A fraude da Folha e o chute no balde

Enviado por Adir Tavares

do Coleguinhas, uni-vos!

A FRAUDE DA FOLHA E O CHUTE NO BALDE

A fraude – desculpe aí, mas Glenn Greenwald e Erick Dau estão certos, não tem outra palavra – que a Folha cometeu ao divulgar pesquisa dizendo que 50% dos brasileiros querem que #foraTemer continue no governo, quando a verdade inteiramente diferente, quase oposta, para mim confirma que os donos dos veículos impressos de comunicação simplesmente chutaram o balde, desistiram do negócio – ou passaram a considerá-lo apenas um acessório de outros, em ramos diferentes. Confirma porque não foi o primeiro desatino editorial cometido nos últimos anos: centenas, talvez milhares, de matérias anteriores insuflaram o golpe de estado ora em andamento, os exemplos são numerosos e os mais significativos podem ser consultados por quem se interessar no Hall da Infâmia do King of the Kings (aí em cima).

Você pode argumentar que não foi o Otavinho que editou a lambança. Poderia ser assim se fosse uma cascata normal, dessas que a Folha edita três ou quatro vezes por semana. Essa não. Mentir deliberadamente para o leitor não está na alçada da direção de redação – arriscado demais, é decisão para dono, para quem manda, para quem toma as decisões estratégicas.

E sabe do que mais? Do ponto de vista de um dono de jornal, de cara que pensa apenas na última linha do balanço, aquela em que se vê se houve lucro ou prejú, a decisão de Otavinho é defensável.

Dê uma olhada nesta dupla tabela/gráfico. Ela foi montada a partir daquela pesquisa realizada pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República publicada ano passado, com dados apurados no fim de 2014, que vimos exaustivamente por aqui, e antes, portanto, da “débâcle” da circulação ocorrida ao longo de 2015 e início deste ano e apontada pelos números de IVC, também vistos por aqui (aliás, falaremos sério sobre os dados do IVC semana que vem, ok?).

Não precisa nenhum estatístico para ver qual o problema. Três em cada quatro brasileiros simplesmente não leem jornal. Nunca. Muito ruim, mas há mídia em situação pior – as revistas. Veja (com trocadilho, por favor).

 


O problema dos veículos impressos não se restringe ao Brasil, obviamente, e os dados obtidos pelo Pew Research Center e divulgados há pouco demonstram isso nos Estados Unidos, situação que se estende a quase todos os países, nos quais os jornais há muito deixaram de ser fontes primárias de notícias, como se vê nos gráficos abaixo, retirados do Digital News Report, edição 2015, publicado pelo Reuters Institute de Oxford – o primeiro mostra a variação dos meios como fontes primárias de notícias na Alemanha e na Dinamarca; o segundo a distribuição desta mesma variável por 15 países, incluindo o Bananão.

 

 


A diferença entre lá fora e aqui é a atitude dos “publishers” no que diz respeito ao declínio inexorável dos veículos impressos. Enquanto potências como New York Timese o grupo Axel Spring, da Alemanha, se viram procurando tornar suas reputações, construídas durante décadas, fontes de receitas por meio de novas ferramentas e produtos, os donos de veículos brasileiros definiram que, já que suas reputações nunca valeram de muito mesmo, vão radicalizar o que sempre fizeram: usar as publicações como armas apontadas para os Executivos visando tomar deles o que puderem em termos de publicidade oficial.

É dentro deste conceito que pode ser vista a fraude perpetrada pela Folha e capturada (haha) pelo The Intercept. Como jamais desenvolveram capacidades gerenciais reais, dedicando-se apenas aprender as melhores formas de mamar nas tetas governamentais, os “publishers” tupinambás resolveram raspar o tacho – armaram o golpe e, agora, com o governo de #foraTemer no poder, partem com tudo para cima das verbas publicitárias manejadas pelo notório Eliseu Padilha. Se, pela boa, conseguirem emplacar um tucano em 2018 (se não alcançarem a meta de melar as eleições presidenciais até lá, o que seria melhor), terão mais cinco anos (é o novo período de mandato presidencial, lembra?) para saquear o que restar – se sobrar algo.

Se der tudo, errado e a esquerda voltar ao poder, então se verá o que fazer. Uma opção para todos seria a “solução Abril”: vender parte minoritária das ações (como os Civita fizeram para o Naspers, em 2006) e/ou ir fundo no “branded content” (matéria ou publicações inteiras que falam de um tema de forma jornalística, mas pagas por anunciante ou grupo de anunciantes – um passo além do publieditorial, pois não há aviso de que é matéria paga em lugar algum). A autorização, por parte de #foraTemer, permitindo que o Grupo Globo repasse indiretamente as suas concessões poderia ser um passo preliminar para a primeira ideia. O Grupo Folha da Manhã, nesse contexto, está numa posição muito boa, pois, hoje, o jornal, além de arma para assaltar os cofres públicos, é pouco mais do que um gerador de tráfego para o UOL, a “rede Globo” dos Frias.

Assim, quando mestre Bob Fernandes pergunta se os donos das empresas de comunicação não sabem que as pessoas estão vendo a hipocrisia deles no processo político pelo qual o país passa atualmente, a resposta é sim. Sabem. Só não se importam.

