O marketing da Folha no pós-golpe, por Paulo Nogueira

Enviado por Gilson AS

Do Diário do Centro do Mundo

Por que a Folha parece estar desconstruindo o golpe que ajudou a dar?

Por Paulo Nogueira

Muitas pessoas estão perguntando: por que a Folha está desconstruindo o golpe que ajudou tanto a dar?

A resposta cabe numa palavra: marketing.

Para a Folha, interessou, até o afastamento de Dilma, derrubá-la. Nunca o jornal publicou um só editorial, por exemplo, para criticar o descarado partidarismo de Gilmar Mendes.

Nunca, também, o jornal moderou sua escandalosa cobertura da Lava Jato. Quantas vezes você viu o pedalinho na manchete?

Numa conversa gravada, Renan disse ter ouvido de Otávio Frias Filho a admissão de que seu jornal estava exagerando na Lava Jato. Mas um momento: se o dono achasse isso mesmo bastaria uma conversa com os editores para que o problema fosse desfeito.

Sobre que assuntos ele despachava com seus jornalistas para não tocar nesse tema de importância tão dramática para o país e, também, para a imagem de seu jornal? Meteorologia? Astrologia? Futebol? Novela?

Claramente ele aprovava o espaço desmedido dado à Lava Jato porque queria, como seus pares, desestabilizar Dilma.

Mas, uma vez feito o serviço, a vida tem que continuar para a Folha. O que fazer para retirar dela a fama de golpista, direitista, desonesta?

O primeiro passo, e fundamental, era mostrar ao público que ela, como dizia sua propaganda, não tem rabo preso com ninguém.

É a hora de publicar coisas que ela jamais quis publicar durante o tormento imposto a Dilma.

Se a Folha sabe fazer jornalismo, é uma questão para a qual cada um tem sua resposta. Pessoalmente, acho que não.

Mas que é excelente em marketing, isso é indiscutível.

Os Frias sabiam que o Globo imediatamente se converteria numa máquina de conteúdo chapa branca assim que Dilma fosse retirada.

A Globo voltaria imediatamente a ser o que foi na ditadura e depois em sucessivos governos até a chegada de Lula ao poder. A corrupção sumiria do noticiário. Os problemas econômicos também. Temer seria apoiado tão radicalmente quanto Dilma foi massacrada.

Crises econômicas, na Globo, agora derivam de fatores externos. A Bolsa cai e o dólar sobe já não são mais consequências do governo. São coisas que vêm de fora.

Os Frias sabiam também o que esperar da Veja: nada. A capa desta semana, por exemplo, quando gravações de conversas quase enxotaram o governo interino, foi a pílula do câncer.

O terreno estava livre para, mais uma vez, a Folha se afirmar como o ” jornal combativo, pluralista, isento, o único que dá qualquer coisa doa a quem doer”.

Tudo isso de mentirinha, mas o que é marketing senão a mentirinha em forma de frases de efeito?

Para usar o jargão publicitário, a Folha se reposicionou prontamente. As demais empresas jornalísticas, ao aderir a Temer sem escalas e sem ressalvas, a ajudaram um bocado.

De certa forma, é um retorno a uma situação antiga. No fim da ditadura, enquanto a Globo defendia os generais que a patrocinavam e o então grande Estadão publicava receitas como forma oca de protesto, a Folha começou a pregar as diretas já.

Virou, com isso, o maior jornal do Brasil.

A opinião pública mais esclarecida carregava sob os braços exemplares da Folha. Universitários eram vistos todos os dias com sua Folha nas mãos.

Tudo isso se tornou pó quando a Folha se juntou às demais companhias de jornalismo para derrubar um governo progressista.

O jornal hoje é desprezado pelo mesmo público que o louvou no passado. O mesmo processo que pegou antes a Veja — a rejeição terminante pelos leitores mais esclarecidos — acabou depois por alcançar a Folha.

Agora é hora de tentar refazer a imagem do jornal.

É possível? Pessoalmente, creio que a melhor resposta foi dada, num artigo recente, pelo ex-ombudsman da Folha Mário Vítor Santos.

