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A edição de Veja de 11 de setembro de 1968

Por Flávio Furtado de Farias

Do Blog Partido da Imprensa Golpista 

Foi em um 11 de setembro

Mino Carta ofereceu alguns números da revista Veja para serem analisados por Pannunzios, Magnolis, Azevedos e quejandos.

Pannunzio, muito ocupado talvez, repassou a tarefa de forma democrática a seus leitores, pedindo que Jotavê (que lhe é crítico) e Big Head (Este é um favorável. Mas duvido que este consiga escrever algo que valha a pena, pelo quê apresentou até agora naquele blog).

Claro que antes de propor o desafio aos seus leitores, fez uma postagem onde apresentou sua história (apesar de ele mesmo só aparecer como um menino de 3 anos e depois de sete anos, em meios a narrativas de seus parentes). Apresentou-se como neto de comunista.

De qualquer forma, resolvi ler de novo este número que já havia folheado no passado. Apresento parte de minha análise inicial. Li as primeiras 23 páginas do total de 130 páginas.

A análise a seguir:

11 de setembro de 1968. Foi em um 11 de setembro que, com uma capa vermelha, foice e materlo em mãos, a Revista Veja, sob o comando de Mino Carta, já de cara provocou os militares.

Já na primeira sessão Indicações, Veja abriu espaço para divulgação de vários eventos empresariais, universitários e acadêmicos – Congresso de Odontologia, festival de música, feira da indústria. Dentre os eventos indicados, a Veja de Mino Carta indica I Encontro de Jornalista da Guanabara para debates que incluiria a regulamentação profissional e a função social do jornalista. Destaca um encontro (Convívio) na Escola de Cultura de São Paulo com cursos diversos inclusive sobre o pensador Marxista Herbert Marcuse.

Nas Indicações de diversões, destaque para a História da Música Popular Brasileira e show com o humorista Millor Fernandes e de Elis Regina. No espaço para o Teatro (página 17) destaca Os Fuzis da Senhora Carrar, de Bertold Brecht, que contribuiu para estruturar o coletivo de resistência à ditadura militar brasileira. Além de indicar também a sua (B.Brecht) A Ópera dos Três Vinténs que desperta no espectador prazer pela possibilidade de mudança da realidade, e que serviu de inspiração para A Ópera do Malandro de Chico Buarque, uma crítica ao regime militar no Brasil.

Outra peça indicada foi A Cozinha, de Arnold Wesker que junto com John Osborne e Harold Pinter se notabilizaram pela preocupação com a relação de poder entre torturador/torturado, senhor/escravo.  E ainda quatro minipeças do autor espanhol Arrabal, autor que criticou a repressão do general Franco na Espanha.

Na página 19, Cinema, indica o filme Privilégio de Peter Watkins, diretor engajado, inclusive contra ditadura.

Na página 20, a apresentação de MINO CARTA como diretor da revista. E na carta do editor as palavras de Victor Civita (Editor e Diretor).

Na página 22, a foto de uma jovem com a perna direita sangrando, e a legenda: “uma vítima? Para a polícia, apenas uma agressora que perdeu sua guerra”. Desta forma, fica o forte contraste da violência militar frente à frágil resistência estudantil. O primeiro parágrafo já apresenta que, apesar de o título afirmar que os dois lados admitem a violência, “se você passa o tempo todo ouvindo ameaças, boatos e de repente se defronta com o inimigo, você não pode esperar que ele o irrite antes”, ou seja, as ameaças partiram do regime militar. E apresenta sem mais delongas que um estudante foi morto pela polícia militar. E apresenta que depois de cinco anos, a batalha de Davi e Golias se inicia (“nas lutas a pau e pedra contra o gás lacrimogênio, o cassetete e o tiro.”). Ao apresentar a posição dos militares, deixa um bem claro “– A SEU VER – a melhor justificativa para o rigor das autoridades diante das manifestações.

O texto apresenta a explicação do assessor de Relações Públicas da Secretaria de Segurança Pública da Guanabara: “A DOPS sabe muito bem que passeata não se dissolve a bala. Mas  este tipo de movimento de rua é um fato relativamente novo que exige uma série de adaptações técnicas, materiais e psicológicas” e ainda diz que o assessor entende que “não se pode deixar de levar em conta as condições emocionais do policial sem equipamento de proteção.” No entanto, na mesma página a charge apresenta um policial todo equipado como equipamentos de segurança e fortemente armado para o ataque. É um claro desmentido às falas do assessor.

Apresenta o texto a forma como os estudantes conseguiam evitar a violência policial, andando na contramão (atrapalhando o trânsito), depois utilizando rolhas e depois bolinhas de gude. Observe que o objetivo era se afastar da violência inicialmente, mas podendo ser utilizada como violência contra os opressores.

Luis Nassif

Luis Nassif

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