Para estudiosos do jornalismo, houve exagero nos investimentos e “circo” na cobertura do resgate
Artigos comparam caso a um “reality show” e questionam se atuação não foi pautada apenas pela busca de audiência
GABRIELA LONGMAN
DE SÃO PAULO
A presença de mais de 1.300 jornalistas para a cobertura, passo a passo, minuto a minuto, do resgate dos mineiros no Chile gerou ampla repercussão nos centros internacionais de mídia.
Artigos em fóruns de mídia independentes e sites de universidades ao redor do mundo questionavam a cobertura exagerada de um evento de relevância discutível.
“Mandar seis fulanos da Reuters não teria sido suficiente?”, perguntava um usuário numa discussão acalorada no Twitter.
A mesma pergunta estava, sob outra forma, na frase do professor da Universidade de Nova York Jay Rosen. “É uma boa história, mas [a presença de] 1.300 jornalistas corresponde à realidade?”
A “realidade” é a do investimento maciço de recursos numa cobertura pontual, numa época marcada pela verba cada vez mais enxuta para grandes coberturas internacionais e correspondentes estrangeiros.
Artigos publicados no “Guardian” e no “New York Times” da semana passada relatavam o impacto da cobertura do resgate dos mineiros sobre o orçamento da rede britânica BBC.
Segundo um relatório da empresa, a operação custou mais de 100 mil libras, que não estavam previstas no orçamento original do período.
A consequência? A redução de outras operações de cobertura -o encontro climático, em Cancún (México), em novembro, e a próxima reunião do G20.
O exagero na cobertura em San José também mobilizou o professor da Universidade Lehigh (EUA) Jeremy Littau.
“Essa história me deprime”, escreveu em seu blog, mencionando a ” insanidade das escolhas midiáticas atuais, preocupadas apenas com a audiência”.
Ele lembrou ainda que o terremoto no Chile, há poucos meses, esteve longe de atrair tamanho interesse.
“Mil e trezentos jornalistas! Imagina o que poderíamos fazer com isso? Por que cada canal de TV precisa ter sua própria câmera e seu próprio repórter na era do satélite? O que vejo é uma indústria desperdiçando recursos financeiros e humanos.”
Na Itália, o jornalista e professor da Universidade de Macerata Gennaro Carotenuto comparou o resgate a um reality show -feito pela e para a mídia.
Para ele, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, programou a libertação dos mineiros “de acordo com os horários de máxima audiência televisiva”.
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