P.S.: Você seguiu os links, certo?

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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  • GLENN É O CARA!

    AULA MAGNA DE JORNALISMO PARA A REPÚBLICA DAS BANANAS E O MUNDO

     

    Em entrevista à Intercept, Luciana Chong do Datafolha insistiu que foi a Folha, e não o instituto de pesquisa, quem estabeleceu as perguntas a serem colocadas. Ela reconheceu o aspecto enganoso na afirmação de que 3% dos brasileiros querem novas eleições “já que essa pergunta não foi feita aos entrevistados”. Luciana Schong também conta que qualquer análise desses dados que alegue que 50% dos brasileiros querem Temer como presidente seriam imprecisos, sem a informação de que as opções de resposta estavam limitadas a apenas duas.

    No fim de abril, a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) publicou seu ranking anual de liberdade de imprensa e o Brasil caiu para a 104ª posição, em parte devido à “propriedade dos meios de comunicação continuar concentrada nas mãos de famílias dominantes vinculadas à classe política”. Mais especificamente, o grupo observou que “de forma pouco velada, a mídia nacional dominante encorajou o povo a ajudar a derrubar a Presidente Dilma Rousseff” e “os jornalistas que trabalham nesses grupos midiáticos estão evidentemente sujeitos à influência de interesses privados e partidários, e esses conflitos de interesse permanentes são obviamente prejudiciais à qualidade do jornalismo produzido”.

    Uma coisa é a mídia plutocrática brasileira incentivar e incitar abertamente a queda de um governo democraticamente eleito. De acordo com a RSF, esse comportamento representa uma ameaça direta à democracia e à liberdade de imprensa. Mas é muito diferente testemunhar a fabricação de manchetes e narrativas falsas insinuando que uma grande parte do país apoia o indivíduo que tomou o poder de forma antidemocrática, quando isso não é verdade.

    ATUALIZAÇÃO (quinta-feira): Novas evidências surgiram mostrando que a fraude jornalística da Folhafoi ainda pior do que pensávamos quando esse artigo foi publicado. A Folha respondeu a este artigo através de uma notícia. Leia aqui nosso artigo sobre estes novos eventos.

    https://theintercept.com/2016/07/20/folha-comete-fraude-jornalistica-com-pesquisa-manipulada-visando-alavancar-temer/

    https://theintercept.com/2016/07/21/a-fraude-jornalistica-da-folha-e-ainda-pior-surgem-novas-evidencias/

  • A cauda que abana o cão

    José Serra é o representante da política externa dos Estados Unidos dentro do Brasil.

    Mark Weisbrot diz que a grande mídia brasileira, em associação com as grandes corporações, é "a cauda que abana o cão".

    O co-diretor e co-fundador do Centro de Pesquisa Econômica e Política (CepR), de Washington, nos Estados Unidos, e presidente de política externa e autor de muitos livros sobre política, concedeu entrevista ao canal russo RT, em que compara a Rede Globo e a grande mídia brasileira ao canal reacionário e de extrema direita Fox News, dos Estados Unidos.

    Para ele, a situação do Brasil seria a mesma dos Estados Unidos se a Fox News tivesse 70% da audiência. Veja vídeo:

    [video:https://youtu.be/AvVsqivrF5A width:600]

  • Atento ao artigo de Adir

    Atento ao artigo de Adir Tavares,discordo frontalmente da afirmação "Você pode argumentar que não foi o Otavinho que editou a lambança".Perdão meu caro,não sejamos ingênuos,esse é um típico Contrato de Venda e Compra,quero dizer, esse assunto é de exclusividade unica de "Capos"se me faço entender.O resto é ilusão de ótica.

  • O jornalista Elio Gaspari,o

    O jornalista Elio Gaspari,o de múltiplos chapéus,muito bem alcunhado por um confrade,em sua prestigiosa coluna em jornais do PIG desse domingo,não nos brindou com uma mísera palavra sobre "Temer Equilibrou-se,que foi ao ar domingo passado,com base na capadocagem do DataFolha.Deveria receber como castigo,em Nova Iorque  onde vive,fazer a travessia em um fio de arame farpado,equilibrando-se em uma haste,do One World Trade Center ao Rockefeller Center,em noite de furacão Katrina II.

  • Contrato de Prestação de

    Contrato de Prestação de Serviços entre Mídia e Governo Golpista

    Simples assim:

    O Governo Golpista e a Mídia Oligopolizada Brasileira têm, entre si, justo e acertado o presente Contrato de Prestação de Serviços, que se regerá pelas cláusulas seguintes.

    Cláusula 1ª A Mídia Oligopolizada Brasileira se compromete a publicar diariamente em todos os seus veículos de comunicação notícias que enalteçam o presidente interino e o Governo Golpista e desabonem seus opositores.  

    Cláusula 2ª O Governo Golpista se compromete a liberar verbas publicitárias à Mídia Oligopolizada Brasileira em valores suficientes para que estas se mantenham firmes e fortes, independentemente da perda de relevância de seus serviços em razão da internet.

    Cláusula 3ª O presente contrato vigorará por tempo indeterminado.

     

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