é para consolidar o golpe e
    2ª para enterrarem as investigações sérias deste país.
    Enquanto a Globo e Moro dão ocupação à todos com Lula e Dilma, se concretiza o golpe e enterra a lava jato. Não há maior obstrução da justiça que não fazer nada pela justiça, Dilma foi responsável pela lei anti corrupção, e Lula dinamizou a justiça, como poderiam estar nesta conveniente mesquinharia de obstrução da justiça, a não ser pelo auto da obstrução atual da lava jato. Por falar nisto, vocês já viram onde foi parar a lava jato, parece que virou esguichinho de jardim, não lava mais nala nem “calçada”.

  • A cada dia......

    Que passa, esse juizeco curitibano, mostra que realmente os advogados de  Lula tem razão. Ele está  ficando paranóico, se já não era. Não creio que o fosse no caso Banestado, que acabou em pizza, pelo CAOLHO.

    • Não seja condescendente

      Moro não tem nada de paranoico. O cara é canalha mesmo. Mal intencionado e motivado politicamente. É o braço togado do golpe plenamente consciente que não conseguiu incriminar o Lula mas que não desistirá enquanto não prender o Lula ou ele próprio ser apeado do golpe. Se existisse justiça neste país este salafrário estaria no mínimo afastado de suas funções jurídicas.

      • Razão

        É por isso que chamo essa justiça de mori-i-bunda. Temos que acabar com o poder judiciário - que não emana do povo - como tantas democracias já fizeram. A área da justiça deve ser classificada como de serviço público, à semelhança da saúde, educação, segurança etc. Daí acabaremos com um monte de patifarias - e de patifes.

  • Sem limites.
    A diarréia verbal não tem limites. Não vejo grandes dificuldades de alguém escrever acusações, suposições e meias verdades nesses processos. Eu mesmo apesar de não ter doutorado e mestrado no exterior consigo facinho encher linguiça em 50 folhas. E a justiça? E esse Lewandowski?

  • Impressiona, desde sempre, a

    Impressiona, desde sempre, a falsa argumentação, recheada de falácias e premissas descompromissadas, utilizada por esse juiz. Para ele, as leis são mero arcabouço para ele fazer o que bem entender e quando quiser. Mente, mente até acreditar em suas (im)próprias mentiras. Fosse o país instado à regularidade na aplicação das leis, ele estaria fora há muito tempo. Seus despachos, sentenças, defesas (?) em geral são destituídas, inclusive, de qualquer lógica eou racionalidade. Vai da valsa, sempre avançando um pouco mais, sempre testando os limites a ele permitidos pelos lewandovskis da vida. Ainda será - por ele arbitrado - o grande mestre-militar-religioso-político-soldadesco-negocial-midiático deste país. Considerar que participar de cerminônias da globo, do dória e outros menos votados, em si, não seja participar de atos políticos, faz doer até mesmo as orelhas dos cães de rua. Ou os tribunais ditos superiores, a quem a defesa do Lula deverá recorrer, "cortam as asas urubusescas" do referido, ou tudo desMoronorá de vez. Não há meio termo. Pobre país...

  • A Mão

    O Moro é muito limitado, portanto duvido que agiria com tal arrogância, atropelando a Cosntituição e abrindo um fissura na nossa adolescente democracia sem um patrinho forte o suficiente pra matar a bola no peito e sem nehum constrangimento segurar o tranco. Eu só vejo um padrinho que age todos os dias sem o menor constrangimento, Gilmar Mendes.

  • Moro,  admita!!!!!
    Nada foi

    Moro,  admita!!!!!

    Nada foi achado de ilícito na compra do sitio de Atibaia que não é de Lula, e nos pagamentos de cotas de um ap no Guarujá.

     

  • Já Claudia Cruz tá de boas.

    Já Claudia Cruz tá de boas. Segundo reporcagens da mídia hegemônica tem mantido a rotina.

    Mesmo com todas as provas enviadas pela justiça Suíça. Mesmo com acusações de lavagem de dinheiro e evasão

    Mesmo ela tendo um patrimônio incompatível com seus ganhos (http://oglobo.globo.com/brasil/patrimonio-de-claudia-cruz-mais-que-dobro-do-de-cunha-19609505).

    Pra acabar, ontem (22/07/2016) Moro recebeu a comenda ‘Ordem do Mérito do Comércio do Paraná’, da Fecomércio-PR, das mãos (sujas) do Ministro da Saúde Ricardo Barros.

    Ricardo Barros é ex-tesoureiro do PP, o partido com maior número de investigados na lava-jato (de 50 investigados 32 são do PP).

    Ricardo barros está na lista de mais de 200 nomes da Odebrecht, e segundo a planilha apreendida na casa de Benedicto Barbosa Silva Júnior ele e outros 2 do partido progressista teriam recebido em 2012 mais de 800 mil da empreiteira. A documentação apreendida, bem rica em detalhes, foi colocada em sigilo por Sérgio Moro.

    É também investigado por fraude de licitação para publicidade em Maringá / 2011, acusado de direcionamento em licitações.

    Ricardo é irmão do ex-prefeito de Maringá e secretário do planejamento de Beto Richa (condenado por improbidade pelo TJ-PR) e marido da vice-governadora de Beto Richa (PSDB), Cida Borghetti (PP).

    Barros é militante contra a existência do Sistema Único de Saúde (SUS) e advoga pela presença de planos de saúde privada, aliás, que financiaram sua campanha eleitoral para a Câmara.

    http://www.esmaelmorais.com.br/2016/07/ricardo-barros-do-pp-partido-mais-citado-na-lava-jato-homenageou-sergio-moro/#more-160434

    http://epoca.globo.com/tempo/expresso/noticia/2016/05/maior-doador-de-campanha-do-ministro-da-saude-e-socio-de-gigante-de-planos-de-saude.html

    http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/10/1700296-stf-determina-reabertura-de-inquerito-contra-relator-do-orcamento.shtml

    http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/05/ricardo-barros-pp-ministro-da-saude-do-governo-temer.html

    http://angelorigon.com.br/2016/01/07/fraude-em-licitacao-policia-federal-ouvira-ricardo-barros/

  • Perfeito

    a mamãe dele, professora de português, não consiguiu ensinar-lhe uma redação.

    O pai, um reacionário, também professor, não conseguiu lhe ensinar um mínimo de lógica. 

    Daí, Moro, virou um Rolando Lero, perfeito.

    Não será estupefato se, o Dr. Moro, ao final de seus despachos, taxar: S,M.J. ou seja, salvo melhor juizo. 

    O cara debocha com nossa inteligência.

     

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