Quando autoridades se comportam como moleques, como moleques serão tratadas, por Eugênio Aragão

Foto: Agência Brasil – Wilson Dias

no blog de Marcelo Auler

Porque a presidente do CNJ não deve entrar no jogo corporativo dos juízes

Eugênio José Guilherme de Aragão

Eugênio Aragão: “Quando autoridades se comportam como moleques, como moleques serão tratadas”. Foto: Gil Ferreira/Agência CNJ.

A liturgia do cargo público não é mero exercício de vaidade e de ego. Ela é um marco do republicanismo, que determina ser o exercício de função pública uma atividade impessoal. Quem está investido nela não deve a enxergar como um galardão adquirido em razão de qualidades pessoais, mas precisamente porque foi chamado a servir ao público. A liturgia lhe serve de proteção, para qualificar a função e não a si.

Juízes, por exemplo, lidam diariamente com conflitos. Ao decidirem sobre uma causa, tornam um dos litigantes vencedor e outro perdedor. Aquilo que pode significar, para o magistrado, apenas um número em sua estatística de produção mensal, na alma do perdedor pode ser uma catástrofe pessoal. O que o leva a não ir às vias de fato com aquele que vê como seu malfeitor? É a aura da liturgia que inspira o respeito necessário a criar uma barreira de blindagem relativa.

Quando, porém, autoridades se comportam como moleques, como moleques serão tratadas. Se adotarem discurso e comportamento de botequim, não poderão se queixar quando começarem a voar garrafas e sopapos.

Temos assistido quase diariamente comportamentos fora do script litúrgico por parte de magistrados, a começar por alguns do andar de cima. Têm sido muito cúpidos em dar entrevistas, falar fora dos autos, opinar sobre tudo e todos. Têm adotado posturas controvertidas e, por vezes, até mesmo político-partidárias em discursos públicos, seja nos tribunais ou fora deles.

A desfaçatez de mudar ostensivamente de opinião, conforme o momento político e o alvo das ações jurisdicionais, chega a causar náusea àqueles que assistem a esse circo quase cotidiano. Esse tipo de atitude cai bem em conversa de bar, onde a inconsequência regada a álcool tudo permite, tudo perdoa, mas não no exercício de função pública.

Dos magistrados se espera autocontenção e não exibicionismo. Infelizmente há, entre nós, magistrado que se fez notório e não é um bom exemplo de autocontenção.

A despeito de gozar de exclusividade para cuidar só de um universo de processos supostamente conexos, decretada por seu tribunal, aparentemente em virtude de sobrecarga que esse universo representa, esse juiz tem viajado Brasil e mundo afora para dar palestras, receber prêmio de bom-mocismo e participar de talk-shows.

Tem tido tempo de sobra para difundir seu moralismo obsessivo sobre os fins da persecução penal de “corruptos”, a ponto de virar super-herói de uma parte desorientada da sociedade, cuja bronca turva sua visão sobre o crítico momento político vivido pelo País. Para fugir das garrafadas e dos sopapos, anda com séquito de seguranças e deles vive cercado no trabalho e em casa. Torna-se, assim, personagem controvertido, agente de disseminação de incertezas, ao invés de se limitar a oferecer segurança jurídica a seus jurisdicionados.

Isso não é vida de juiz. Mas, ainda que não faça sentido, no sadio senso comum, essa imagem distorcida que se oferece de um magistrado, tem sido exemplo para muitos outros de sua corporação, que também querem compartilhar desse espaço de afago público a egos jurisdicionais.

Para tanto, assinam até abaixo-assinado de defesa do colega premiado de bom-mocismo, quando se torna alvo de críticas mais ou menos acerbas. Alguns foram às manifestações “contra a corrupção” convocadas para derrubar governo, manifestam-se cheio de emoção em perfis de Facebook e, depois, deram provimento liminar para impedir posse de ministro de estado.

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Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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  • Esse sim é que deveria

    ter sido o ministro da justiça do governo  da Dilma desde o inicio. Não foi a direita que destruiu o PT e sim o PT se auto destruiu quando bancou de republicano. Hoje só reta a choradeira.

     

     

  • Porque a Dilma não escolheu o

    Porque a Dilma não escolheu o Aragão desde o começo? Inves disso ficou com o Arregão

    PS: Para ver a diferença entre os dois, enquanto um dá essa trauletada bem dada no Gilmar, o outro, o Arregão, encontra-se com a nefasta figura para confabular "saídas para o país". Com ele e o FHC. Está no 247

    • Deixou ele "solto" pra

      Deixou ele "solto" pra nortear a gente no pós-golpe. Não reclamo, não

       

      P.S. Min. CL tá se lembrando que o Senado é que "impixa" a ministrada, né? Eu quero é mais que os senadores fiquem revoltados com o STF e saiam detonando a porra toda. Que os golpistas se matem! O acordo que todo mundo fez era pro Cunha se dar bem. Deu ruim; levaram o hômi pra Guantánamo e deixaram o Frouxo do Temer pra governar. Pirou todo mundo. Vão ficar batendo cabeça até Temer cair. Na era Cunha, era tudo resolvido com um não vou te dar mais $$$ ou vou delatar vc ou mando matar sua família e todo mundo ficava quieto. Agora, tá uma zona e a treva é tão densa que foram desenterrar FHC. #TamuFucks! Melhor chamar a Dilma de volta. 

  • O Aragão renova as esperanças

    O Aragão renova as esperanças da gente na Justiça. Dífícil acreditar que é do MP. Deve ter sofrido um bocado no meio daquela mauriçada e patriçada sem noção. Salvou minha semana!

    • Bravo, doutor Aragão.

      Cristiana, eu nunca fui de herois, mas o Aragão que se parece às vezes com Dom Quixote, no sentido de um idealista, faz um bem danado em meio a tanto desencanto e desilusão. Ele é um heroi, sim, porque quem tem coragem de dizer verdades em meio a tantas mentiras nestes dias de escuridão?

  • Esse é o tom correto. Porém,

    Esse é o tom correto. Porém, mais uma vez, tarde demais. A boçalidade já perdeu a modéstisa.

  • Levantando a toga.

    Tem a antiga piada do cara que está prestando informações pessoais numa entrevista de emprego:

    —Nome do pai?

    —Padre Gervasio Mamede

    —Nome da mãe?

    — Freira Maria do Rosario

    Espantado o funcionário pergunta:

    — Largaram a batina?

    Ao que o entrevistado responde:

    — Não, só levantaram um pouco!

    .

    Nossos juízes já levantaram a toga ao limite

  • Acertadíssimo o FOCO do
    Acertadíssimo o FOCO do debate sobre o judiciário,se assim
    fizermos com TUCANOS e com a MÍDIA MANIPULADORA
    acordaríamos a sociedade,É BATER NA MESMA TECLA ATÉ
    DAR ENTER,blogs sujos unam-se e vamos pra cima !!!!

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