Categories: Mídia

A Montanha dos Sete Abutres do Chile

Folha de S.Paulo –

Excessos da imprensa no Chile são criticados – 18/10/2010

Para estudiosos do jornalismo, houve exagero nos investimentos e “circo” na cobertura do resgate

Artigos comparam caso a um “reality show” e questionam se atuação não foi pautada apenas pela busca de audiência

GABRIELA LONGMAN
DE SÃO PAULO

A presença de mais de 1.300 jornalistas para a cobertura, passo a passo, minuto a minuto, do resgate dos mineiros no Chile gerou ampla repercussão nos centros internacionais de mídia.

Artigos em fóruns de mídia independentes e sites de universidades ao redor do mundo questionavam a cobertura exagerada de um evento de relevância discutível.

“Mandar seis fulanos da Reuters não teria sido suficiente?”, perguntava um usuário numa discussão acalorada no Twitter.

A mesma pergunta estava, sob outra forma, na frase do professor da Universidade de Nova York Jay Rosen. “É uma boa história, mas [a presença de] 1.300 jornalistas corresponde à realidade?”

A “realidade” é a do investimento maciço de recursos numa cobertura pontual, numa época marcada pela verba cada vez mais enxuta para grandes coberturas internacionais e correspondentes estrangeiros.

Artigos publicados no “Guardian” e no “New York Times” da semana passada relatavam o impacto da cobertura do resgate dos mineiros sobre o orçamento da rede britânica BBC.

Segundo um relatório da empresa, a operação custou mais de 100 mil libras, que não estavam previstas no orçamento original do período.

A consequência? A redução de outras operações de cobertura -o encontro climático, em Cancún (México), em novembro, e a próxima reunião do G20.

O exagero na cobertura em San José também mobilizou o professor da Universidade Lehigh (EUA) Jeremy Littau.
“Essa história me deprime”, escreveu em seu blog, mencionando a ” insanidade das escolhas midiáticas atuais, preocupadas apenas com a audiência”.

Ele lembrou ainda que o terremoto no Chile, há poucos meses, esteve longe de atrair tamanho interesse.

“Mil e trezentos jornalistas! Imagina o que poderíamos fazer com isso? Por que cada canal de TV precisa ter sua própria câmera e seu próprio repórter na era do satélite? O que vejo é uma indústria desperdiçando recursos financeiros e humanos.”

Na Itália, o jornalista e professor da Universidade de Macerata Gennaro Carotenuto comparou o resgate a um reality show -feito pela e para a mídia.

Para ele, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, programou a libertação dos mineiros “de acordo com os horários de máxima audiência televisiva”.

Clique aqui para acompanhar no Twitter

Luis Nassif

Luis Nassif

Recent Posts

Comunicação no RS: o monopólio que gera o caos, por Afonso Lima

Com o agro militante para tomar o poder e mudar leis, a mídia corporativa, um…

5 horas ago

RS: Por que a paz não interessa ao bolsonarismo, por Flavio Lucio Vieira

Mesmo diante do ineditismo destrutivo e abrangente da enchente, a extrema-direita bolsonarista se recusa a…

7 horas ago

Copom: corte menor não surpreende mercado, mas indústria critica

Banco Central reduziu ritmo de corte dos juros em 0,25 ponto percentual; confira repercussão entre…

7 horas ago

Israel ordena que residentes do centro de Rafah evacuem; ataque se aproxima

Milhares de pessoas enfrentam deslocamento enquanto instruções militares sugerem um provável ataque ao centro da…

8 horas ago

Governo pede ajuda das plataformas de redes sociais para conter as fake news

As plataformas receberam a minuta de um protocolo de intenções com sugestões para aprimoramento dos…

8 horas ago

As invisíveis (3), por Walnice Nogueira Galvão

Menino escreve sobre menino e menina sobre menina? O mundo dos homens só pode ser…

11 horas ago