Ele notou que, assim como a Nova República se encerra com o golpe, o jornalismo tal como o conhecemos por muitos anos se degradou irremediavelmente quando as empresas passaram a fazer propaganda anti-PT.

Os leitores terão que ser muito ingênuos para acreditar nos bons propósitos desta nova velha Folha.

Credibilidade, como a virgindade, uma vez perdida, para sempre perdida.

Evoco uma frase de Wellington para fechar o artigo: quem acredita nos Frias acredita em tudo.

Redação

Redação

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  • A história mostra

    Collor foi mandado embora pelo PIG não para enaltecer o Itamar, mas para criar condições para as próximas eleições. Colocaram FHC como "delfim", com o "prano" real embaixo de braço, para chegar como herói em 1994.

    No caso atual, a FdeSP não deseja o sucesso do Temer, necessariamente, mas sim a preparação do delfim tucano que seguirá em 2018, provavelmente Serra. Por isso este brigou tanto pela fazenda, mas, tentará fazer a glória entregando o Brazil para os EUA.

    Do jeito que as coisas vão, está saindo o tiro pela culatra, crescendo a esquerda e a intenção de voto em Lula ou alguém por ele apoiado. Por isso a FdSP precisa marcar posição rápida.

  • Já era, são mortos-vivos,

    Já era, são mortos-vivos, ninguem le jornal mais, nem para procurar emprego, a internet chegou para democratizar a midia nacional, vendida, quadrilheira e corrupta; o que se ve é mais uma vez a construção desse mundo parelelo que só existe no discurso de jornalistas-lavadores-debunda-de- estadunidenses; a lenga lenga de que não têm rabo preso é bem anos 80, e já está mais que provado ser falso; acostumem-se e alinhem-se aos novos tempos, senão, irão para a cova mais rápido.

  • Folha e PT

    Podem apostar, grande parte dos integrantes do PT, principalmente do PT de São Paulo, vão correr de braços abertos em direção a este panfleto político golpista, loucos para conceder entrevistas e bajular a Folha. Dúvidas? Lembra a postura do traíra Mercadante quando o Otávio (pai) foi acusado de ser colaborador da Ditadrua Civll-Militar?

  • NUNCA MAIS

    Folha, estadao, globo, as três porquinhas semanais não leio  ou vejo nem de graça!

    Meu tempo é caro e gosto de gasta-lo com qualidade!

     

  • Finalmente , depois de
    Finalmente , depois de infinitos comentarios, artigos, opiniões, criticas, etc.etc analisando a linha editorial da Folha alguém descobriu o ovo de Colombo: Marketing. Tao óbvio. O jornal precisa vender cara pálidas!

  • Alguns analistas sérios acham

    Alguns analistas sérios acham que essas denuncias que parecem republicanas, servem na verdade com uma preparação, como um colchão para amortecer o choque quando o Lula for preso.

    Isso acontecerá após o impeachment da Dilma passar no Senado.

    Será ? Se for verdade só o tempo dirá.

  • A Falha de carater esta

    A Falha de carater esta tentando correr atrás do prejuiso. Ja tentou trazer varios intelectuais de esquerda para serem colunistas depois do golpe. 

    Claro, assim como a Gleba Grilada, estão pondo panos quentes nos ematomas que fizeram.

     Merece o esquecimeto no meio desse lixo que chamam de jornalismo.

    Viva os blogs, o futuro.

    Chega desses velhacos midiaticos do PIG, que fiquem com seu publico de gente burra.

  • Paulo Nogueira (é paulista?)

    Paulo Nogueira (é paulista?) não lembrou do principal. A folha quer um do psdb e se for paulista melhor ainda. Não basta ser paulista. Tem que ser do PSDB. E ponto.

  • A Folha não se alinhou

    A Folha não se alinhou automaticamente ao governo Temer pelo simples fato de ser tucana.

    Vai preparar o terreno para José Serra ou Alckmin, aposto no Alckmin.

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