Enviado por Gilberto Cruvinel
Soneto 272, de Francesco Petrarca
Petrarca
Soneto CCLXXII
tradução de Afonso Teixeira Filho, aluno de doutoramento da DLCV/FFLCH-USP e tradutor
A vida foge e não recua um passo
E a morte, em grande marcha, vai em frente;
As coisas do passado e do presente,
Ao futuro reclamam meu espaço.
A jornada que nesta vida eu traço
Na espera e na lembrança inutilmente,
Por pena de mim mesmo descontente
Este caminho que ora fiz, desfaço.
Se à lembrança me vem algum desejo
Do peito que a alegria abandonou,
Ao navegar em alto mar eu vejo
O porto onde meu barco desistiu,
A nave que lá fora naufragou
E o fogo que dos olhos teus fugiu.
Soneto CCLXXII
La vita fugge, e non s’arresta un’ora,
e la morte vien dietro a gran giornate,
e le cose presenti e le passate
mi dànno guerra, e le future ancòra;
e ‘l rimembrare e l’aspettar m’accora,
or quinci or quindi, sí che ‘n veritate,
se non ch’i’ ho di me stesso pietate,
i’ sarei già di questi pensier fòra.
Tornami avante, s’alcun dolce mai
ebbe ‘l cor tristo; e poi da l’altra parte
veggio al mio navigar turbati i vènti;
veggio fortuna in porto, e stanco omai
il mio nocchier, e rotte àrbore e sarte,
e i lumi bei, che mirar soglio, spenti.
…………………………
Francesco Petrarca (Arezzo, 1304 – Arquà, 1374), intelectual, poeta e humanista italiano é considerado o inventor do soneto, embora estudiosos como Guilherme Colletet (1598 – 1659) afirmem que os italianos teriam recebido a fórmula deste poema dos trovadores (“troubadours”) da Provença, que, por seu turno, já a teriam recebido dos poetas que floresceram na corte dos primeiros reis da França. Pertence a Petrarca, no entanto, a fama de o ter generalizado. Foi baseado no trabalho de Petrarca (e também no de Dante e de Bocaccio) que Pietro Bembo, no século XVI, criou o modelo para o italiano moderno, mais tarde adotado pela Accademia Della Crusca.